quarta-feira, 14 de maio de 2008

Desertos de Eucaliptos

 

     Excelente série de reportagens do Correio Braziliense revela ao Brasil tudo aquilo que a blogosfera gaúcha há um bom tempo já havia descoberto, mas que continua sendo completamente ignorado pela Zero Hora:

 

(i) que as papeleiras que atualmente expandem seus negócios no estado "destinaram R$ 2 milhões a candidatos em 2006, dos quais R$ 500 mil foram para a campanha de Yeda Crusius",

 

(ii) que uma empresa estrangeira, especificamente a sueco-finlandesa Stora Enso, "estaria comprando terras na faixa de fronteira do Brasil" por intermédio de uma empresa-laranja, o que é ilegal, e isso tanto para a Polícia Federal quanto para a Procuradoria da República,

 

(iii) que, a fim de regularizar a situação de tais aquisições, "a regulamentação da faixa de fronteira deverá ser mudada por uma emenda constitucional", emenda essa (PEC 49/2006) de autoria do senador Sérgio Zambiasi (PTB), que afirma ter apresentado a referida proposta "porque a legislação está obsoleta e compromete o desenvolvimento da região", e que, finalmente,

 

(iv) uma série de ações, encampadas desde o início do novo jeito de governar - entre elas a nomeação, para chefias de órgãos ambientais estaduais, em substituição ao pessoal técnico capacitado, de pessoas de confiança da governadora Yeda Crusius, que através da concessão de "autorização provisórias" para a atividade de silvicultura atropelaram os estudos necessários à concessão de licenças ambientais definitivas, bem como a transferência, para uma secretaria de estado politicamente domesticada, de atribuições antes exclusivamente técnicas -, culminaram com a vergonhosa alteração da proposta original de Zoneamento Ambiental para a Atividade de Silvicultura no RS organizada pelos técnicos da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), tudo isso a fim de acomodar os interesses das papeleiras.

     O jornal do Grupo RBS, entretanto, mesmo com todos esses fatos ululando a suas portas, prefere continuar apostando nas teses de seus patrocinadores - as papeleiras e o novo jeito de governar -, segundo as quais (i) é a metade sul do RS ambientalmente apropriada para a atividade de silvicultura em nosso estado, e (ii) são as papeleiras o tipo de investimento mais adequado para, se não resolver, ao menos apaziguar os problemas econômicos da região, berço do latifúndio baseado na monocultura e na pecuária extensiva, altamente concentradores de renda.

     La Vieja apresentou argumentos contra essa segunda tese, ferrenhamente abraçada pela Zero Hora, quando afirmou, em contraponto à ufanista reportagem veiculada pelo referido jornal, ser "inevitável que cidades que recebam investimentos prioritários de papeleiras, bem como indústrias ligadas ao setor, tenham relativos incrementos em sua economia", ressalvando que o porta-voz oficial das papeleiras, em nenhum momento de sua intransigente defesa desses investimentos, fez questão tanto de abordar "o problema da manutenção do modelo produtivo da região, baseado no latifúndio e na monocultura, responsável pelo pífio impacto econômico no total da riqueza produzida no estado (...), o que mantém a concentração de renda", quanto de "oferecer esclarecimento sobre o modelo de mão-de-obra a ser incrementado por tais investimentos, aparentemente em tudo semelhante ao atualmente existente", algo que também em nada alteraria a distribuição de renda na metade sul.

     Hoje, La Vieja irá demonstrar que a primeira tese acima referida também é falsa e que ZH utiliza determinados estudos da Fepam, enquanto ignora outros, a fim de corroborá-la.

     ZH tem apresentado, em todas suas reportagens posteriores ao triunfo dos interesses das papeleiras no RS, uma série de gráficos, supostamente amparados nas recentes alterações introduzidas na proposta original de zoneamento ambiental apresentada pela Fepam, em estudos de impacto ambiental e em informações da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), que comprovariam a tese de que a metade sul do estado é ambientalmente adequada para a atividade de silvicultura.

     Tais gráficos, essencialmente, apresentam os limites à atividade de silvicultura no RS supostamente tomando como referência (i) as recentes alterações na proposta original de zoneamento e (ii) os "níveis de risco" ambientais oferecidos por essa atividade a partir de um estudo que classifica os solos do estado quanto às suas resistências a impactos ambientais.

     Posto isso, passemos aos gráficos.

     O primeiro deles, que apareceu em edição impressa de ZH, apresentou o novo perfil ambiental do RS supostamente a partir das recentes alterações na proposta original de zoneamento para a atividade de silvicultura elaborada pela Fepam, alterações essas que, nunca é demais frisar, como denunciado por ambientalistas, foram introduzidas à toque de caixa pelo novo jeito de governar a fim de se obter não o perfil ambiental adequado à preservação da fauna e da flora do Bioma Pampa, mas sim o mais adequado aos interesses dos financiadores de sua campanha. La Vieja tratou dessa denúncia ao escrever sobre o triunfo dos interesses das papeleiras no RS, acusação essa que revelou manobras políticas sórdidas, atropelos à legislação e arbitrariedades do governo Yeda Crusius.

     Conforme ZH, segundo as alterações recentemente introduzidas na proposta original de zoneamento - que extinguiram os percentuais máximos que, de acordo com a proposta original, limitavam o plantio de exóticas em uma determinada área, o que, conforme ambientalistas, é uma porta aberta para o florestamento industrial em grandes extensões, o que seria prejudicial à fauna e à flora do Pampa por alterar as características do ecossistema -, os limites à atividade de silvicultura no RS ficaram distribuídos por áreas.

     Em vermelho e identificado como "alta" - sem que, no entanto, se diga a que tal termo se refere - estão as áreas menos recomendadas para o plantio. Donde, pelo menos em tese, a necessidade de imposição de limites mais rigorosos à atividade de silvicultura nessas regiões. Em amarelo, identificado como "média", por sua vez, estão as áreas intermediárias, que provavelmente impõem limites medianos à tal atividade. Por fim, em verde e identificado como "baixa" - mais uma vez sem que se diga a que tal termo se refere - estão as áreas mais recomendadas para o plantio, que parecem exigir limites menos rigorosos à atividade de silvicultura. Eis o confuso gráfico:

 
     Depois, ZH passou a apresentar, em seu sítio, todas as vezes em que produziu reportagens acerca dos interesses das papeleiras ou dos interesses ambientalistas, uma série de cinco gráficos: três supostamente baseados em estudo técnico de 2005 intitulado "classificação dos solos do Estado quanto à resistência a impactos ambientais" e um em informações da Ageflor. Nenhuma notícia é dada, entretanto, em relação aos três primeiros, acerca da fonte de tais informações gráficas e nem acerca da paternidade do referido estudo de classificação.
     O primeiro dessa série de cinco gráficos é uma apresentação geral dos quatro posteriores acima referidos. Nele podemos ver, na barra superior direita, (i) em "restrições", a indicação das áreas onde há restrições ao plantio florestal no RS de acordo com os níveis de risco ambientais "alto", "médio" e "baixo" determinados pelo estudo da classificação dos solos quanto à resistência a impactos ambientais, (ii) e em "áreas existentes", a indicação das áreas onde já há plantio de exóticas, segundo informações da Ageflor:
 
 
     Na aba "restrições", na referida barra superior direita, cliques sobre os botões "alto", em vermelho, "médio", em verde, e "baixo", em cor de laranja, nos levam aos três gráficos baseados no referido estudo técnico. Convém ter em mente, a partir de agora, que a "classificação dos solos do Estado quanto à resistência a impactos ambientais", tal como apresentada por ZH, apresenta três "níveis de risco": o "alto", o "médio" e o "baixo". A um alto nível de risco parece corresponder - já que ZH não oferece nenhum apoio para que os dados de seus gráficos sejam interpretados - baixa resistência do solo a impactos ambientais, enquanto a um baixo nível de risco, por sua vez, parece corresponder uma alta resistência do solo a tais impactos. Parece tratar-se de uma relação inversamente proporcional: quanto maior o "nível de risco", menor a resistência do solo a impactos ambientais, e quanto menor aquele nível, maior essa resistência. Ao primeiro caso - alto nível de risco em função de uma menor resistência do solo a impactos ambientais - parecem corresponder mais restrições à atividade de silvicultura, e ao segundo - baixo nível de risco em função de uma maior resistência do solo a impactos ambientais - parecem corresponder menos restrições à tal atividade.
     O primeiro desses três gráficos, que corresponde ao botão "alto", em vermelho, revela que a atividade de silvicultura nessas áreas representa alto nível de risco ambiental em função da baixa resistência do solo a impactos ambientais. Por conseguinte, há, ou ao menos deveria haver, alta restrição à silvicultura nessas regiões:
 
 
     O segundo deles, que corresponde ao botão "médio", em verde, revela que a atividade de silvicultura nessas áreas representa nível médio de risco ambiental em função da média resistência do solo a impactos ambientais. Por conseguinte, há, ou ao menos deveria haver, média restrição à silvicultura nessas regiões:
 
 
     O terceiro deles, finalmente, que corresponde ao botão "baixo", em cor de laranja, revela que a atividade de silvicultura nessas áreas representa baixo nível de risco ambiental em função da alta resistência do solo a impactos ambientais. Por conseguinte, há, ou ao menos deveria haver, baixa restrição à silvicultura nessas regiões:
 
 
     Finalmente, ainda na barra superior direita, um clique sobre "áreas existentes" nos leva ao quinto dessa referida série de cinco gráficos, supostamente elaborado a partir das informações da Ageflor sobre as áreas onde atualmente há plantio de exóticas no RS:
 
 
     Recentemente, a essa série de cinco gráficos acresceu ZH um sexto, também tomando como fonte a Ageflor. Nele estão listadas as cidades gaúchas da metade sul do RS onde há previsão de plantio de eucaliptos. Em função do acréscimo desse sexto gráfico, a barra superior direita daquela anterior série de cinco passou a ter uma nova configuração. Ao lado das abas "restrições" e "áreas existentes" há agora a aba "previsão de plantio", o que deixou a série gráfica de ZH com a seguinte configuração:
 
 
     La Vieja pede agora que seus leitores descartem, momentaneamente, os gráficos apresentados por ZH montados a partir de informações da Ageflor, que são os dois últimos acima. Na série gráfica de ZH eles estão nas abas "previsão de plantio" e "áreas existentes" da barra superior direita, lembrando. Como por ora eles não nos interessam, vamos nos deter sobre os três gráficos baseados no estudo técnico "classificação dos solos do Estado quanto à resistência a impactos ambientais", que na referida série gráfica estão na aba "restrições".
     De onde ZH tirou tais gráficos?
     ZH não diz, mas os retirou da proposta original de Zoneamento Ambiental para a Atividade de Silvicultura no RS elaborada pela Fepam em três volumes: "Estrutura, Metodologia e Bases Técnicas", "Unidade de Paisagem Natural - Restrições e Potencialidade" e "Bases dos Estudos de Fauna, Flora e Recursos Hídricos". O referido gráfico está na página 22 do volume Estrutura, Metodologia e Bases Técnicas, mas La Vieja, que é bem legal, o reproduz abaixo de grátis:
 
 
     Quer dizer, então, que ZH não consultou o estudo "classificação dos solos do Estado quanto à resistência a impactos ambientais", citado sempre nas legendas desses três gráficos, a fim de elaborá-los?
     Não, não consultou. Simplesmente copiou o gráfico acima, intitulado "Mapeamento dos solos quanto a restrições para a atividade de silvicultura - RS", presente na proposta original de zoneamento ambiental apresentada pela Fepam, e mudou os títulos na legenda. Substituiu "alta restrição" à atividade de silvicultura por "alto nível de risco", "média restrição" por "médio nível de risco" e "baixa restrição" por "baixo nível de risco", tudo isso sem citar a proposta de zoneamento da Fepam como fonte de seus estudos gráficos e transmitindo a impressão que consultava um estudo de classificação dos solos gaúchos quanto às suas resistências a impactos ambientais.
     Porém, como La Vieja pode afirmar que ZH não consultou diretamente, a fim de montar seus gráficos, o estudo "Classificação dos solos do Estado quanto à resistência a impactos ambientais", de 2005, uma vez que tal estudo é citado inclusive na legenda do gráfico acima, apresentado na proposta original de zoneamento ambiental elaborada pela Fepam, que La Vieja afirmou ter sido copiado por ZH?
     Por uma razão muito simples. Por duas, aliás.
     A primeira delas é que não há, pelo menos no sítio da Fepam, nenhum estudo datado de 2005 intitulado "Classificação dos solos do Estado quanto à resistência a impactos ambientais". Essa também não deixa de ser, aliás, uma boa pergunta a ser respondida pela fundação, que cita em sua proposta de zoneamento um estudo que aparentemente não existe.
     O único estudo que há, no sítio da Fepam, intitulado "Classificação dos solos do Estado quanto à resistência a impactos ambientais", é de 2001, e não de 2005, e foi realizado "por meio da consultoria do Prof. Dr. Nestor Kämpf, contratada pela FEPAM, em 2001, através da FAURGS/UFRGS". Seu relatório final, datado de novembro de 2001, apresenta o "Mapa de Classificação dos solos do Estado do Rio Grande do Sul quanto à resistência a impactos ambientais". La Vieja acredita que ele seja o único que exista porque um outro estudo da Fepam, datado de dezembro de 2005 e intitulado "Licenciamento ambiental de novos empreendimento destinados à bovinocultura", o tomou como Documento de Referência, fato que pode ser comprovado já na primeira página desse referido estudo de licenciamento. Caso em 2005 houvesse sido produzido um outro estudo de "Classificação dos solos do Estado quanto à resistência a impactos ambientais", La Vieja acredita que, em função de sua atualidade em relação ao seu antecessor, ele é que deveria ter sido incluído entre os Documentos de Referência do estudo de licenciamento acima referido, e não o de 2001. Porém, não o foi. Logo, é provável que não exista nenhum estudo intitulado "Classificação dos solos do Estado quanto à resistência a impactos ambientais" datado de 2005.
     A segunda delas é que, se tal estudo de 2001 houvesse sido consultado por ZH, e aparentemente até pela Fepam, o jornaleco da Azenha descobriria que não são três, mas sim quatro as "classes de resistência" dos solos gaúchos aos "impactos ambientais": "alta", "média", "baixa" e "muito baixa", como podemos comprovar abaixo:
 

 
     Assim, se ZH tivesse consultado tal estudo, ao invés de, em suas séries gráficas, falar de "alto", "médio" e "baixo" nível de risco a partir de uma genérica e nunca explicitada "Classificação dos solos do Estado quanto à resistência a impactos ambientais", necessariamente seria obrigada a revelar que as atividades de silvicultura no RS representam "muito alto", "alto", "médio" e "baixo" níveis de risco ambiental em função, respectivamente, das "muito baixa", "baixa", "média" e "alta" classes de resistência do solo a impactos ambientais. Por conseguinte, ao menos deveria haver, além das "alta", "média" e "baixa" restrições à atividade de silvicultura, uma "muito alta" restrição à tal atividade em determinada região gaúcha, uma vez que há, no estado, ao menos uma região - e segundo o gráfico acima ela não é nem um pouco desprezível - com "muito baixa" resistência a impactos ambientais.
     A região do estado classificada como de "muita baixa" resistência a impactos ambientais pelo estudo de classificação dos solos gaúchos de 2001, no entanto, é uma ausência ilustre tanto na proposta de zoneamento ambiental da Fepam quanto nos três gráficos de ZH que supostamente tomam como referência essa classificação. Não há, no gráfico apresentado na proposta de zoneamento da Fepam, nenhuma área do RS que apresente uma "muito alta" restrição à atividade de silvicultura, e, de modo semelhante, não há, na série gráfica apresentada por ZH, nenhuma área no estado na qual tal atividade represente um "muito alto" nível de risco ambiental, não obstante a "Classificação dos solos do Estado quanto à resistência a impactos ambientais", de 2001, seja clara ao classificar determinadas áreas do estado como de "muito baixa" resistência a impactos ambientais.
     Por quê?
     La Vieja, antes de apresentar sua conclusão, gostaria que duas perguntas fossem respondidas:
 
i) Por que a Fepam, em sua proposta original de zoneamento ambiental, ao apresentar seu gráfico "Mapeamento dos solos quanto a restrições para a atividade de silvicultura - RS", afirmou que sua fonte foi uma "Classificação dos solos do Estado quanto à resistência a impactos ambientais" datada de 2005, se não há nenhum estudo assim intitulado e dessa data em seu sítio, mas só um estudo de 2001? Trata-se de um simples erro de digitação? Se sim, então por que o gráfico que aparece em tal proposta de zoneamento não tomou como base o gráfico originalmente existente no estudo de 2001, que apresenta não três, mas sim quatro classes de resistência do solo a impactos ambientais, o que implicaria não três, mas sim quatro níveis de restrição à atividade de silvicultura no RS? Trata-se de uma questão técnica? Se sim, então quais são as razões para, aparentemente, duas classes de resistência do solo a impactos ambientais terem sido unificadas, ou uma delas ter sido excluída, e justo a de "muito baixa" resistência, exatamente aquela que apresentaria maiores restrições à atividade de silvicultura?
 
ii) Por que ZH, em nenhum momento, afirma que montou sua série de gráficos a partir do gráfico presente na proposta original de zoneamento ambiental apresentada pela Fepam, transmitindo a falsa idéia de que consultava uma "Classificação dos solos do Estado quanto à resistência a impactos ambientais" datada de 2005, um estudo que, na verdade, parece sequer existir? E por que ZH não checou sua fonte?
 
     A conclusão que La Vieja quer aqui apresentar, inicialmente em tom de interrogação, toma como base o estudo de "Classificação dos solos do Estado quanto à resistência a impactos ambientais", datado de 2001. Embora esse estudo, preliminar e genérico, não substitua "a exigência de uma verificação e avaliação da resistência do solo ao impacto de projetos específicos em cada local, segundo critérios apropriados", levou em consideração os fatores de solo profundidade, textura, presença de gradiente textural, drenagem natural, presença de lençol freático e presença de lençol suspenso, e os fatores do terreno risco de inundação, erodibilidade, relevo, declividade e aptidão agrícola, e isso a fim de "subsidiar o planejamento das atividades modificadoras dos solos bem como fornecer diretrizes técnicas para a gestão" de seus usos, "principalmente no que diz respeito ao instrumento de licenciamento ambiental (...)". Esses dados, que indicam a presença de áreas com "muito baixa" resistência a impactos ambientais, cruzados com aqueles constantes no volume "Estrutura, Metodologia e Bases Técnicas" da proposta de Zoneamento Ambiental para a Atividade de Silvicultura no RS, que levou em consideração nossas áreas legalmente protegidas, nossas áreas importantes para a biodiversidade, as espécies da fauna endêmicas e criticamente ameaçadas de extinção, as espécies de angiospermas endêmicas e criticamente ameaçadas de extinção, a deficiência hídrica no solo nos meses de verão, a disponibilidade hídrica superficial, a vulnerabilidade dos aqüíferos, os sítios arqueológicos e paleontológicos e as terras indígenas e quilombos, deveriam no mínimo ter sido suficientes para que um governo ambientalmente responsável e comprometido com o futuro ambiental de sua gente, ao menos em tom de alerta, tomasse inúmeros cuidados com os projetos de desenvolvimento que avaliza para a metade sul do RS.
     La Vieja quer saber, então, por que a mídia gaúcha, o novo jeito de governar e as papeleiras afirmam que a metade sul do RS é adequada à atividade de silvicultura se é exatamente nessa porção do estado que está concentrada a maioria dos solos classificados como de "muito baixa" e "baixa" resistência a impactos ambientais, o que necessariamente implica, exatamente de encontro à tese por eles abraçada, em mais altos níveis de risco ambiental e em maiores restrições à atividade de silvicultura. No entanto, mesmo diante desses fatos, surpreendentemente, só há previsão de plantio de eucaliptos na metade sul do estado, como mostra logo acima o gráfico de ZH baseado em informações da Ageflor.
     La Vieja também quer saber por que a mídia gaúcha, o novo jeito de governar e as papeleiras não concentraram suas investidas sobre a metade norte do estado, já que é lá que encontramos a maioria dos solos classificados como de "média" e "alta" resistência a impactos ambientais, o que necessariamente implica, exatamente ao encontro da tese por eles abraçada, em mais baixos níveis de risco ambiental e em menores restrições à atividade de silvicultura. Talvez porque produtores rurais da metade norte do estado jamais trocariam a certeza da produtividade e da remuneração no curto e médio prazo advindas do cultivo diversificado de grãos pela possibilidade de produtividade e remuneração a longo prazo prometida pelas papeleiras. A latifundiários da metade sul que, além da pecuária extensiva e da monocultura, praticam a especulação imobiliária, porém, tais promessas parecem interessar, e a qualquer custo.
     Enquanto os parceiros acima elencados não esclarecerem essas dúvidas, a tese de que é a metade sul do RS adequada à atividade de silvicultura não passará de balela a fim de esconder os reais interesses que motivaram essa incursão predatória e oficialmente consentida sobre essa porção de nosso território. Tecnicamente falando, como La Vieja tentou demonstrar - e almofadinhas com MBA adoram tudo o que é feito tecnicamente - absolutamente nada a justifica.
     Portanto, além de ser falsa a tese de que são as papeleiras o tipo de investimento mais adequado para, se não resolver, ao menos apaziguar os problemas econômicos da metade sul do RS, berço do latifúndio baseado na monocultura e na pecuária extensiva, altamente concentradores de renda, também é falsa a tese de que é essa metade sul ambientalmente apropriada para a atividade de silvicultura.
 
Postado por Wilson Junior Weschenfelder
 

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