sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Destruição ambiental ameaça crescimento

As iniciativas dos países desenvolvidos continuam a ser muito importantes, mas o papel dos grandes países emergentes está crescendo
 
     O rápido crescimento da economia mundial na última década só poderá continuar se a destruição ambiental e as mudanças climáticas forem revertidas. As iniciativas necessárias dos países desenvolvidos continuam a ser muito importantes, mas o papel dos grandes países emergentes, como a China e o Brasil, está crescendo.
     Os países desenvolvidos são os maiores responsáveis pelos elevados níveis de emissão de gases de efeito estufa por pessoa e deveriam, por isso, responder pela maior parte das ações para conservar a energia e proteger o meio ambiente.
     No entanto, os países de renda média já respondem pela metade de todas as emissões no mundo e, seguindo seus próprios interesses nacionais, não querem repetir os erros dos países ricos em seu processo de desenvolvimento.
     O recente crescimento dos países de renda média foi excepcional. Essas 90 nações aumentaram em 4% ao ano a sua renda per capita na última década, duas vezes mais rápido que os países de renda alta, e contribuem com mais de um terço da produção mundial -índice que está em ascensão. Estimulados pela globalização, esses países mais que duplicaram seu volume de negócios e, por meio de políticas de abertura comercial, ajudaram outros a obter ganhos.
     Destes, 50 têm agora acesso aos mercados de capital globais, o dobro de dez anos atrás, e 20 são emissores de títulos com grau de investimento. Com dois quintos das reservas externas internacionais, essas nações impulsionaram os fluxos de capital, inclusive para países de baixa renda.
     Contudo, para manter o seu desempenho, esses países precisam priorizar a conservação do meio ambiente.
     Eles abrigam 60% das reservas de água doce do mundo, 60% das florestas, a maior parte dos recifes de coral e uma valiosa biodiversidade em sua fauna e flora, mas enfrentam uma imensa degradação do ar, das florestas, do solo, da água e dos recursos marinhos que prejudica tanto a economia interna quanto a mundial.
    Na China, na Índia e em outros países, a poluição do ar e da água está afetando gravemente a saúde e a produtividade da população. A degradação do solo e o desmatamento no Brasil, na Indonésia e em todas as regiões do mundo estão contribuindo para o grande aumento de enchentes e furacões, com alto custo para a sociedade.
     Na bacia amazônica, a transformação da floresta em áreas agrícolas e de pastagem pode provocar o aumento da temperatura, prejudicando a agricultura e as pessoas.
     Além disso, a globalização agiliza a propagação desses danos. A crescente demanda por alimentos, fibras e madeira esgotam a pesca, os campos e as florestas, contribuindo para a perda irreversível da biodiversidade global.
     O crescimento impulsionado por uma indústria que consome muita energia, pela concentração urbana e pelo desmatamento aumentou o volume de gás carbônico na atmosfera.
     As mudanças climáticas podem erodir o litoral, provocando secas e enchentes nos países ricos e pobres. O número de desastres naturais -e de vítimas- quadruplicou nos últimos 30 anos. Os danos têm crescido, sendo mais pesados para os pobres, que vivem em geral nas regiões afetadas. As perdas no PIB, resultantes dessas calamidades, extrapolam o custo de sua prevenção.
     Uma ação coletiva pode trazer muitos benefícios. China, Índia, Brasil, Rússia, México, Indonésia e África do Sul -sete entre as 20 maiores economias- podem estabelecer uma agenda comum para o meio ambiente e enfrentar uma parte considerável do problema, mantendo restrito o número de países envolvidos.
    Agências multilaterais, como as Nações Unidas e o Banco Mundial, certamente prestarão assistência a essas iniciativas. Um caminho é evitar o desmatamento.
     O corte de florestas é responsável por um quinto das emissões, ou seja, volume maior que o gerado por todos os meios de transporte. Ao protegerem suas florestas, países como Brasil, Camarões e Indonésia reduzirão as emissões de carbono na atmosfera, possibilitando a criação de novos mercados de permissões de emissão comercializáveis, que os compensarão por promover a conservação.
     A rapidez com que o meio ambiente for priorizado determinará as tendências de crescimento local e global.
     Os países de renda alta precisam assumir a responsabilidade pela grande parte que lhes cabe, mas os países de renda média, que se beneficiam da globalização, também têm um papel a desempenhar, em prol de seus interesses nacionais.
Fonte: Vinod Thomas - Artigo publicado na Folha de SP - Jornal da Ciência

 

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terça-feira, 18 de setembro de 2007

Especialista cobra avanço contra buraco na camada de ozônio

      Um dos cientistas responsáveis pela descoberta do buraco na camada de ozônio afirmou nesta segunda-feira que é preciso avançar mais rapidamente na proteção da película na estratosfera que protege a Terra contra raios ultravioletas danosos.
Buraco na camada de ozônio
Joe Farman é um dos descobridores do buraco na camada de ozônio
 
     Em um artigo para a BBC, Joe Farman fez um apelo por mais rapidez no processo de acabar com a fabricação de produtos químicos que destroem a camada de ozônio, além da destruição dos estoques já existentes.
     Nesta semana, completam-se 20 anos desde a aprovação do Protocolo de Montreal, que impôs restrições ao uso dessas substâncias, depois das descobertas de Farman e outros cientistas na década de 70.
     Os 191 signatários do protocolo se reúnem nesta semana em Montreal, no Canadá, para discutir os avanços conquistados desde 1987 e a antecipação do fim do uso dos HCFCs (hidroclorofluorcarbonos), os principais substitutos dos CFCs.
 
     Críticas
     Muitos desses representantes concordam com as críticas de Farman sobre os acordos que autorizam países em desenvolvimento a continuar a utilizar os HCFCs até 2040.
     "Revisões freqüentes socorreram o Protocolo de Montreal das suas deficiências originais, mas outro reexame é visivelmente necessário", escreveu o cientista no site da BBC.
     O governo brasileiro vai apresentar junto com a Argentina uma proposta para acelerar a redução do consumo de HCFCs.
     De acordo com o programa de meio ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1995, o Brasil era o quinto maior consumidor de CFCs no mundo, com 10,9 mil toneladas por ano.
     Hoje, o país é o quinto entre os que mais reduziram o uso das substâncias, atrás de China, Estados Unidos, Japão e Rússia.
     Em 2002, o governo brasileiro aprovou o Plano Nacional para a Eliminação dos CFCs (PNE), que previa investimentos de US$ 27 milhões em projetos de eficiência energética, como o de substituição de geladeiras antigas.
 
     Em desenvolvimento
     Os países ricos praticamente eliminaram a produção de CFCs em 1995, o prazo para os países em desenvolvimento vence em 2010.
     Atualmente, essas substâncias continuam a ser usadas por corpos de bombeiros em vários países. Muitas das substâncias, usadas em refrigeração, aerosóis e combate a incêndios podem ser facilmente substituídas por produtos químicos parecidos, como os HCFCs.
     Embora eles causem menos danos à camada de ozônio, a produção dos HCFCs está crescendo rapidamente nos países em desenvolvimento.
     Pelos termos atuais do protocolo, até 2015 o uso de HCFCs nesses países deve ser congelado no máximo aos níveis atingidos até lá. A suspensão do uso dos HCFCs é prevista para 2040.
     A substância também é fortemente associada ao aquecimento global, já que comparativamente os efeitos dos HCFCs são muito mais danosos do que os do dióxido de carbono.
     "Em 2005, a destruição causada pelo HFC23 foi responsável por 64% dos valores de todos os projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (criado no Protocolo de Kyoto para viabilizar investimentos de países ricos em países pobres como alternativa a investimentos muito mais caros nos próprios países ricos) e passou para 51% em 2006", segundo Farman.
     O cientista escreve ainda que atualmente é altamente discutível se o sistema de trocas de carbono, que utiliza este tipo de HCFC, proposto nos moldes Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, realmente leva ao desenvolvimento sustentável.
     Joe Farman foi um dos três pesquisadores britânicos que relataram pela primeira vez os graves danos sofridos pela camada de ozônio sobre a Antártica – o "buraco" revelado em 1985.
 
Fonte: BBC Brasil

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Brasil propõe criação de nova agência na ONU

Em reunião internacional de ministros, Marina Silva e Celso Amorim falam numa organização "guarda-chuva" que coordene o Pnuma e os mecanismos financeiros ambientais da ONU. Definição da agenda global pós-2012, quando terminará a primeira fase de Quioto, é prioridade para as nações.
 
     RIO DE JANEIRO – Se quiserem mesmo levar a sério a luta contra o aquecimento global nos próximos anos, os governos nacionais necessitam iniciar imediatamente as discussões sobre qual caminho deverão seguir a partir do fim de 2012, quando terminará a primeira fase do Protocolo de Quioto. Essa urgência, aliada ao alarme provocado na opinião pública internacional pela divulgação dos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês), está movimentando a agenda multilateral com uma série de eventos preparatórios à 13ª Conferência das Partes da Convenção sobre Mudanças Climáticas da ONU (COP-13), que acontecerá em Bali, na Indonésia, em dezembro.
     Ator importante na discussão ambiental global, o Brasil fez sua parte ao organizar nos dias 3 e 4 de setembro, no Rio de Janeiro, uma reunião internacional de ministros para discutir desenvolvimento sustentável e governança ambiental. Autoridades de 22 países foram convidadas pelo governo brasileiro para o evento, que foi coordenado pelos ministros Marina Silva (Meio Ambiente) e Celso Amorim (Relações Internacionais). Na pauta do encontro, a busca por um modelo de governança global que consiga tirar do papel a sonhada transversalidade e possa aliar efetivamente as questões ambientais às outras esferas do desenvolvimento econômico.
     O Brasil obteve sucesso na busca pelo consenso, papel geralmente desempenhado pelo país anfitrião, ao apresentar uma proposta alternativa que talvez possa colocar um ponto final na discussão _ que já começa a ficar velha _ sobre se a ONU deve fortalecer o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) ou criar uma nova organização ambiental multilateral nos moldes da Organização Mundial de Saúde (OMS). A criação dessa organização, que se chamaria Onuma, é defendida pela União Européia, sobretudo pela França, enquanto os países em desenvolvimento preferem a primeira opção.
     Intermediária, a proposta brasileira prevê o fortalecimento do magro orçamento do Pnuma (US$ 115 milhões anuais), mas também fala na criação de uma nova agência da ONU a qual o Pnuma estaria submetido, assim como o Fundo Global para o Meio Ambiente e outros mecanismos financeiros necessários ao efetivo cumprimento dos objetivos ambientais: "Uma das formas de pensar essa nova estrutura seria concebê-la como uma organização do tipo guarda-chuva, com responsabilidades nas dimensões normativa, de cooperação e de financiamento. Uma nova organização que potencialize e coordene a ação das órgãos já existentes", disse Celso Amorim.
     A proposta do Brasil foi bem recebida pelos demais governos, e será levada novamente à discussão na abertura da Assembléia Geral da ONU, que acontecerá na última semana de setembro em Nova York, nos Estados Unidos. A ministra Marina Silva festejou "a simpatia" com que foi acolhida a tentativa brasileira de produzir uma proposta de consenso: "Não tenho dúvida de que temos uma grande contribuição a dar nessa discussão. O Brasil apresentou a idéia dessa organização, ou agência, desde que sejam preservadas as outras estruturas e, ao mesmo tempo, coordenadas as convenções e os secretariados", disse.
 
     FBOMS envia carta a ministros
     Durante a reunião do Rio de Janeiro, foi entregue às autoridades nacionais e internacionais uma carta produzida pelo Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS). No documento, as organizações do movimento socioambientalista lembram o Painel de Discussão criado no ano passado pela ONU para "avaliar as melhores formas de se trabalhar a questão ambiental de maneira transversal" e recomendam aos ministros "incrementar a autoridade do Pnuma como pilar ambiental do sistema das Nações Unidas".
     O documento do FBOMS propõe ainda "racionalizar os recursos utilizados no sistema ONU, através de unificação de secretariados, agrupamento de acordos ambientais afins, missões conjuntas e realização de conferências simultâneas de acordos e convenções que tratam de temas afins, para maior eficiência e sinergia no cumprimento de acordos multilaterais ambientais". Também foi destacada no documento "a necessidade de vincular a discussão sobre a reforma da ONU a uma discussão mais ampla que inclui a necessidade de alteração dos padrões de consumo".
 
     Mudanças climáticas
     Numa reunião organizada pela ONU e realizada em Viena, na Áustria, durante a última semana de agosto, os governantes dos países ricos e dos países ditos em desenvolvimento tentaram avançar na negociação das bases para a discussão de um acordo pós-2012 a ser travada já a partir da COP-13 em Bali. O principal entrave para isso continua sendo a recusa dos países emergentes em assumir metas obrigatórias de redução de suas emissões de gases provocadores do efeito estufa.
     Este grupo, que tem a liderança de Brasil, China e Índia, evoca o princípio das "obrigações comuns, porém diferenciadas" que norteou a criação do Protocolo de Quioto há dez anos para exigir que os países mais industrializados arquem com sua responsabilidade histórica pelo aquecimento global. Os países ricos, por sua vez, fazem crescer a pressão sobre os emergentes e afirmam que, sem um esforço conjunto materializado em metas obrigatórias de redução das emissões, será impossível deter as mudanças climáticas em curso.
    A reunião de Viena não fez avançar muito esse impasse, mas ao menos os diversos grupos de países aceitaram discutir possíveis concessões de lado a lado novamente na COP-13. Para não terminarem a rodada de discussões austríaca sem nada para mostrar, os países mais industrializados anunciaram ao final do encontro a intenção de reduzir suas emissões entre 20% e 40% até 2020. Essa decisão veio na esteira da proposta apresentada durante a reunião do G-8 em junho, quando os ricos falaram em reduzir 50% das emissões até 2050. Ambas as decisões, no entanto, não têm caráter obrigatório, o que as coloca, ao menos por enquanto, no vasto balaio internacional de manifestos de boas-intenções ambientais.
Autor: Maurício Thuswohl - Carta Maior

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Novos alertas sobre os efeitos do aquecimento global

Organismos internacionais e cientistas lançam novas advertências sobre as ameaças do aquecimento do planeta. Segundo a FAO, segurança alimentar está ameaçada. Ecologistas espanhóis dizem que 200 milhões de pessoas podem virar refugiados ambientais. Na Inglaterra, cientistas dizem que mundo deve ultrapassar o limite considerado perigoso.
 
 
     A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) alertou, segunda-feira, que o aquecimento global pode representar uma séria ameaça para a segurança alimentar mundial. Segundo o subdiretor-geral da FAO, Alexander Muller, as mudanças climáticas cada vez mais visíveis no planeta estão se transformando em um dos grandes desafios que humanidade enfrentará nos próximos anos, devido a seu impacto na produção, distribuição e acesso aos alimentos.
     A agricultura é hoje, destacou Muller, o setor mais afetado pelas mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global, exigindo políticas imediatas para assegurar a segurança alimentar da população do planeta. A situação de risco é mais grave nos países em desenvolvimento que possuem menor volume de recursos par enfrentar os danos decorrentes deste fenômeno.
     As variações climáticas extremas, exemplificou, podem colocar em risco a produção de arroz, alimento básico de mais da metade da população do planeta. O funcionário da FAO defendeu medidas como a introdução de novas variedades melhoradas deste cereal, com maior tolerância à salinidade. Além disso, propôs uma rápida transição para um maior uso de biocombustíveis, levando em conta a segurança alimentar e a preservação ambiental.
     Mas a agricultura, acrescentou, é ao mesmo tempo vítima e culpada pelo que está acontecendo com o clima. A produção de arroz, assinalou, é hoje uma das principais fontes de gases causadores do efeito estufa. A pecuária, por sua vez, é responsável por 18% das emissões de gases do efeito estufa em nível mundial, enquanto que o desmatamento responde por 18% das emissões de dióxido de carbono. Para reverter esse quadro, Muller defendeu a mudança na gestão da pecuária e das práticas agrícolas e florestais, com a adoção de práticas de conservação que ajudem a manter grandes quantidades de carbono no solo.
 
     Refugiados ambientais
     Outro alerta sobre os efeitos do aquecimento global foi feito, sexta-feira, pela organização espanhola Ecologistas em Ação. Segundo a organização, nos próximos 30 anos, as mudanças no clima farão com que cerca de 200 milhões de pessoas sejam forçadas a deixar o local onde vivem. Até 2020, os processos de desertificação expulsarão de suas casas cerca de 135 milhões pessoas. O alerta foi feito pela entidade durante um evento paralelo à Cúpula contra a Desertificação, realizada m Madri.
     Esses efeitos, defendeu a Ecologistas em Ação, exigirão uma revisão urgente do conceito jurídico de refugiado, adequando-o a essas novas realidades sociais. Entre essas revisões, está a regulamentação da categoria do "refugiado ambiental", necessária para garantir um mínimo de proteção jurídica às pessoas obrigadas a deixar seus lares em função de questões ambientais.
     A Organização das Nações Unidas (ONU) define hoje como refugiados somente aquelas pessoas que são forçadas a deixar suas casas por causa de distúrbios políticos ou sociais. Mas o debate sobre a necessidade de ampliar esse conceito está aberto. A ONU reconhece que cada vez mais pessoas estão sendo deslocadas por problemas ambientais, como a desertificação, o esgotamento do solo, enchentes e outros tipos de desastres naturais.
     Os ecologistas espanhóis criticaram os países que estão adotando políticas cada vez mais restritivas contra a migração e acusaram tais políticas de violar sistematicamente os direitos humanos e o Estatuto dos Refugiados, da Convenção de Genebra. Além disso, defenderam que governos e empresas dos países ricos devem parar com a exploração indiscriminada de recursos naturais dos países pobres, o que só vem agravando os problemas ambientais.
Aproximando-se do limite
     O noticiário sobre os efeitos do aquecimento global renova, praticamente todos os dias, as advertências sobre as ameaças que pairam sobre todo o planeta. Nesta terça-feira, uma matéria da agência Reuters apresenta a conclusão de um grupo de cientistas britânicos, após uma pesquisa que durou cinco anos: o mundo provavelmente vai ultrapassar o limite de aquecimento global que a União Européia considera perigoso.
     Em março deste ano, líderes da União Européia reiteram a importância de limitar o aquecimento global médio a 2°C acima dos níveis pré-industriais. Com base neste limite, a UE propôs novas metas para a redução das emissões de gases do efeito estufa. Mas, na comunidade científica, há um clima de pessimismo tanto em relação ao limite proposto quanto às novas metas propostas pelas lideranças dos principais governos europeus.
     O MetOffice, órgão meteorológico do governo britânico e responsável pela nova pesquisa duvida que essas metas sejam atingidas. Segundo Vicky Pope, gerente do programa de pesquisas sobre mudanças climáticas do Hadley Center, disse que "já está bem aceito que a meta de 2°C será superada". A própria meta já é problemática. Os cientistas acreditam que o aquecimento de dois graus já será suficiente para iniciar o degelo das calotas polares, com conseqüências graves e irreversíveis.
     No último século, a temperatura média do planeta subiu cerca de 0,7°C. Os cientistas acreditam que uma nova elevação de 0,6° C é inevitável, já que os oceanos estão absorvendo aquecimento mais rápido das terras emersas. Caso, os atuais níveis de emissão de gases não caírem nos próximos anos, esse número deve subir, aproximando-se perigosamente da casa dos dois graus. O derretimento da calota polar da Groenlândia, em uma velocidade maior do que a prevista, é um sinal de que essa é a tendência mais forte hoje. Enquanto isso, as lideranças dos países mais ricos do mundo seguem empurrando com a barriga um problema que não cessa de lançar sinais de alerta.
Autor: Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior

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A mãe de todas as biopiratarias

Em 1877, 70 mil sementes de seringueira deixaram o Pará
 
     Ao participar na Unicamp de um debate sobre promessas da biotecnologia e da biodiversidade, em 22 de agosto, afirmei que a paranóia da biopirataria no Brasil ainda era assombrada pelo caso de "furto" ou "roubo" da borracha por ingleses no século 19. Mal sabia eu.
    Foi o início de uma esclarecedora troca de e-mails com a botânica Maria do Carmo Estanislau do Amaral, da Unicamp. Ela presenciara o debate e discordou da caracterização de biopirataria para o embarque de 70 mil sementes de Hevea brasiliensis por Henry Alexander Wickham, em 1877, do porto de Santarém (PA).
     O argumento era simples: não havia impedimento legal, na época, para a transferência das sementes. Ora, se não havia sido proibida, sua saída tampouco fora oficialmente autorizada, e implicara prejuízo para o país. O caso ainda se qualificaria como a mãe de todas as biopiratarias, em sentido mais amplo.
     Após o início do cultivo da H. brasiliensis no Sudeste Asiático, nas primeiras décadas do século 20, o preço da borracha no mercado internacional caiu de US$ 6 por quilo para US$ 0,08.
     Os barões da borracha que assistiam a óperas em Manaus foram à bancarrota. A vida dos seringueiros continuou na mesma miséria.
Amaral contra-argumentou que o mero prejuízo não caracteriza biopirataria nem sustenta expectativa de reparação por direitos desrespeitados.
Caso contrário, o Brasil teria de pagar pela cana-de-açúcar da Índia, pela soja da China e pelo café da Etiópia.
     "O Brasil detinha o monopólio da borracha, mas jamais teria como suprir a demanda internacional por borracha na época", ponderou a botânica.
     "A planta não era cultivada racionalmente e as tentativas de cultivo não deram certo. As plantas em monocultura na Amazônia são atacadas por um fungo e não resistem."
     Intrigado com a longevidade do que já se patenteava como mito infundado, voltei às páginas do livro onde duas décadas antes lera a saga de Wickham: "Os Invasores do Amazonas" (1986), de John Ure, um historiador que havia servido como embaixador inglês no Brasil. Sua narrativa corrobora que, de fato, não houve furto. Já a hipótese de contrabando...
     Segundo Ure, Wickham desincumbiu-se com eficiência da tarefa que lhe fora encomendada por Kew Gardens, o jardim botânico da realeza britânica.
Coletou as 70 mil sementes sem chamar muita atenção de ninguém e deu sorte de um vapor rápido da recém-criada linha Liverpool-Manaus -o S.S. Amazonas- ficar sem carga para a viagem de retorno. Fretou a embarcação para levar a carga vegetal direto para a Inglaterra.
     As sementes poderiam deteriorar-se no percurso e não germinar, uma vez em Kew. Wickham não podia correr o risco de levantar suspeitas na alfândega de Belém e ser retido semanas a fio, à espera de autorizações vindas do Rio de Janeiro.
     Wickham lançou mão de uma meia-verdade para obter uma liberação expedita. Ainda de acordo com Ure, disse ao chefe da alfândega que a carga continha uma coleção de "espécimes botânicos particularmente delicados que deveriam ser entregues aos próprios jardins reais de Sua Majestade Britânica em Kew".
     Hoje os maiores produtores de borracha natural são Indonésia e Tailândia. O Brasil importa 160 mil das 250 mil toneladas que consome, ao custo de uns US$ 100 milhões anuais. Em compensação, é um dos maiores exportadores de álcool, açúcar e soja.
     China e Índia têm mais o que fazer e não perdem tempo com os fantasmas do passado.
Autor: Marcelo Leite - Folha de SP - Jornal da Ciência

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segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Dois pesos, duas medidas

     A análise mais interessante feita durante o lançamento do "Vital Signs" veio do diretor do projeto, Erik Assadourian. Segundo Assadourian, as ações de diversos países só comprovam que o aquecimento global já está entre nós. Várias nações começaram a se preparar para tirar proveito do derretimento do gelo no Ártico, causado pelo aquecimento do planeta.
 
Pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos previram que até 2040 praticamente não haverá mais gelo no Ártico, abrindo caminho para a exploração de riquezas na região, como petróleo, gás natural e minerais.
 
 
 
* O Canadá já anunciou a construção de um porto em uma região do Ártico chamada Passagem do Noroeste, constantemente congelada, mas que pode derreter com as mudanças climáticas e ligar o oceano Pacífico ao Atlântico
* A Rússia tratou de fincar sua bandeira no fundo do oceano, bem abaixo do Pólo Norte, alegando que a cadeia submarina de Lomonosv é extensão do território russo. Assim, a Rússia garantiria o direito de explorar as riqueza do Oceano Ártico com o derretimento do gelo
* Os Estados Unidos anunciaram a intenção de construir dois novos navios polares para exploração do Ártico.
     Porém, quando o assunto é assumir responsabilidade pelas mudanças climáticas e cortar emissões, os governos continuam se fazendo de desentendidos. O WorldWatch recomenda que Estados Unidos e Europa reconheçam sua parcela de culpa nas emissões de gases causadores do efeito estufa e concordem em reduzir em 80% suas emissões até 2050. Tal acordo parece distante de acontecer: o governo dos Estados Unidos ainda mal reconheceu que o aquecimento global existe e a União Européia afirma que só adotará metas mais severas se os americanos fizerem o mesmo. Enquanto isso, os 158 países que integram a Convenção do Clima apenas reconheceram que seria recomendável diminuir as emissões entre 20% e 40% até 2020. Mas ainda não disseram como nem quando começar. E continua o jogo de empurra-empurra sobre de quem é a responsabilidade histórica do aquecimento global.
     Moral da história: os governos continuam batendo o pé sobre a suposta contribuição de seu país para o aquecimento global, mas não perdem tempo em reconhecer os efeitos da mudança climática se isso trouxer benefícios para a economia. Eles poderiam mostrar a mesma agilidade e disposição para discutir regras mais severas para o mercado de carbono e um sistema para criação de um imposto sobre as emissões de carbono.
 
Autora: Marcela Buscato - Blog do Planeta

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Degelo leva à abertura de rota marítima no Ártico

Imagens capturadas por satélite mostram nova passagem entre Europa e Ásia. Degelo alcançou níveis recordes desde 1978.
 
     O degelo causado pelo aquecimento climático tornou navegável pela primeira vez a chamada rota do noroeste, que liga os oceanos Atlântico e Pacífico através do Pólo Norte, segundo observações feitas pelos satélites da Agência Espacial Européia (ESA).
 
Aquecimento das geleiras no Pólo Norte
Nova rota marítima.
 
     As observações espaciais da massa polar, iniciadas há quase 30 anos, nunca tinham registrado que a rota do noroeste - até então congelada - estivesse aberta para a navegação.
     As imagens enviadas pelo satélite Envisat da ESA permitiram agora constatar que a redução da massa de gelo no Pólo Norte, ligada ao aquecimento climático, já torna essa passagem navegável.
      Os analistas da ESA destacam a rapidez do degelo nos últimos dez anos e lembram que os especialistas da ONU em mudança climática previram que, pelo ritmo atual, o gelo do oceano Ártico se derreteria completamente até 2070.
     A observação espacial também permitiu detectar que a rota do nordeste, que margeia a costa da Sibéria, ainda está bloqueada, mas com uma massa de gelo muito inferior à de anos anteriores.
     Diante da evolução do degelo, os especialistas acreditam que a passagem do nordeste poderá se abrir antes do calculado inicialmente.
Até agora, a menor massa de gelo do Pólo Norte tinha sido registrada em 2005, mas então não tinha sido observada a abertura da passagem do noroeste.
     Desde 1978, a ESA observa a massa de gelo dos pólos, difícil de calcular sobre a superfície da Terra, mas possível graças às imagens enviadas pelos satélites.
     Em 2009, a agência européia lançará o CryoSat-2, destinado à observação da criosfera, parte da crosta terrestre na qual se forma o gelo.
 
Foto: AFP
Imagens de satélite feitas do Oceano Ártico no início de setembro de 2007 mostra a abertura de uma nova rota pela passagem noroeste (linha laranja) e a passagem nordeste (linha azul), apenas parcialmente bloqueada. O cinza escuro representa as áreas em que não há gelo, enquanto a cor verde indica áreas onde há presença de gelo (Foto: AFP)
 
Fonte: EFE - G1

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O caminho para Samarra

     Um soldado da antiga Bassora, na Mesopotânia, cheio de medo, foi ao rei e lhe disse:"Meu Senhor, salva-me, ajuda-me a fugir daqui; estava na praça do mercado e encontrei a Morte vestida toda de preto que me mirou com um olhar mortal; empresta-me seu cavalo real para que possa correr depressa para Samarra que fica longe daqui; temo por minha vida se ficar na cidade". O rei fez-lhe a vontade. Mais tarde o rei encontrou a Morte na rua e lhe disse:" O meu soldado estava apavorado; contou-me que te encontrou e que  tu o olhavas de forma estranhíssima". "Oh não", respondeu a Morte, "o meu olhar era apenas de estupefação, pois me perguntava como esse homem iria chegar a Samarra que fica tão longe daqui, porque o esperava esta noite lá".
     Essa estória é uma parábola da aceleração do crescimento feito à custa da devastação da natureza e da exclusão das grandes maiorias. Ele nos está levando para Samarra. Em outras palavras: temos poquíssimo tempo à disposição para entender o caos no sistema-Terra e tomar as medidas necessárias antes que ela desencadeie consequências irreversíveis. Já sabemos que não podemos mais evitar o aquecimento global, apenas impedir que seja catastrófico. A nivel dos governos, não se está fazendo nada de realmente significativo que responda à gravidade do desafio. Muitos crêem na capacidade mágica da tecno-ciência: no momento decisivo ela seria capaz de sustar os efeitos destrutivos. Mas a coisa não é bem assim. Há danos que uma vez ocorridos produzem um efeito-avalanche.
     A natureza no campo físico-químico e mesmo as doenças humanas nos servem de exemplo. Uma vez  desencadeada, não se pode mais bloquear uma esplosão nuclear. Rompidos os diques de Nova Orleães nos USA, não é mais possível frear a invasão do mar. Na maioria das doenças humanas ocorre a mesma lógica. O abuso de alcool e de fumo, o excesso na alimentação e a vida sedentária começam a princípio prudizindo efeitos sem maior signficação. Mas o organismo lentamente vai acumulando modificações, primeiramente funcionais, depois orgânicas e, por fim, atingindo certo patamar, surge uma doença não mais reversível.
     É o que está ocorrendo com a Terra. A "colonia" humana em relação ao organismo-Terra está se comportando como um grupo de células que, num dado momento, começa a se replicar caoticamente, a invadir os tecidos circundantes, a produzir substâncias tóxicas que acaba por envenenar todo o organismo. Nós fizemos isso, ocupando 83% do planeta.
O sistema econômico e produtivo se desenvolveu já há três séculos sem tomar em conta sua compatibilidade com o sistema ecológico. Hoje nos damos conta de que ecologia e  modo industrialista de produção que implica o saque desertificante da natureza são contraditórios. Ou mudamos ou chegaremos à a Samarra, onde nos espera algo sinistro.
    A Terra como um todo é a fronteira. Ela coloca em crise os atuais modos de produção que sacrificam o capital natural e as formações sociais construidas sobre o consumismo, o desperdício, o mau trato dos rejeitos e a exclusão social.
    Três problemas básicos nos afligem: a alimentação que inclui a água potável, as fontes de energia e a superpopulação. Para cada um destes problemas não temos soluções globais à vista. E o tempo do relógio corrre contra nós. Agora é o momento de crise coletiva que nos obriga a pensar,  a madurar e a tomar decisões de vida ou de morte.

Autor: Leonardo Boff - Portal do Meio Ambiente

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domingo, 16 de setembro de 2007

Cientistas querem 'código de barras' genétic o?=

Novidade poderá, no futuro, combater o comércio ilegal de madeira e alimentos.
Além disso, também diminuir a incidência de choques de pássaros em aeronaves.
 
     Novos testes genéticos podem ajudar a reprimir o comércio ilegal de alimentos ou madeira, combater a malária e até dar pistas sobre como impedir que os pássaros se choquem com aviões no ar, disseram cientistas na sexta-feira (14).
     Especialistas já identificaram "códigos de barra" de DNA em mais de 31 mil espécies de animais e plantas, mais que o dobro do número disponível em 2005.
     "Estamos criando um banco de referências de espécies", disse David Schindel, do Instituto Smithsonian, que também é secretário-executivo do Consórcio para o Código de Barras da Vida. Cerca de 350 especialistas no assunto vão se reunir entre 18 e 20 de setembro em Taipé.
     Uma pequena amostra de material genético, como a escama de um peixe ou um pouco de serragem, pode ajudar a identificar uma espécie pelo "código de barra" específico a cada espécie, num processo que leva poucas horas em laboratório e custa cerca de US$ 2.
     Os especialistas estão trabalhando com agências reguladoras como o FDA (órgão que regulamenta as drogas e os alimentos nos Estados Unidos) para buscar aplicações para o banco de dados, como no combate a importações ilegais, no extermínio de mosquitos ou na compreensão de rotas migratórias de pássaros.
     O código de barra pode ajudar, por exemplo, a identificar um verme num carregamento de bananas e definir se se trata de um animal inofensivo adquirido no porto de entrada ou de uma espécie mais perigosa, importada de fora.
     Os cientistas querem identificar 500 mil espécies nos próximos anos. Por enquanto os bancos de dados estão longe de estar completos. Possuem apenas cerca de 20% das 10 mil espécies de pássaros e 10% do número estimado de peixes de água doce e salgada -- 35 mil espécies.
     Os pesquisadores perceberam que é mais difícil obter os códigos de barra de plantas que de animais.
Fonte: Alister Doyle - Reuters/G1

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