sexta-feira, 14 de setembro de 2007

África: O lago Chade secou

     A última edição do mapa mundial Comprehensive atlas of the world , feita na Grã-Bretanha e divulgada na quarta-feira 5, traz uma imagem chocante: o famoso Lago Chade, no continente africano, está hoje 95% menor em relação ao seu tamanho há 40 anos. Ele chegou a cobrir uma área de 345 mil quilômetros quadrados (equivalente a três Islândias) e atualmente a sua área total não é maior que 303 quilômetros quadrados. Isso fica claro na última imagem feita por satélites, datada de 2005, mas que só agora se torna pública. A ação do homem e o aquecimento global têm provocado o avanço do deserto na região subsaariana. "Os desastres ambientais vão literalmente se revelando diante dos nossos olhos", diz Mick Ashworth, editor-chefe do atlas.
 
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Ele já mediu 345 mil quilômetros quadrados, o equivalente a três Islândias. Perto disso, hoje é uma poça d'água

     A lista de tragédias ambientais é extensa. O maior rio ao norte da China, o também famoso rio Amarelo (Huang Ho), está mais seco e corre o risco de já não conseguir desaguar no mar – o que causaria drásticas transformações na costa chinesa. Nos EUA, outros dois importantes rios, o Grande e o Colorado, estão perdendo os seus afluentes devido às prolongadas secas de verão. E o Mar Morto, em Israel, vive o seu pior momento dos últimos 50 anos – está 25 metros mais raso e continua encolhendo.
     Esse atlas (editado pelo The Time) foi publicado pela primeira vez em 1895. De 2003 (ano de sua última edição) para cá, passou por mais de 20 mil atualizações – nunca sofrera tantas mudanças e isso é um recorde mundial, uma vez que outra conceituada publicação, a americana National Geographic, recebeu 17 mil atualizações em sua mais recente tiragem. "O mundo está mudando mais rapidamente em comparação a décadas atrás", diz Allen Carroll, cartógrafo da National Geographic. Em meio a tantas transformações ruins quando se trata de ambiente, o mapa do The Time traz pelo menos uma notícia alvissareira: o pântano da Mesopotâmia (Iraque) que fora reduzido a sua décima parte devido às drenagens ordenadas pelo ditador Saddam Hussein está sendo recuperado. Localizado na confluência dos rios Tigre e Eufrates e considerado o maior do mundo, ele teve cerca de 40% de sua extensão refeita depois que os rios que o abastecem voltaram ao curso natural.
 
Autora: Natália Rangel - Isto É - Portal do Meio Ambiente
Disponível em: http://www.portaldomeioambiente.org.br/news//not1.php?id=665
 

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terça-feira, 11 de setembro de 2007

Plástico amigo do meio ambiente

Material desenvolvido a partir de garrafas PET usadas se decompõe em 45 dias
 
     O lixo urbano é um problema para as grandes cidades, agravado pelo aumento do uso de embalagens descartáveis. Para tentar reduzir o descarte inadequado e incentivar a reciclagem de garrafas de plástico do tipo PET (politereftalato de etila) usadas, que levam até 500 anos para se decompor na natureza, a Universidade da Região de Joinville (Univille), em Santa Catarina, e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) desenvolveram, a partir desse material, um plástico que se degrada no solo em 45 dias.
 
As garrafas de plástico do tipo PET descartadas na natureza levam até 500 anos para se decompor.
 
     Para desenvolver o novo plástico, os pesquisadores adotaram o método da reciclagem química, em que as garrafas são lavadas, esterilizadas, cortadas e colocadas em um reator. Nesse aparelho, a garrafa PET original se une a um polímero biodegradável. Esse composto, ao contrário dos obtidos a partir do petróleo, como o PET, tem decomposição mais rápida. "Polímeros como o PET são formados por anéis aromáticos difíceis de serem quebrados durante a decomposição. Já os polímeros biodegradáveis são compostos por cadeias abertas, ou seja, não têm esses anéis, o que facilita o processo", explica a coordenadora da pesquisa na Univille, a química Ana Paula Pezzin. "Assim, nasce um copolímero de fácil degradação, que em apenas 45 dias alcança estado bastante acelerado de decomposição."
     A equipe avaliou as propriedades e a capacidade de degradação de diversas composições do material. Vários percentuais de quatro polímeros biodegradáveis diferentes foram adicionados ao PET pós-consumo. O tempo máximo de decomposição foi de sete meses – muito pouco se comparado às centenas de anos do PET tradicional. Realizada inicialmente pela química Sandra Einloft, da PUC-RS, a pesquisa conta com o apoio da Universidade Pierre e Marie Curie, da França.
     Segundo Pezzin, o desenvolvimento desses copolímeros é um marco no Brasil, já que o país é um dos campeões em reciclagem de garrafas PET. Dados da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet) mostram que, em 2005, quase metade das embalagens usadas no Brasil passava por processos de reciclagem.
     No entanto, o material reciclado não pode voltar a ser usado para embalar alimentos ou bebidas. "Isso jamais seria aprovado", diz Pezzin. "As pessoas não aceitariam colocar na boca algo que já esteve no lixo." O material biodegradável pode ser empregado na confecção de embalagens para produtos de beleza, interruptores e materiais de decoração ou qualquer outro produto que seja rapidamente descartado.
 
Garrafas PET.
 
     Os custos para produzir o polímero biodegradável ainda são maiores que os do PET tradicional, mas a pesquisadora alerta para a importância do produto. "Precisamos de alternativas aos materiais derivados de petróleo, já que um dia esse recurso vai se esgotar", argumenta Pezzin. "Além disso, apesar das excelentes propriedades do PET, sua presença em aterros sanitários atrapalha a decomposição de outros materiais, pois dificulta a circulação de líquidos e gases que agem sobre o lixo orgânico." Algumas empresas atentas a esses fatos já demonstram interesse em desenvolver novos materiais a partir dessa tecnologia e as negociações seguem em sigilo.

Autora/Fonte: Fernanda Alves - Ciência Hoje On-line

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Porcelana de osso bovino

Nova substância para implantes é mais resistente e barata
 
     Fórmula inovadora de porcelana feita com cinzas de ossos promete substituir o material convencional utilizado em implantes ósseos e odontológicos. A nova porcelana, desenvolvida com matérias-primas totalmente brasileiras, é mais branca, leve e resistente que a regular, além de apresentar maior grau de compatibilidade biológica. Composto de 50% de cinzas de ossos bovinos, 20% de caulim (minério branco usado em cerâmica para fins plásticos) e 30% de feldspato, o material foi resultado da pesquisa do físico Ricardo Miyahara, em tese de doutorado para a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).


Objetos feitos com a porcelana de ossos bovinos nacional.
(Fotos: Ricardo Miyahara)

     A porcelana comum resulta de um processo cerâmico triaxial, ou seja, é formada por três elementos: argila, feldspato e quartzo. A argila, fundamental para a produção de cerâmica, combina-se com o feldspato, que é transformado em vidro quando submetido a altas temperaturas e tem a propriedade de reduzir o ponto de fusão do quartzo quando misturado a ele, além de dar mais resistência ao material.
     Já a porcelana desenvolvida por Miyahara retoma a técnica surgida na Inglaterra no século 18, que utiliza cinzas de ossos e caulim acrescidos de cornish stone , minério da família do feldspato detentor de propriedades adesivas. "Devido à elevada proporção de ossos, o custo é alto para a obtenção das cinzas de ossos, mas a porcelana resulta mais alva e resistente", diz o físico. A diferença entre a tradicional fórmula inglesa e a porcelana brasileira é a maneira de produção. Substituindo o cornish stone pelo feldspato nacional, o pesquisador chegou a uma nova proporção que se funde à temperatura de 1.270°C, em comparação com os 1.400°C necessários para a queima da porcelana comum.
     "Essa redução da temperatura de queima representa um menor gasto na produção do material, uma vez que o processo de queima pode chegar a 40% do custo do produto. A porcelana adquire maior valor agregado por ser um produto de excelente qualidade, chegando a ser quase duas vezes mais resistente que a comum e mais branca que a porcelana de ossos inglesa", esclarece Miyahara.
 

Ossos bovinos após o tratamento para obter a cinza, que, misturada ao caulim e ao feldspato, é utilizada para a fabricação da porcelana. 
 
     Biocompatibilidade
     O novo composto, quando aplicado em material cirúrgico, como implantes ósseos e odontológicos, apresenta uma vantagem adicional. As cinzas de ossos utilizadas na fórmula contribuem para a pouca rejeição corporal ao objeto inserido, devido à presença da hidroxiapatita, minério encontrado na natureza e, portanto, biocompatível. Esse potencial para bioimplantes solucionaria a rejeição a materiais como a platina, atualmente aplicada na fixação de dentes e em implantes ortopédicos.
     De acordo com Miyahara, a descoberta tem grandes chances de conquistar o mercado de implantes. O estudo está em fase de testes finais para que possa ser encaminhado para avaliação industrial, quando será analisada a viabilidade de produção da porcelana de ossos em larga escala. A possibilidade de o Brasil produzi-la, deixando de importar o produto da Inglaterra, China e Estados Unidos, únicos países produtores expressivos de porcelana, significaria um nicho de mercado promissor. "Como o Brasil é um dos maiores criadores de gado bovino do mundo e tem grande tradição na fabricação de produtos cerâmicos, temos condições de produzir essa porcelana em grande quantidade, podendo até nos tornar um grande exportador do material", conclui Miyahara.

Autora/Fonte: Fabíola Bezerra - Ciência Hoje

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Novo surto de ebola mata pelo menos 116 no Congo

     Pelo menos 116 pessoas morreram na província congolesa de Kasai Ocidental devido a uma epidemia do vírus ebola, segundo o Ministério da Saúde do Congo, com a Organização Mundial da Saúde (OMS) informando hoje que tem registradas cinco mortes pela doença na região do país africano.
 
Vírus Ebola.
 

Modo de infestação.
 
Congo, área do novo surto.
 
O surto está localizado nas cidades de Mweka e Luebo, na província de Kasai Ocidental. O ministro congolês da Saúde, Victor Makwenge Kaput, disse que os 116 falecimentos, de um total de 289 infectados, ocorreram entre 1º de maio e 1º de setembro de 2007.
As autoridades pediram à população que mantenha a calma e informaram que equipes foram destacadas para o local. "Pedimos à OMS que nos apóie na coordenação de respostas", disse Kaput.
O vírus do ebola foi identificado pela primeira vez em 1976 no norte da República Democrática do Congo, perto de um afluente do rio Congo chamado Ebola e que deu nome à doença.
O ebola provoca uma febre hemorrágica altamente contagiosa, transmitida por líquidos corporais como suor, sangue, saliva, urina e vômitos. Existem várias cepas da doença, e a mais mortífera é a chamada Ebola-Zaire, que se localiza no Congo e que provoca a morte de 90% dos infectados, pois não tem cura nem tratamento.
 
Sintomas cutâneos.

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Especialistas em gripe aviária debatem pandemi a?=

     Especialistas em gripe aviária e representantes das Nações Unidas e de vários Governos se reuniram hoje na ilha indonésia de Bali para discutir a prevenção da doença e do contágio entre pessoas, que poderia transformar a doença numa pandemia.
 
Extermínio de aves em áreas afetadas.

     A reunião do governo da Indonésia com os principais parceiros em gripe aviária e preparação para a pandemia vai até amanhã, com a participação do ministro de Coordenação de Bem-estar Social da Indonésia, Aburizal Bakrie, e do coordenador das Nações Unidas para a Gripe Aviária, David Nabarro.
     Os participantes vão analisar a evolução da doença na Indonésia, o país com maior número de contágios e mortos, além de determinar as prioridades estratégicas, as campanhas de informação para o próximo ano e o financiamento dos programas de controle.
     Desde que reapareceu, no final de 2003, a doença matou 85 pessoas na Indonésia e cerca de 200 vítimas no mundo todo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A epizootia é endêmica nas ilhas de Java, Sumatra e Bali, e na região das Célebes, no sul do país.
 

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segunda-feira, 10 de setembro de 2007

As alternativas energéticas ameaçam o futuro

     Pertence aos que se dedicam ao pensamento, refletir sobre os destinos da sociedade em que vivem e, ousadamente, também os destinos do planeta e da humanidade. Digo isso a propósito do novo estado da Terra produzido pelo aquecimento global, à esta altura irrefreável. A grande maioria não se dá conta das consequências que advirão de tal verificação empiricamente comprovada.
    A primeira constatação que importa fazer é: o aquecimento precisa ser qualificado. Não basta dizer que é andrópico, vale dizer, produzido pelo ser humano. Que ser humano? Pelos índios, pelos esquimós? Precisamos dizer com todas as letras: o aquecimento foi produzido por aquela porção de homens que introduziram a produção industrial já há três séculos, aceleraram o consumo energético, inventaram a tecno-ciência que agride ecossistemas (ecologia ambiental), indutora de uma perversa desigualdade social (ecologia social) e devastadora do planeta como um todo (ecologia integral) e projetaram a cultura do consumo ilimitado (ecologia mental). Hoje são corporações industriais globalizadas, gigantes da bioquímica e do agro-negócio e instituições afins. São eles que mais poluem (só os USA 25%) e que mais resistem às mudanças paradigmáticas. Se eles não se alfabetizarem ecologicamente e não mudarem o rumo do mundo poderão levar a biosfera para um impasse desastroso.
    A segunda constatação, por mais desafiadora que seja, é singelamente esta: como está não dá mais para continuar. Somos obrigados, se queremos salvar o planeta e a humanidade, a imaginar e a inventar um outro modo de conviver, de produzir para toda a comunidade de vida, de distribuir os bens necessários, de consumir responsável e solidariamente e de tratar os dejetos. Precisamos, como enfatiza a Carta da Terra, de "um modo sustentável de viver" porque o vigente, como foi comprovado matematicamente, não é mais sustentável para 2/3 da humanidade. Isto quer dizer: todas as alternativas energéticas que se estão tomando na construção de uma Arca de Noé salvadora do sistema imperante, escamoteiam o cerne da questão. Elas, tomadas em si, não nos salvarão do dilúvio. Dentro de dezenas de anos vão mostrar sua ineficácia o que vai provocar a maldição da humanidade sobre a nossa geração. Dir-se-á: "vocês foram alertados e sabiam mas preferiram a cegueira voluntária e a nossa perdição para garantir o curso que lhes dava vantagens".
     O memorando Bush-Lula prevê uma produção massiva de etanol seja de cana (Brasil) seja de milho (USA). Atualmente o Brasil produz 17,5 bilhões de litros de álcool. Com a utilização de 90 milhões de hectares agricultáveis poderá chegar a produzir 110 bilhões, podendo controlar 50% do mercado mundial. É incompleta a afirmação que é uma energia limpa. É limpa apenas no uso em carros. Mas em seu processo de produção é poluente porque inclui os fertilizantes, o transporte, a estocagem, as máquinas e a liberação de nitrogênio que contamina poderosamente as águas e, transformado em ácido nítrico, produz chuvas ácidas, danosas para as florestas. Oxalá não ocorra no Brasil o que ocorreu na Malásia: 87% de desflorestamento, expulsões de camponeses e terras roubadas à produção de alimentos.
     Para nos salvar importa redesenhar todo o processo produtivo, adequado a cada ecosistema, valorizando tudo o que a humanidade inventou para sobreviver, dos sistemas agropastoris e agroecológicos até à moderna nanotecnologia com sua imensa possibilidade de resfriar o planeta.

Fonte: Leonardo Boff - Teólogo

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