sexta-feira, 3 de agosto de 2007

A Amazônia está mudando

Fragmentação da floresta leva à perda de espécies locais e facilita a entrada de espécies exóticas

     As alterações na biodiversidade da Amazônia provocadas pelos desmatamentos vêm sendo estudadas de muitas formas. Um grande projeto de pesquisa investiga o que acontece em fragmentos florestais, de diferentes tamanhos, remanescentes da derrubada da mata ao seu redor. Estudos sobre as respostas de espécies de moscas e de outros animais revelam que a fragmentação da floresta leva à perda de espécies locais e a alterações na abundância de outras, além de facilitar a entrada de espécies exóticas. Também foi constatado que as pastagens são mais danosas à diversidade de espécies das áreas florestadas restantes nas proximidades do que as atividades agrícolas ou silviculturais.
     Considerada o maior reduto de vida no planeta, a Amazônia está mudando. Essa mudança na paisagem amazônica vem ocorrendo, em ritmo crescente, nos últimos 50 anos. Qualquer pessoa que sobrevoasse a Amazônia nos anos 50 veria a paisagem como uma floresta contínua, com algumas clareiras nas margens dos rios e nas vizinhanças das principais cidades. Hoje, um vôo por certas áreas da Amazônia brasileira, principalmente em suas partes nordeste e sul, mostrará imensas manchas provocadas pelo desmatamento, com terra desnuda ou recoberta com pastagens e cultivos agrícolas. Enquanto o Amapá tem 95% de sua floresta preservada, o nordeste do Pará e o oeste do Maranhão, segundo o Projeto Biota do Pará, conservam apenas 23% da vegetação amazônica, divididos em fragmentos, revelando índices de desmatamentos semelhantes aos registrados na mata atlântica, na região Sudeste.
 

Plantação de eucaliptos em Monte Alegre, no norte do Pará, onde os fragmentos florestais remanescentes têm sido estudados por cientistas. (Foto cedida pelos autores) 
  
     Tal imagem causa desolação a muitos, mas é motivo de orgulho para outros. Os desolados pensam na floresta perdida, nas milhares de espécies extintas (muitas antes de serem conhecidas), no imenso patrimônio biológico e evolutivo desperdiçado (e, com ele, as oportunidades perdidas de novos conhecimentos, produtos e negócios). Pensam ainda no povo da floresta desprovido do seu modo de vida, sem oportunidade de materializar sua cultura, suas crenças e sua arte. Já os orgulhosos argumentam que isso significa progresso e vislumbram a Amazônia finalmente inserida no processo nacional de desenvolvimento, produzindo grãos, exportando minérios para o mundo e energia para o país.
     Mas afinal o que essa mudança no uso da terra significa para a biodiversidade? Como a biodiversidade responde a essa nova Amazônia?
A biodiversidade amazônica é ainda muito mal mensurada. Não sabemos quantas espécies existem, conhecemos muito pouco sobre o papel de algumas espécies na sustentação da floresta e conhecemos menos ainda sobre as interações entre espécies e como elas respondem às variações do meio ambiente. Esse quadro de desconhecimento torna necessários estudos urgentes sobre as mudanças no uso da terra e suas conseqüências sobre a biodiversidade.
     Antes dos anos 80 o termo biodiversidade não era conhecido. Esse termo, que une as palavras 'diversidade' e 'biológica', foi popularizado pelo livro Biodiversity , de 1988, organizado pelo biólogo norte-americano Edward O. Wilson, um dos pioneiros da ecologia, a partir dos debates do Fórum Nacional de Biodiversidade, realizado dois anos em Washington (Estados Unidos) -- o livro foi publicado no Brasil em 1997. No conceito de biodiversidade estão incluídos todos os seres vivos e as relações que esses organismos têm entre si e com o meio físico, transformando e construindo florestas, lagos e todos os elementos da paisagem que normalmente chamamos de natureza. Assim, plantas, animais e ecossistemas passaram a ser entendidos como um complexo integrado, que dá forma e funcionamento à vida no planeta.
     A biodiversidade, portanto, não se refere exclusivamente aos organismos em si, mas também ao ambiente criado a partir da presença deles. É como um jogo de xadrez. De que valem as peças se não forem realizadas boas jogadas? Precisamos compreender as complexas regras desse jogo, para evitar ou minimizar nossas interferências nefastas. No caso da Amazônia, precisamos apreender a biodiversidade da região em toda a sua complexidade e dinâmica, entender os efeitos dos processos de mudança e buscar as melhores soluções para a manutenção dessa diversidade. Como responder a tal desafio?

Autores:
Marlúcia Bonifacio Martins e Catarina de Lurdes Praxedes
Coordenação de Zoologia, Museu Paraense Emilio Goeldi
Ronildon Miranda-Santos
Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia, Museu Paraense Emilio Goeldi
Alessandra Azevedo Rodrigues da Silva
Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (PA)
Joana Evangelista Costa
Museu Paraense Emilio Goeldi

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Resgatar o coração

A técnica é importante para resolver o problema do aquecimento global, mas não é tudo e nem o principal. Parafraseando Galileu Galilei, podemos dizer: "a ciência nos ensina como funciona o céu, mas não nos ensina como se vai ao céu".
     Seguramente a crise ecológica global exige soluções técnicas, pois podem impedir que o aquecimento global ultrapasse 2 graus Celsius, o que seria desastroso para toda a biosfera. Mas a técnica não é tudo e nem o principal. Parafraseando Galileo Galilei, podemos dizer: "a ciência nos ensina como funciona o céu, mas não nos ensina como se vai ao céu". Da mesma forma, a ciência nos indica como funcionam as coisas, mas por si mesma não tem condições de nos dizer se elas são boas ou ruins. Para isso, temos que recorrer a critérios éticos, aos quais a própria prática científica está submetida. Até que ponto, apenas soluções técnicas equilibram Gaia a ponto de ela continuar a nos querer sobre ela e ainda garantir os suprimentos vitais para os demais seres vivos? Será que ela vai identificar e assimilar as intervenções que faremos nela ou as rejeitará?
     As intervenções técnicas têm que se adequar a um novo paradigma de produção menos agressivo, de distribuição mais equitativa, de um consumo responsável e de uma absorção dos rejeitos que não danifique os ecossistemas. Para isso precisamos resgatar uma dimensão, profundamente descurada pela modernidade. Esta se construiu sobre a razão analítica e instrumental, a tecnociência, que buscava, como método, o distanciamento mais severo possível entre o sujeito e o objeto. Tudo que vinha do sujeito como emoções, afetos, sensibilidade, numa palavra, o pathos, obscurecia o olhar analítico sobre o objeto. Tais dimensões deveriam ser postas sob suspeição, serem controladas e até recalcadas.
     Ocorre que a própria ciência superou esta posição reducionista seja pela mecânica quântica de Bohr/Heisenberg seja pela biologia à la Maturana/Varela, seja por fim pela tradição psicanalítica, reforçada pela filosofia da existência (Heidegger, Sartre e outros). Estas correntes evidenciaram o envolvimento inevitável do sujeito com o objeto. Objetividade total é uma ilusão. No conhecimento há sempre interesses do sujeito. Mais ainda, nos convenceram de que a estrutura de base do ser humano não é a razão, mas o afeto e a sensibilidade.
     Daniel Goleman trouxe a prova empírica com seu texto a Inteligência emocional que a emoção precede à razão. Isso se torna mais compreensível se pensarmos que nós humanos não somos simplesmente animais racionais, mas mamíferos racionais. Quando há 125 milhões de anos surgiram os mamíferos, irrompeu o cérebro límbico, responsável pelo afeto, pelo cuidado e pela amorização. A mãe concebe e carrega dentro de si a cria e depois de nascida a cerca de cuidados e de afagos. Somente nos últimos 3-4 milhões de anos surgiu o neocortex e com ele a razão abstrata, o conceito e a linguagem racional.
     O grande desafio atual é conferir centralidade ao que é mais ancestral em nós, o afeto e a sensibilidade. Numa palavra, importa resgatar o coração. Nele está o nosso centro, nossa capacidade de sentir em profundidade, a sede dos afetos e o nicho dos valores. Com isso não desbancamos a razão, mas a incorporamos como imprescindível para o discernimento e a priorização dos afetos, sem substitui-los. Hoje se não aprendermos a sentir a Terra como Gaia, não a amarmos como amamos nossa mãe e não cuidarmos dela como cuidamos de nossos filhos e filhas, dificilmente a salvaremos.
     Sem a sensibilidade, a operação da tecnociência será insuficiente. Mas uma ciência com consciência e com sentido ético pode encontrar saídas libertadoras para nossa crise.
 
Autor: Leonardo Boff - Agência Carta Maior

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quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Poluição da Ásia ajuda a derreter Himalaia

Partículas de fuligem emitidas por carros e fábricas estão piorando mudança climática.
Aquecimento na Ásia pode deixar Índia e China sem geleiras e água.

  
     A névoa de poluição que hoje cobre o Sudeste Asiático está acelerando a perda das geleiras do Himalaia, o que coloca o abastecimento de água dos países mais povoados e populosos do mundo -- a China e a Índia -- sob um risco incalculável, alerta um grupo de pesquisadores.
 
Himalaia
 
     No estudo, que está na edição desta semana da revista científica britânica "Nature", a equipe afirma que a chamada Nuvem Marrom Asiática tem tanta culpa pelo aquecimento observado nos últimos 50 anos no Himalaia quanto os gases causadores do efeito estufa. O derretimento das 46 mil geleiras do Planalto Tibetano, a terceira maior massa de gelo do planeta, já está causando enchentes nos lugares mais baixos, mas no longo prazo o grande risco é o da seca.
     Os pesquisadores, liderados por Veerabhadran Ramanathan, do Instituto Scripps de Oceanografia (Califórnia, EUA), usou uma técnica inovadora para explorar a Nuvem Marrom Asiática. A pluma de partículas em suspensão se espalha pelo continente asiático, gerada por canos de escapamento, chaminés de fábricas e termelétricas, florestas ou campos que estão sendo queimados para uso agrícola e madeira ou esterco queimados como fonte de calor.
 
Foto
Imagem de satélite mostra a nuvem de poluição particulada da Ásia entre a Coréia e o Japão (Foto: Nasa/Divulgação)
 
     O papel dessas emissões em forma de partículas sólidas no aquecimento global ainda é pouco conhecido. Também chamadas de aerossóis, as partículas resfriam a terra ou o mar debaixo delas porque filtram a luz que vem do Sol. Ao mesmo tempo, alguns aerossóis também absorvem a luz solar, podendo esquentar a atmosfera localmente.
     A equipe de Ramanathan usou três aviões pilotados por controle remoto, equipados com 15 instrumentos capazes de monitorar a temperatura, as nuvens, a umidade e os aerossóis. Lançados da ilha de Hanimadhoo, nas Maldivas, os aviões fizeram 18 missões em março de 2006, voando sobre o oceano Índico.
     A principal descoberta é que a nuvem aumentou o efeito do aquecimento solar sobre o ar em volta dela em cerca de 50%. Isso acontece porque as partículas são basicamente fuligem, que é negra e absorve a luz do Sol. Cálculos dos pesquisadores indicam que até metade do aquecimento atmosférico do Sudeste Asiático desde os anos 1950 pode ser explicado justamente pela ação desse tipo de poluente.
 
Autor: Richard Ingham - France Presse - G1

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Mexicanos fazem privada gigante para protestar contra praia suja

Ato foi organizado por ativistas do Greenpeace.
Manifestação ocorreu na praia de Los Muertos.
 
Foto: Reuters
Ativistas do Greeenpeace fizeram uma privada gigante em praia do México para protestar contra a liberação de esgoto direto na água do mar, sem tratamento (Foto: Gustavo Graf/ Reuters)
 
Fonte: Reuters - G1

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quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Hipocrisia ou farsa ambiental?

     Ultimamente assistimos na mídia, com bastante freqüência, doutos senhores com ares de respeitabilidade e escudados por Organizações Não Governamentais, Governos e títulos acadêmicos diversos, apresentarem o reflorestamento como panacéia salvadora para todos os males ambientais advindos do Efeito Estufa.
     O reflorestamento, como está sendo preconizado, é apenas a metade do caminho a ser percorrido, um paliativo para uma situação cada vez mais séria, pois o chamado efeito estufa cada vez mais se agrava.
     O verde, a floresta retém a água no solo, pereniza os rios, ameniza e equilibra o clima, não captura o carbono em definitivo, apenas o recicla. Funciona como uma represa que retém a água temporariamente;  mais cedo ou mais tarde, a libertará para que siga seu curso.  
 
Floresta absorvendo CO2.
 
     O mundo está como um vagão, descontrolado, despencando ladeira abaixo, rumo ao abismo, e nossos "cientistas" querem freá-lo utilizando barbantes em vez de reforçados cabos de aço!
     A biomassa caracteriza-se pela instabilidade, veio do gás carbônico, da água e da energia solar, via fotossíntese, e ao gás carbônico retornará tão logo a energia potencial acumulada em suas moléculas seja exaurida.
     O verde, a floresta, aproveitando a energia solar e a água fixa o carbono por algumas dezenas de anos, ou nem isso, e o libertará para atmosfera sob a forma de gás carbônico, voltando às condições anteriores.    
     A quem os nossos doutos senhores querem enganar? Ficam apregoando providências esdrúxulas que não levam a nada!
     Querem calcular, por exemplo, quantas árvores devem ser plantadas para compensar a fabricação de um CD, a edição de uma revista, a flatulência de uma vaca!
      Enquanto isso, um simples carro de passeio atira no ar que respiramos dezenas de toneladas de gás carbônico durante sua vida útil.
     É preciso que a sociedade seja esclarecida, a verdade escancarada e alertada para o suicídio coletivo que representa o uso do combustível fóssil sem a destinação adequada dos gases gerados como conseqüência!
     Fazem cálculos mirabolantes sem chegar a resultado algum, só confundindo a sociedade leiga e simulando que providências sérias e enérgicas estão sendo tomadas.
      Querem justificar certamente as verbas astronômicas doadas pelos governos e empresas que são aplicadas em pseudo pesquisas, ditas "sérias e urgentes".
      Ainda que todos os espaços do planeta fossem ocupados com o cultivo de florestas o "problema do efeito estufa" não seria resolvido, o vegetal, como todo ser vivo, nasce, cresce, amadurece e morre e, ao morrer, devolve todo o carbono a atmosfera sob forma de gás carbônico.   
     É preciso que se volte ao passado geológico, ao Período Carbonífero, quando a Natureza limpou a atmosfera soterrando gigantescas quantidades de biomassa que deram origem às fontes de combustíveis fósseis que hoje o homem explora.
     Foi esta "limpeza" da atmosfera, essa retirada do gás carbônico do ar, via biomassa, que permitiu a origem da vida aeróbia, a vida do ser que respira.         
     O homem, desde o século passado, está trazendo esse "lixo soterrado" para a superfície, transformando-o em energia, saturando a atmosfera, criando o caos que estamos vivendo, fechando um círculo com o retorno ao passado geológico inóspito do planeta.
 
Plataforma de extração de petróleo.
 
     O reflorestamento só terá sentido se a biomassa for "colhida e armazenada", estocada de forma permanente, em condições de não decomposição, (biológica ou por oxidação), mantendo seu potencial energético intacto, sem condições de retorno à condição mais simples da matéria orgânica, ou seja, de retorno à forma de gás carbônico.
     Como fazer isso?
     Devolvendo, a biomassa, o carbono que está em excesso na atmosfera (gás carbônico), aos locais de sua origem, às profundezas do subsolo, ocupando com a mesma as fossas abissais oceânicas, os espaços deixados pelos poços de petróleo exauridos, as falhas geológicas, as crateras artificiais criadas pelo homem e pela mineração.
     Cada "colheita" feita e devolvida às suas origens, a esses locais, representará uma limpeza, embora parcial, um alívio às condições climáticas adversas que estamos vivendo devido ao efeito estufa. 
     Para cada 12 toneladas de biomassa assim "armazenadas", teremos 32 toneladas de oxigênio devolvidas à atmosfera e menos 44  toneladas de gás carbônico a nos asfixiar. 
     Se assim procedêssemos, poderíamos continuar até mesmo utilizando a atual matriz energética, o combustível fóssil, por que o subproduto gerado pela mesma, o gás carbônico, estará sendo devidamente tratado e não simplesmente descartado.
      Tratar os resíduos gerados pela indústria é rotina neste meio; toda indústria é obrigada por lei a tratar e destinar corretamente os seus rejeitos.
      Por que a indústria do petróleo não é obrigada fazer o mesmo?
     A proposta é a mais absolutamente correta do ponto de vista ecológico: a devolução do carbono ao local onde deveria estar e ficar para sempre.
 
 
Autor: Antonio Germano Gomes Pinto - Ambiente Brasil (o autor é bacharel e licenciado em Química, químico industrial, engenheiro químico, especialista em Recursos Naturais com ênfase em Geologia, especialista em Tecnologia e Gestão Ambiental, professor universitário e autor de duas patentes registradas no INPI e em grande número de países.

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segunda-feira, 30 de julho de 2007

Amazônia: conservação ou colonialismo?

Jornalista Larry Rohter, do 'NYT', escreveu reportagem sobre a região.
Reportagem cita uma pesquisa do Ibope.
 
NYT
 
     Dependendo do ponto de vista, o apoio financeiro à reserva natural no Rio Negro por parte do World Wildlife Found pode ser tanto uma tentativa louvável para conservar a floresta amazônica – quanto o ponto de partida de um plano infame por parte de grupos ambientalistas estrangeiros para usurpar o controle do Brasil sobre a maior floresta tropical do mundo e passá-lo para o controle internacional.
     Em 2003, depois de assinar um acordo com a WWF e o Banco Mundial, o governo brasileiro criou o programa de Áreas Protegidas da Região Amazônica. Desde então, um grande número de parques nacionais e reservas cobrindo uma área maior do que a de Nova York, Nova Jersey e Connecticut juntos foram incorporados ao programa e receberam uma infusão de novos fundos.
 
     New York Times
     O objetivo do programa é montar um "um sistema central para ancorar a proteção à biodiversidade da Amazônia", disse Matthew Perl, o coordenador da WWF na Amazônia, em junho, numa visita à área, um arquipélago de 400 ilhas esparsamente povoado ao nordeste de Manaus. "É parte da estratégia ganhar tempo, elevar cada área protegida a certos padrões de administração e captar recursos para o monitoramento e fiscalização".
 
Foto: New York Times
Vista da Estação Ecológica Anavilhanas (Foto: New York Times)
 
     Mas esse esforço levantou suspeitas por parte de poderosos grupos políticos e econômicos brasileiros que querem integrar a Amazônia na economia do país através de represas, projetos de mineração, estradas, portos, extração de madeira e exportação agrícola.
     "Essa é uma nova forma de colonialismo, uma conspiração aberta em que os interesses econômicos e financeiros agem através de organizações não governamentais", diz Lorenzo Carrasco, editor e co-autor de "A Máfia Verde", um polêmico documento antiambientalista de vasta circulação. "É evidente que esses interesses querem bloquear o desenvolvimento do Brasil e da região amazônica com a criação e o controle dessas reservas, que são todas cheias de minerais e de outros valiosos recursos naturais".
 
Foto: Lalo de Almeida/New York  Times
Criança moradora da região da Estação Ecológica Anavilhanas (Foto: Lalo de Almeida/New York Times)
 
     Visões como essa são amplamente sustentadas no Brasil, independentemente de classe social ou regionalismo. Numa pesquisa feita com 2 mil pessoas em 143 cidades feita pelo principal instituto de pesquisa do Brasil, o Ibope, 75% dos entrevistados disseram que as riquezas naturais do Brasil poderiam provocar uma invasão estrangeira, e quase três entre cinco pessoas desconfiavam das atividades de grupos ambientalistas.
     Vencer a batalha pela opinião pública no Brasil é crucial para qualquer esforço global de preservação do meio ambiente e, conseqüentemente, para controlar a mudança climática. O Brasil é o quarto maior produtor de gases responsáveis pelo efeito estufa; mais de três quartos dessas emissões vêm do desmatamento, e a maior parte vem da Amazônia.
     Mas a noção de que os estrangeiros cobiçam a Amazônia vem há tempos sendo divulgada no Brasil, alimentada em parte pela ansiedade causada pelo tênue controle que o governo central exerce sobre a região. Essa preocupação foi exacerbada nos últimos anos pela Internet, que tornou-se cenário de documentos e declarações fabricados para convencer os brasileiros de que sua soberania está em risco.
     O exemplo mais notório é um mapa reproduzido em larga escala supostamente usado em livros de geografia de escolas americanas. Cheio de erros de ortografia e sintaxe comuns aos nativos de línguas latinas como o Português, mostra a Amazônia como uma "reserva internacional", e descreve os brasileiros como "macacos" incapazes de administrar a floresta tropical.
     Outro documento falso diz que tanto o presidente Bush quanto Al Gore fizeram discursos durante a campanha presidencial de 2000 a favor de tomar a Amazônia à força do Brasil. Em determinado ponto, o documento cita um fictício general americano, que comanda um departamento que o Pentágono afirma não existir, dizendo: "No caso de o Brasil decidir usar a Amazônia de forma que coloque o meio-ambiente dos Estados Unidos em risco, devemos estar prontos para interromper esse processo imediatamente."
     Desde que a guerra do Iraque começou, acusações de planos militares dos EUA na Amazônia são freqüentemente levantadas para difamar os ambientalistas e suas queixas quanto à política do govenro. Em audiências realizadas no ano passado para discutir uma possível represa no rio Madeira, os proponentes distribuíram um mapa mostrando supostos "centros de operação avançados" dos EUA na região, destinados a impedir o desenvolvimento do Brasil, incluindo bases militares e conselheiros na Bolívia e na Venezuela, dois países que não são exatamente simpatizantes da administração Bush.
     Parte do material que circulou foi elaborado por grupos nacionalistas de direita favoráveis à ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985. Mas numa situação inusitada em que antigos adversários concordam, as organizações na extrema esquerda – até mesmo no Partido dos Trabalhadores do governo – também adotaram a noção de que existe um plano estrangeiro para tomar a Amazônia, assim como alguns segmentos militares na ativa.
     "Tudo indica que as questões indígena e ambientalista são meros pretextos", disse um relatório de inteligência militar recente, que foi enviado ao New York Times por um brasileiro que recebeu uma cópia e se mostrou preocupado com o ponto de vista expresso. "As principais ONGs são, na realidade, peças no grande quebra-cabeças em que os poderes hegemônicos estão engajados para manter e aumentar sua dominação. Certamente, elas servem de cobertura para esses serviços secretos."
     Na realidade, diz Perl, coordenador da WWF, sua organização espera simplesmente criar um cinturão ao redor da reserva natural através da criação de um grande "Bloco de Conservação do Rio Negro". Ele disse que a idéia é proteger a reserva ajudando as reservas indígenas existentes, parques estaduais e reservas naturais ao longo das margens do rio para operar mais efetivamente.
     Em 2012, disse Perl, sua organização e parceiros esperam colocar uma área maior que a Califórnia dentro do programa. Foi criado um fundo administrado por uma fundação brasileira que espera levantar 390 milhões de dólares e inclui doações do governo alemão entre outros.
     Em meados dos anos 90, parte da área ao redor do arquipélago foi de fato declarada um parque estadual. Mas pouco foi feito para efetivar o decreto, e desde então o Ministério de Reforma Agrária do governo federal colocou 700 famílias de agricultores sem-terra no local e a marinha brasileira, soldados e a polícia montaram centros de treinamento na área protegida.
     "Existem camadas e camadas de queixas, planos e mais planos, então essa área se tornou uma área de conflito", diz Thiago Mota Cardoso, que monitora o parque para o Instituto de Pesquisas Ecológicas, um dos parceiros regionais da WWF. "É irônico que esse território pertença ao governo federal, e que ele não faça nada".
 
Autor: Larry Rohter - New York Times - G1

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Estrangeiros já possuem cerca de 10% das terras na Argentina

Livro de jornalistas argentinos denuncia o crescente processo de estrangeirização da proriedade da terra no país. Aproximadamente 10% do território argentino já estão em mãos de investidores internacionais. São algumas das terras mais férteis do país, ricas em água e outros recursos naturais.
 
     BUENOS AIRES - Cerca de 10% do território argentino (aproximadamente 270 mil quilômetros quadrados) pertence hoje a estrangeiros, segundo levantamentos da Federação Agrária Argentina (FAA). Até setembro de 2006, 4,5 milhões de hectares correspondentes às melhores terras cultiváveis do país estavam à venda ou em processo de venda para investidores, entre pessoas físicas, empresas ou sociedades anônimas. Deste total, quase 24 milhões de hectares foram vendidos a grupos transnacionais. Esses dados são do livro "Tierras S.A – Crónicas de un país rematado", dos jornalistas argentinos Andrés Klipphan e Daniel Enz (Aguilar, 2006), que denunciam o crescente processo de estrangeirização da propriedade da terra na Argentina. Após três anos de pesquisas, Klipphan e Enz chegaram à conclusão de que a concentração de terras e recursos naturais avança sem cessar no país.
Segundo os autores, muitas destas transações são feitas com fundos de procedência duvidosa, às vezes em nome de sociedades anônimas de origem incerta. Uma das conseqüências mais evidentes desse processo, advertem, é a apropriação privada de espaços que eram de acesso público.
 
 
     Eles dão nome aos bois (ou melhor, aos novos donos dois bois). Milionários como Luciano Benetton, Douglas Tompkins e Ted Turner são alguns dos novos proprietários de terras e recursos argentinos. "Muitos dos hectares foram comprados a preços insignificantes e com a cumplicidade ou indiferença de políticos e funcionários do governo, correspondendo às melhores áreas cultiváveis ou encontrando-se em zonas estratégicas de fronteira", escrevem. Trata-se da primeira obra a fazer esse levantamento e a apresentar as dramáticas conseqüências sociais deste processo de concentração de terras e recursos naturais.
 
     Benetton, o maior latifundiário do país
     O processo de estrangeirização das terras argentinas é mais forte nas regiões da Patagônia e do norte do país. Nestas áreas, verifica-se também a maior concentração de milionários estrangeiros, "beneficiados com atitudes flexíveis de distintos governos – tanto nacionais como provinciais – que permitiram a venda de milhões de hectares e recursos naturais não renováveis, sem restrições e a preços módicos", denunciam Klipphan e Enz. Segundo eles, chegou-se ao cúmulo de investidores estrangeiros comprarem enormes extensões de terra ao preço de um hambúrguer do McDonald's ou de um par de tênis Nike ou Adidas. Um dos resultados dessas transações é que, hoje, o maior latifundiário privado da Argentina é o grupo italiano Benetton, que possui cerca de 900 mil hectares no país (uma área equivalente a 4.500 vezes a superfície da cidade de Buenos Aires).
 
Região da Patagônia.
 
     Conforme um estudo da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (Flacso), dos 80 mil proprietários de terras na região pampeana, na província de Buenos Aires (a zona mais fértil e cara do país), os primeiros 1250 possuem 35% das terras. Além disso, os 50 maiores proprietários detém 2,4 milhões de hectares, 15% mais do que final da década de 1980 (segundo dados do Censo Nacional Agropecuário, realizado em 2002). A concentração de terras pode ser ainda maior, advertem os jornalistas argentinos, uma vez que muitas vezes é praticamente impossível seguir o rastro dos verdadeiros donos das terras, porque as mesmas aparecem em nome de dezenas de sociedades anônimas, grande parte das quais, sediadas em paraísos fiscais como Bahamas, Uruguai e Ilhas Cayman.
 
     "O ano de ouro na Argentina"
     O interesse dos investidores internacionais está dirigido também para o que existe debaixo do solo na Argentina. Em San Juan, La Rioja, Jujuy e Catamarca estão instaladas as maiores empresas mineradoras do mundo, que exploram reservas de ouro e prata. Klipphan e Enz citam alguns números para caracterizar a dimensão deste mercado. A produção mineira argentina passou de 481 milhões de dólares, em 1994, para cerca de 900 milhões, em 2005. O número de empresas estrangeiras no setor saltou de quatro, em 1986, para 50. Os ex-presidentes Carlos Menem e Fernando de la Rúa incentivaram essa expansão de investimentos estrangeiros no setor minerador. De la Rúa chegou a dizer que 2000 seria "o ano de ouro na Argentina". Como se sabe, não foi exatamente isso que ocorreu.
     O entusiasmo de De la Rúa com a mineração, assinalam os jornalistas, ocorreu depois de uma viagem aos Estados Unidos. Na bagagem de retorno, o ex-presidente argentino trouxe a promessa de investimentos de aproximadamente 1 bilhão de dólares por parte de empresários norte-americanos. No dia 17 de junho de 2000, a revista argentina "Notícias" denunciou que De la Rúa havia omitido um "pequeno detalhe" em torno deste grande negócio: um primo dele e um contador da família possuíam investimentos milionários no setor minerador.
Zonas de fronteira à venda
     O livro investiga ainda um fenômeno que também está ocorrendo no Brasil: a compra de terras em áreas de fronteira por investidores estrangeiros (como ocorre no Rio Grande do Sul, por exemplo, envolvendo grandes empresas de celulose). Durante o governo de Carlos Menem, estrangeiros adquiriram 1.773.000 hectares de terras em zonas de fronteira. Nos primeiros quatro anos do governo Kirchner, esse número caiu para 160 mil hectares.
     Não há legislação proibindo essas compras na Argentina. Existem, atualmente, na Câmara de Deputados e Senadores e em oito assembléias provinciais, 38 projetos protocolados propondo a adoção de regras de controle e limitação para a compra de terras por parte de estrangeiros. Estão, ou parados, ou em fase de tramitação. Uma das conseqüências sociais mais danosas deste novo processo de colonização, denunciam os jornalistas em seu livro, é que cerca de 200 mil produtores agropecuários perderam suas terras nas últimas décadas do século XX, tendência que se manteve nos primeiros anos do século XXI. A jornalista Maria Seoane advertiu para os riscos desta situação: "o processo de estrangeirização da terra e dos recursos naturais e estratégicos, ocorrido nos últimos 15 anos, e com singular força nos anos 90, é tão acelerado e complexo que ainda é difícil de medir todas as suas conseqüências".
     Um alto funcionário do Ministério do Interior revelou aos jornalistas que, entre 2002 e 2006, foram protocolados na Secretaria de Segurança do Interior, 2358 pedidos de investimentos em zonas estratégicas denominadas "zonas de segurança". Essas áreas compreendem 150 quilômetros de fronteira, abrangendo a Cordilheira dos Andes e 50 quilômetros na faixa de litoral. E possuem uma das maiores concentrações de recursos naturais, água potável e terras cultiváveis do país. Do total destas áreas em mãos de estrangeiros, 90% do total estão sendo usadas para exploração mineradora.
     Mas esses dados já envelheceram, destacam Klipphan e Enz. No final de agosto de 2006, Bill Gates anunciou que investiria cerca de 120 milhões de dólares na Argentina para extrair prata das minas de Santa Cruz. A água também é objeto de forte interesse dos investidores internacionais. Douglas Tompkins, maior proprietário privado de recursos naturais vinculados à água na Patagônia e ns Esteros do Iberá, é dono de cerca de 90 mil hectares de terras em zonas de fronteira. Além disso controla a nascente e a desembocadura do rio Santa Cruz, o mais caudaloso da Patagônia.
 
Autor: Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior

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