segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Clima: cientistas buscam novas formas de ver riscos

     Cientistas estão tentando melhorar as previsões sobre o impacto do aquecimento global neste século reunindo estimativas sobre o risco de inundações ou de desertificação.
     "Temos certeza sobre alguns dos aspectos da futura mudança climática, como o de que vai ficar mais quente", disse Matthew Collins, do Met Office (Departamento Britânico de Meteorologia). "Mas muitos dos detalhes são difíceis de dizer", acrescentou.
     "A forma como podemos lidar com isso é uma nova técnica de expressar as previsões em termos de probabilidades", disse Collins, referindo-se à pesquisa climática publicada na revista Philosophical Transactions, da Real Sociedade britânica.
     Os cientistas do painel climático da ONU, por exemplo, usam complexos modelos informatizados para prever o impacto do aquecimento neste século, em quesitos como precipitação pluviométrica na África ou elevação no nível dos mares.
     Mas esses modelos têm falhas devido à falta de compreensão sobre a formação das nuvens ou a reação do gelo antártico ao aquecimento, por exemplo. Além disso, os registros de temperatura na maioria dos países remontam a apenas 150 anos.
     Sob as novas técnicas, "as previsões de diferentes modelos são somados para produzir estimativas da futura mudança climática, junto com suas incertezas associadas", disse a Real Sociedade em nota. A abordagem pode ajudar na quantificação de riscos para uma construtora que faça casas num vale inundável ou uma seguradora, por exemplo.
     Collins disse também que as incertezas incluem como os desastres naturais afetam o clima. Uma erupção vulcânica, como a do monte Pinatubo, nas Filipinas, em 1991, pode temporariamente resfriar a Terra, porque a poeira bloqueia a luz solar. "A ciência climática é uma ciência muito nova, e mal começamos a explorar as incertezas", disse David Stainforth, da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha), que contribuiu com a pesquisa da Real Sociedade.
     "Devemos esperar que a incerteza aumente em vez de diminuir", afirmou ele, referindo-se às pesquisas dos próximos anos e acrescentando que isso complica a precisão no estabelecimento de probabilidades.
     Por exemplo, arquitetos que projetam escolas na Europa querem saber se haverá mais ondas de calor, como a de 2003, quando as crianças chegaram a ser proibidas de brincar nos pátios devido ao risco de queimaduras e câncer de pele. De posse dessa previsão, os arquitetos poderiam projetar escolas com mais áreas sombreadas para brincar.
     "Mas pode ser o caso de que temperaturas mais altas signifiquem mais nuvens, então não haveria o risco de câncer de pele. Fatores alheios à temperatura são os mais difíceis de prever", explicou Stainforth.
 
Fonte: Terra - Reuters

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Lado B do livro "O mundo sem nós" escancara divórcio fatal entre os humanos e o planeta

     Para o autor, Allan Weisman, a espécie humana já alterou o curso da Terra
Eduardo Geraque escreve para o caderno "Mais" da "Folha de SP":
    Apesar de ter, talvez, um título errado e algumas páginas arrastadas demais, o livro "O Mundo Sem Nós", do professor-jornalista americano Allan Weisman, que acaba de chegar ao mercado brasileiro pela Editora Planeta, tem pelo menos um ponto bastante relevante.
    Na verdade, o leitor que resolver atravessar as 382 páginas da obra deveria fazer isso com a atenção redobrada em um outro livro que também está ali, diante dos seus olhos, mas que não foi o objetivo principal do escritor americano.
    Como sem presente não existe futuro, antes de pensar no legado humano quando, por ventura, o Homo sapiens desaparecer de vez, é preciso antes de mais nada refletir no mundo com esses seres vivos sobre ele.
    "O mundo conosco" poderia ser o título desse lado B da obra do jornalista americano, que também tem uma visão bem americana de mundo.
     Em um capítulo sobre evolução humana, por exemplo, teorias acalentadas por cientistas brasileiros -para quem a ocupação das Américas foi bem mais antiga do que se imagina- foram solenemente ignoradas.
     E, nesse caminho oculto do livro, os exemplos que aparecem são espetaculares e trágicos, apesar de Weisman – que além de viajar pelo mundo atrás de boas histórias também leciona na Universidade do Arizona – tentar dar um final menos apocalíptico a sua obra.
     No livro – que não é de ficção científica mas sim de não-ficção, baseado em extenso conjunto de fontes de vários segmentos – o jornalista descreve, por exemplo, como seriam os dias seguintes de Nova York (EUA) sem os seus moradores.
     O início do fim da cidade não demoraria quase nada, segundo o autor.
     Em 48 horas, os túneis do metrô já estariam totalmente inundados. Isso só não ocorre normalmente hoje porque funcionários e bombas d'água estão sempre trabalhando. (Excepcionalmente, as chuvas desta última semana conseguiram vencer os esforços humanos.)
     Os charmosos edifícios que formam hoje o "skyline" de Manhattan, estariam quase todos em ruínas em quatro anos por causa do ciclo congelamento-descongelamento.
     A queda de um deles teria o mesmo efeito que uma árvore caindo na floresta. Clareiras seriam abertas na selva de pedra.
     Em 500 anos, a floresta estaria de volta. É mesmo! As grandes cidades, como também é o caso de São Paulo, Rio de Janeiro e tantas outras no Brasil e no mundo, não estiveram onde estão desde o início.
 
     Plásticos invisíveis
     No mar, um outro rastro humano impensável para a maioria dos terráqueos foi descoberto por um grupo de pesquisadores ingleses, da Universidade de Plymouth.
     Há algum tempo eles estavam tentando saber o que era pequenos grânulos estranhos que apareciam sob os seus microscópios.
     A história, segundo o escritor americano, começou mais ou menos assim:
     O pesquisador Mark Browne, certo dia, resolveu abrir o armário de uma laboratório onde mulheres guardavam seus produtos de beleza. Estavam lá cremes e detergentes para as mãos.
     Todos eram considerados esfoliantes, mas nem todos eram 100% naturais.
Isso que significa dizer, segundo Browne, que enquanto alguns fabricantes usavam sementes de uva ou sal marinho para esfoliar a pele, outros partiram para o plástico.
     "Grânulos microfinos de polietileno" disse o pesquisador. Isso mesmo, Browne descobriu o que eram aqueles elementos estranhos. O ciclo se fechou.
     Esses produtos, portanto, contém plásticos que vão diretamente para o ralo, para a rede de esgotos, para os rios e os oceanos. E, claro, são engolidos pelos seres marinhos.
     O cientista, preocupado com o presente mas olhando para o futuro, chega a se arrepiar. Para ele, não existe dúvida. Mesmo que a produção de plásticos acabasse hoje, a cadeia marinha vai precisar "lidar" com esses grânulos de plásticos por milhares de anos.
     Ao passear por terras e mares, Weisman acaba compondo um conjunto quase cansativo de exemplos que provam que a espécie humana já alterou o curso da Terra.
     Talvez, grande parte dos leitores do livro, nem achem isso necessariamente ruim. Afinal, a vida (e o consumo "moderno") deve seguir.
     O mais interessante, talvez, para aqueles que sabem que a espécie humana é que vive sobre o planeta e não o contrário, é perceber que depois de tudo acabar, mesmo com uma série de cicatrizes, o planeta e o universo vão conseguir seguir em frente sem muitos problemas.
     E apenas algumas estátuas de bronze, além do lixo atômico, por exemplo, ficarão para ser descobertas em um futuro muito, mas muito, distante.
 
Fonte: do Livro - "O Mundo Sem Nós" de Alan Weisman (Folha de SP, Mais!, 12/8)
 
Sobre o problema do plástico nos oceanos leia:
 
 
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