sexta-feira, 27 de julho de 2007

Poluição mata 4 milhões de crianças ao ano

Relatório da OMS diz que menores de cinco anos são mais atingidos por risco ambiental.
    Dejetos industriais e má qualidade do ar e da água são os maiores vilões.
Mais de 4 milhões de crianças com menos de 5 anos morrem todos os anos devido a fatores ambientais, principalmente devido à exposição a poluentes e à má qualidade do ar e da água, disse hoje a Organização Mundial da Saúde (OMS).
 
 
     As crianças, principalmente as de países em desenvolvimento, são mais vulneráveis aos fatores ambientais, ressalta a OMS, que calcula que 30% das mortes de menores no mundo todo podem ser atribuídas às más condições ambientais. A agência de saúde das Nações Unidas apresentou hoje seu primeiro relatório sobre o impacto do meio ambiente na saúde infantil.
     Nesse sentido, o relatório indica que as crianças têm uma suscetibilidade diferente nos distintos períodos de sua vida. Segundo a especialista da OMS, comportamentos como engatinhar ou colocar as mãos na boca aumentam o nível de exposição dos menores em relação aos mais velhos.
 
 
     Na apresentação, Pronczuk afirmou que muitos efeitos da exposição a substâncias químicas são irreversíveis e que há evidências de que doenças como câncer ou patologias cardiovasculares em adultos estão associadas a algum tipo de exposição a um agente químico durante a infância.
     No caso específico das crianças, a OMS cita alguns efeitos negativos na saúde derivados do contato com substâncias químicas, entre eles a morte pré-natal, crianças que nascem abaixo do peso, más-formações congênitas e o pouco desenvolvimento nas primeiras fases de vida. O relatório menciona ainda o surgimento da asma e outros transtornos imunológicos em crianças mais velhas e em adolescentes, como a puberdade precoce ou retardada.
 

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quinta-feira, 26 de julho de 2007

Com os dias contados?

Assentamentos ameaçam continuidade do maior estudo sobre fragmentos florestais na Amazônia
 
     Uma região ao norte de Manaus abriga desde 1979 o maior e mais longo estudo sobre fragmentos florestais do mundo. Em uma área de 1.000 km 2 , pesquisadores comparam como o isolamento de pequenos trechos da mata afeta o equilíbrio ecológico na Amazônia. O projeto já rendeu mais de 500 artigos científicos e 100 teses de mestrado e doutorado. Mas sua continuidade está ameaçada pela colonização dessa região, promovida pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), órgão público responsável pela administração da área.
 
Trecho isolado de mata estudado no Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, que procura entender como a fragmentação da floresta afeta o equilíbrio ecológico na Amazônia (fotos: PDBFF).
 
     A Suframa promoveu a instalação de assentamentos ao longo da estrada secundária que sai da BR-174 (Manaus-Boa Vista) e atravessa a área onde é realizado o Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF). Para os próximos anos, prevê-se a acomodação de 180 famílias em seis núcleos, um dos quais nas imediações de um dos acampamentos do PDBFF na região.
     As atividades predatórias praticadas nos assentamentos – como a derrubada da mata para produção de carvão e móveis – ameaçam a conservação dos trechos de mata intacta da região, usados para monitorar como as diferentes espécies se comportam nos fragmentos florestais e nas áreas de mata intocada.
     Preocupados com os prejuízos a um projeto de valor científico inestimável, pesquisadores do PDBFF fizeram, em vão, sucessivos apelos ao Suframa nos últimos anos para interromper a colonização da região. Diante do fracasso das tentativas de negociação, dois deles resolveram fazer um pedido público de socorro. Em artigo publicado na edição desta semana da Nature , eles pedem a mobilização da opinião pública para salvar o projeto.
     A presença dos novos colonos na área do estudo já mudou a paisagem da região, conforme conta a ecóloga Regina Luizão, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), coordenadora científica do PDBFF. "Hoje você pega a estrada para ir aos acampamentos e só vê aqueles telhados de zinco brilhando sob o Sol, onde antes era pura floresta". A derrubada de mata intacta está restringindo o território de onças e outros animais de grande porte, que agora estão sendo avistados com maior freqüência.
     A violência é outro temor suscitado pelos assentamentos. "Nosso acampamento que fica mais próximo da beira da estrada já foi assaltado duas vezes este ano", conta Regina. "Nossos estudantes estão coletando dados ouvindo tiros e motosserras." O artigo da Nature , assinado por ela e por William Laurance, pesquisador do Instituto Smithsoniano de Pesquisa Tropical, no Panamá, afirma que uma escalada de violência na região poderia levar a uma tragédia comparável ao assassinato da freira Dorothy Stang no Pará em 2005.
 
     Impasse institucional 
     A área em que está sendo realizado o estudo dos fragmentos florestais faz parte do chamado Distrito Agropecuário da Zona Franca de Manaus, criada com o objetivo de estimular o desenvolvimento econômico local. Inicialmente, a região estava destinada a abrigar lavouras e pastagens que permitissem abastecer o contingente populacional que Manaus deveria receber em função dessa iniciativa.
 
O mapa mostra, em vermelho, as áreas do projeto que estuda fragmentos florestais. A região delimitada em branco corresponde ao Distrito Agropecuário da Suframa, no qual estão incluídas as áreas estudadas. Clique no mapa para ampliar.
 
     No entanto, os solos da região se mostraram impróprios para essas atividades e as terras foram deixadas de lado. No final dos anos 1970, parte delas foi doada ao Inpa e a outras instituições científicas para a realização de estudos na área.
     Em nota distribuída à imprensa por sua assessoria de comunicação, a Suframa reafirma que a área mencionada pelos pesquisadores faz parte do Distrito Agropecuário sob sua administração.
     A Suframa alega que propôs ao Inpa em 2003 estabelecer uma zona de segurança em volta das áreas de pesquisa, mas não houve consenso em relação ao tamanho dessa zona. Segundo a nota, não foram feitos desde então assentamentos de famílias no entorno da área destinada aos estudos – o que os autores do artigo da Nature contestam. De qualquer forma, a Suframa não abre mão da sua prerrogativa de instalar um pólo agropecuário na região.
     "A Suframa tem buscado dar total apoio ao trabalho das instituições de pesquisa desenvolvido nessa área, sem prejuízo ao objetivo-fim do Distrito Agropecuário, que é o de possibilitar a atividade de produtores rurais mediante rígidos critérios, de forma sistemática e organizada, de modo a viabilizar a ocupação e exploração econômica, ecologicamente correta e socialmente desejável das áreas ocupadas com atividades agrícolas e agroindustriais, com o objetivo de atender a grande demanda por terras agricultáveis, visando a geração de emprego e renda na região", afirma a nota.
 
     Relatório ignorado 
     Regina Luizão alega que os assentamentos promovidos pela Suframa são ilegais, pois estão sendo feitos sem qualquer licenciamento ambiental. O mais irônico, afirma ela, é que a colonização da região desrespeita as recomendações de um relatório feito para orientar o zoneamento econômico e ecológico do Distrito Agropecuário da Zona Franca de Manaus. O documento foi encomendado pela própria Suframa a especialistas, entre os quais alguns pesquisadores do PDBFF.
     "Esse relatório diz claramente que as atividades de maior impacto para o território do Distrito Agropecuário são a expansão urbana, a atividade de carvoaria e a pecuária de corte", conta Regina. "A Suframa recebeu em 2005 o relatório que ela encomendou e pagou com dinheiro público, relutou em liberar o documento e está fazendo o contrário do que ele recomenda!" 
 
Um dos sete acampamentos que o Projeto Diversidade Biológica de Fragmentos Florestais mantém na Amazônia.
 
     A Suframa se defende dizendo que a entrega do relatório "foi apenas o primeiro passo de um amplo processo para sua implantação, que envolve a análise do conteúdo e recomendações do estudo, que está em fase final de realização por uma comissão interdepartamental". Antes de sua implementação, afirma a nota da Suframa, as recomendações precisam também ser submetidas à aprovação do Ministério do Meio Ambiente e do governo do Amazonas.
     Os autores esperam que o apelo lançado à opinião pública com o artigo da Nature ajude a resolver o impasse institucional. Segundo eles, não resta muito tempo para agir: em julho, quando começa a estação seca e a temporada de queimadas na Amazônia, a ameaça se intensifica. "Na estação seca é muito difícil controlar o fogo", explica Regina Luizão. "Há um risco enorme de vermos milhões de dólares investidos ao longo de 28 anos sumirem em fumaça."  
 
Autor: Bernardo Esteves  - Ciência Hoje On-line
Disponível em: http://cienciahoje.uol.com.br/97185

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Ibama aplica multa de R$ 2 milhões a fábricas de xaxim no Paraná

     O Escritório Regional do Ibama em União da Vitória, Paraná, realizou uma mega apreensão de vasos e toras de xaxim (Dicksonia sellowiana), no município de Pinhão, no Estado.
 
Xaxim (Dicksonia sellowiana) em ambiente natural.
 
     Esta espécie é ameaçada de extinção e predomina no bioma Mata Atlântica e em especial na Floresta Ombrófila Mista.
Ao todo foram fechadas três fábricas de processamento de Xaxim, apreendido o maquinário, além de 11 mil vasos e mais de 100 metros cúbicos de toras de madeira; o equivalente a mais de duas mil toras.
 
Vasos de Xaxim.
 
     Denúncias vinham sendo apuradas há cinco anos e só foi possível localizar as fábricas com o auxílio de um helicóptero do NOA - Núcleo de Operações Aéreas, da Diretoria de Proteção Ambiental do Ibama, tendo em vista o local ser de difícil acesso e camuflado na mata. (Ibama)
 
Fonte: Ambiente Brasil

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terça-feira, 24 de julho de 2007

A queda dos químicos

     A Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (National Academy of Sciences) jogou uma bomba no lobby dos agrotóxicos esse mês. Publicou um estudo indicando que os pesticidas, na verdade, diminuem o volume das colheitas em um terço. Isso porque eles matam algumas bactérias importantes para o solo.
 
Bactérias do solo
 
     Esses micro-seres produzem uma forma de nitrogênio utilizado como fertilizante natural pelas plantas. O texto afirma que a mortes dessas bactérias não só prejudicam o desenvolvimento das plantas como aumentam a dependência por adubos químicos e reduz a fertilicade do solo, o que faz cair a produtividade. Os proprietários de monoculturas de algodão devem ficar de olho, já que essas recebem até oito vezes mais pesticida do quas as plantações de alimentos.
 
Plantação de trigo
 
     Do outro lado, a favor dos orgâicos, temos um estudo da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, que mostra a agricultura orgânica como mais produtiva do que a agricultura industrial. Os pesquisadores reuniram 293 exemplos em estudos demonstrando que a agricultura orgânica é melhor do que a convencional. Eles ainda afirmam que muitos estudos tendenciosos e financiados pelas indústrias químicas vêm distorcendo o entendimento público deste tema.
 
Fonte: Lia Bock - Blog do Planeta

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Japão: metade das baleias caçadas estavam prenhes

     Mais da metade das baleias capturadas pelos baleeiros japoneses em águas da Antártida neste verão estavam prenhes, denunciou hoje o grupo conservacionista Humane Society International (HSI).
 
Caça a baleia Minke por barcos do Japão

     A porta-voz do grupo na Austrália, Nicola Beynon, disse em comunicado que das 505 baleias minke capturadas na Antártida, 262 eram fêmeas prenhes. Beynon disse também que os baleeiros japoneses caçam centenas de baleias na Antártida alegando motivos científicos.
     "São horríveis estatísticas que o governo japonês disfarça como ciência", disse Beynon. O documento da HSI é uma resposta ao relatório do Japão sobre a caça de baleias na Antártida em 2006-2007, divulgado na reabertura do processo do grupo ambientalista contra a empresa japonesa Kyodo Senpaku Kaisha, num tribunal australiano.
 
 
     Beynon acrescentou que a audiência determinará as violações cometidas contra as leis australianas pelos baleeiros japoneses no santuário situado a cerca de 160 quilômetros do litoral da Antártida, mais de 2 mil quilômetros ao sul da Austrália.
     Em fevereiro, a organização ambientalista Greenpeace informou que o Japão caçou pelo menos 7.650 baleias "com pretextos científicos" entre 1987 e 2006.
 
Fonte: EFE  - Terra Notícias
 

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segunda-feira, 23 de julho de 2007

Em "God Is Not Great", ateísmo de ensaísta vira nova religião

"Esse é o problema do panfleto de Hitchens: preocupado em derrubar a religião, o seu ateísmo converte-se numa nova forma de religião. Dogmática, intolerante. E, como em todos os extremismos, capaz de conceder a Deus uma importância de vida ou morte. Sobretudo a um Deus em que não se acredita. É a suprema ironia"
 
     O que seria de nós sem Deus? A pergunta é antiga, a urgência é recente: no dia 11 de setembro de 2001, as Torres Gêmeas desabavam perante os olhos incrédulos do mundo.
 
Queda do World Trade Center em 11 de setembro de 2001
 
     E entre os responsáveis pelo massacre, Deus também estava na lista. Se a religião não existisse, o fanatismo jamais teria voado até Nova York. A religião destrói tudo. A história da religião é a história da desgraça humana.
Christopher Hitchens acredita que sim, em "God Is Not Great". Esclarecimento: gosto de Hitchens e há vários anos que acompanho o bicho. Não é fácil: são duas dezenas de livros e incontáveis colunas para incontáveis publicações de elite (da "New Statesman" à "Vanity Fair", da "Slate" ao "TLS").
     Depois de Mencken e Gore Vidal, Hitchens tem a raríssima qualidade de conciliar profundidade teórica com um destrutivo e impressivo sentido de humor. Irresistível, não?
     Sem dúvida. Irresistível mas falível, sobretudo quando a profundidade não acompanha o humor. Acontece com "God Is Not Great", que provoca riso e frustração em qualquer leitor informado.
     O riso está na iconoclastia de Hitchens (Maomé era epilético? Jesus morreu pelos pecados dos homens mas ressuscitou ao terceiro dia?), uma iconoclastia que procura mostrar duas coisas: primeiro, que a existência de Deus é uma impossibilidade; e, segundo, que as religiões organizadas são uma malignidade.
     A frustração está na natureza pouco convincente dos argumentos.
Para Hitchens, a existência de Deus é uma impossibilidade pela razão bem simples de que foram os homens a criar o divino, e não o contrário.
     Basta olhar em volta: como conciliar a idéia de um criador perfeito com o estado imperfeito do mundo?
     Na verdade, um mundo imperfeito não é incompatível com um criador perfeito se a liberdade humana é, simultaneamente, uma dádiva e um princípio de indeterminação. Se Hitchens tivesse lido santo Agostinho, saberia disso.
     E sobre um Deus criado pela imaginação humana, a tese, que é uma repetição do trio maravilha (Feuerbach, Marx, Freud), não passa de uma profissão de fé, impossível de prova racional.
     Não é preciso ser crente para subscrever o truísmo: é impossível provar a existência, ou a inexistência, de Deus. Verdade que o objetivo de Hitchens não é apenas esse.
     A existência de Deus é um pormenor quando existem homens que matam em Seu nome. Matam em Belfast. Em Beirut. Em Belgrado. Em Belém. Em Bagdá. E apenas para ficarmos pela letra "B", como diz Hitchens com típico humor.
 
Guerra em Beirute
 
     Infelizmente, e uma vez mais, o humor não basta. Não basta porque não é possível condenar toda a religião organizada tendo em conta as suas expressões mais extremas.
     Porque tudo pode ser perigoso quando levado ao extremo: a fé; a raça; a nação; o amor; o futebol; a estupidez. Além disso, os problemas que Hitchens traz na sua lista "B" não são apenas explicáveis pela religião.
     Só um ingênuo acredita, por exemplo, que o problema israelo-palestino é uma contenta religiosa entre extremistas. A história, a política e as ideologias que sacudiram o Oriente Médio (desde, pelo menos, a queda do Império Otomano) tiveram uma palavra maior.
     Soluções? Para começar, Hitchens não aceita a objeção esperada de que os regimes que aboliram a religião acabaram por descer a níveis impensáveis de desumanidade.
     Desde logo porque, para o autor, esses regimes não aboliram a religião; apenas a transmutaram numa ideologia servida por capacidade tecnológica letal.
     Ainda que isso fosse verdade (não é), esse seria um argumento a favor da manutenção de uma religião tradicional (como Burke, no século 18, ou Tocqueville, no século 19, ou Aron, já no século 20, sublinharam).
     A religião tradicional é conhecida. A transmutação gera o desconhecido.
     Para terminar, Hitchens lança um convite para um novo "iluminismo", capaz de dispensar a religião e alimentar a alma humana com arte e literatura.
     É uma boa proposta, sem dúvida, mas talvez fosse interessante saber que tipo de arte e literatura Hitchens aconselha aos novos iluminados.
     Razão simples: a história da arte no Ocidente é indissociável da herança judaico-cristã que a contaminou. Eu, pessoalmente, só vejo um caminho: lançar na fogueira todas as obras que transportem resquícios religiosos.
     Porque esse é o problema do panfleto de Hitchens: preocupado em derrubar a religião, o seu ateísmo converte-se numa nova forma de religião. Dogmática, intolerante.
     E, como em todos os extremismos, capaz de conceder a Deus uma importância de vida ou morte. Sobretudo a um Deus em que não se acredita. É a suprema ironia.

Autor: João Pereira Coutinho Folha de SP - Jornal da Ciência

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Floresta em dólar

     Os americanos começam a encontrar formas precisas de avaliar quanto
vale o serviço que as florestas prestam ao país.
 
Um levantamento feito em abril avaliou que as florestas do estado de New Jersey cumprem o papel importante em alguns quesitos, como filtrar a água das chuvas (para manter os rios limpos), conter enchentes e polinizar as lavouras.
     Esse trabalho valeria de US$ 8,6 bilhões a US$ 19,8 bilhões por ano. Outro levantamento, divulgado em janeiro, estima que as áreas naturais da Bacia do Rio Mackenzie, no Canadá, valeriam US$ 448 bilhões por tudo que fazem pelo ambiente.
     É um bom argumento para quem ainda diz que defender árvore é perda de tempo. Seria interessante calcular quanto valem nossas florestas, que são trocadas por quase nada para virar pastagens pouco produtivas.
 
Autor: Alexandre Mansur - Blog do Planeta

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Ministério debate cadeias produtivas baseadas na biodiversidade

     O Ministério do Meio Ambiente, por meio da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável, promove nesta segunda-feira (23) palestra, seguida de debate, sobre o apoio a cadeias e arranjos produtivos locais baseados em recursos da sociobiodiversidade. O objetivo é discutir uma metodologia inovadora para expandir a escala de produção de produtos como açaí, babaçu, pinhão, carnaúba, copaíba, buriti, andiroba, baru, entre outros. O evento ocorrerá a partir das 15h no auditório do Ministério da Cultura, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
 
Pinhão como recurso da biodiversidade.
 
     Segundo a diretora de Extrativismo do MMA, Muriel Saragoussi, a produção nacional tem potencial subutilizado no mercado. "Esses produtos representam hoje apenas 0,4% do PIB. É preciso multiplicar esse número", disse a diretora, que atuará como moderadora do debate.
     Durante a palestra, serão apresentados conceitos e estratégias para o apoio a cadeias e arranjos produtivos locais, a partir da experiência do Projeto Competir (Senai/Sebrae/GTZ) no Nordeste. A idéia é contribuir para a construção de uma visão sistêmica e articulada do governo e da sociedade sobre o tema, além de unir esforços para implementação de projetos que poderão se transformar em políticas públicas. "É uma oportunidade de valorizar os conhecimentos tradicionais, os povos tradicionais, de proteger os ecossistemas e promover a melhoria da qualidade de vida das populações", disse Muriel Saragoussi.
     Para o assessor técnico da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável, Bruno Filizola, o evento será uma oportunidade para discutir a importância do diálogo multiinstitucional com os diversos atores das cadeias produtivas e o papel dos órgãos de apoio a políticas públicas. "Com isso, buscaremos formas para resolver os gargalos desse setor", afirmou. (MMA)
 
Fonte: Ambiente Brasil

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domingo, 22 de julho de 2007

Florestas em pé, para quê?

Questão que é política e também econômica, a utilização controlada de florestas nativas, no centro do debate sobre mudanças climáticas, expõe fragilidades das posições brasileiras
 
     O combate ao desmatamento de florestas nativas ganhou dimensão política e econômica nunca antes alcançada, graças, em grande medida, à intensificação do debate sobre mudanças climáticas.
     Com isso, começam a delinear-se perspectivas para o financiamento internacional da preservação de recursos verdes e de todo seu conteúdo de biodiversidade.
     Persistem, porém, obstáculos à concretização das melhores expectativas a esse respeito, no Brasil, por razões também relacionadas à qualidade da percepção, ultrapassada, que aqui se tem de relações entre uso controlado de recursos naturais e crescimento econômico.
     No último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) se reconhece, com grau elevado de certeza, que as emissões causadas por mudanças no uso da terra, ou seja, desmatamentos e queimadas, respondem por até 20% das emissões mundiais de gases de efeito estufa.
 
Floresta sendo queimada.
 
 
     É a segunda maior contribuição após o setor de energia. Verificou-se ainda que o modo mais barato de fazer um corte drástico na poluição atmosférica seria evitar a perda de florestas tropicais.
     O Banco Mundial dá os primeiros passos para criar um mecanismo internacional de financiamento para países com grandes porções de floresta preservada vai colocar dinheiro em atividades econômicas que mantenham as árvores de pé e calculará quanto carbono deixará de ser emitido ao se evitar a queima da vegetação.
     Assim, será possível gerar créditos que serão vendidos a países e empresas que precisam reduzir seus gases estufa. A idéia está em fase preliminar, mas o banco já anunciou que terá US$ 200 milhões para projetos-piloto até 2014.
     A criação de instrumentos internacionais de controle sobre as florestas nativas é discutida há algum tempo.
     Esperava-se que, assim como foram instituídas nas Nações Unidas as convenções para lidar com o clima e a biodiversidade, houvesse um fórum específico para cuidar de questões florestais.
     O projeto esbarrou na resistência dos países em desenvolvimento (entre eles, o Brasil) em submeter seus recursos naturais a controle internacional.
     A questão de soberania ainda pesa, mas o aquecimento global abriu as portas para que as nações ricas em biodiversidade sejam instadas a preservá-la.
     E, assim como durante toda a década de 1990 o crédito internacional esteve atrelado à estabilidade econômica e ao combate à inflação, não é exagero dizer que se caminha para a concessão de financiamentos internacionais condicionados à estabilidade ambiental com controle do desmatamento.
     O pesquisador da Universidade de Oxford Andrew Mitchell explica que, além da questão do clima, os países devem discutir como recompensar os serviços providos por ecossistemas preservados.
     As chuvas de zonas agrícolas estão ligadas à transpiração das áreas com florestas tropicais e por isso a produção deve sustentar a conservação.
"Devemos olhar não apenas o clima, mas todo o sistema, e o papel importante que as florestas desempenham."
 
Evapotranspiração numa floresta de Araucárias.
 
     A idéia de dar maior valor financeiro a ecossistemas preservados tem atraído a atenção de políticos brasileiros.
     Eduardo Braga (PMDB), governador do Amazonas, foi o precursor no país e seu discurso está sempre pontuado pela retórica do "desmatamento zero".
Braga lançou recentemente o Bolsa-Floresta, no qual se propõe pagar até US$ 500 por ano para pequenos proprietários que não derrubarem suas florestas.
 
Após a evapotranspiração ocorre a condensação (nuvens) e após a chuva.
 
     A disposição de organismos internacionais para financiar idéias como essa interessou também o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS).
     Sempre criticado por liderar o Estado com os mais altos índices de destruição da floresta amazônica, Maggi, um dos maiores produtores de soja do país, defende a idéia de que não se derrube nem mais uma árvore sequer.
     Para isso, diz, os produtores devem ser recompensados financeiramente.
Com poucas exceções, a maioria dos países promoveu notável destruição da vegetação nativa durante os ciclos de prosperidade.
 
Cego e chamuscado por uma queimada na Transamazônica, o tamanduá abre os braços: um pedido de socorro por toda a floresta.
 
     No Brasil, mesmo os ciclos econômicos pré-industriais foram calcados na destruição da Mata Atlântica.
     Hoje, são os países pobres que mais desmatam, como se vê no relatório bianual "O Estado das Florestas no Mundo", da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), publicado em março. Entre 2000 e 2005, o planeta perdeu 7,3 milhões de hectares de florestas.
     A África responde por 55% do desmatamento mundial. O Brasil é o país que, isoladamente, mais destrói florestas em todo o mundo.
     Entretanto, registra-se na Europa um crescimento de 7% nas áreas florestadas, desde 1990.
     Na América do Norte, o panorama não chega a ser de crescimento, mas de estabilidade. Nos últimos 15 anos, americanos e canadenses reflorestaram vegetação no mesmo ritmo em que suprimiram.
 
Áreas de queimadas pelo mundo.
 
     Portanto, pode ser equivocada a concepção, largamente difundida no debate ambiental - e muito cara ao governo Lula - de que riqueza e progresso estão associados a danos ao ambiente.
     Diz Giuseppe Topa, especialista em florestas do Banco Mundial, que na bacia do Congo, região com as maiores extensões de floresta tropical após a do rio Amazonas, o desmatamento e a pobreza estão intimimamente ligados.
     Lá, as pessoas esgotam os recursos naturais e se tornam cada vez mais miseráveis.
     Em alguns países da Ásia, o crescimento econômico incentivou investimentos na recuperação e conservação de florestas.
     O Oriente distante, que exclui a Rússia e os países árabes, teve aumento de 1,6% das áreas com floresta entre 2000 e 2005.
Isso ocorreu graças à China, país com as mais altas taxas de crescimento econômico no globo, que planta 4 milhões de hectares de árvores todos os anos.
     Nos últimos dois anos, a taxa de desmatamento na Amazônia caiu pela metade, de 2,6 milhões de hectares/ano para algo como 1,3 milhão de hectares.
     Mas o quê não se sabe ainda é se essa queda tem relação com políticas públicas do governo Lula, que colocou a Polícia Federal no encalço de madeireiras ilegais, ou reflete a queda no preço de commodities agrícolas, que teria reduzido o ímpeto da ocupação de terras por fazendas de soja e gado.
     De toda forma, parece haver um movimento relativamente forte de valorização dos ativos da floresta nativa brasileira.
     Para além da retórica do desmatamento zero, há grupos de pesquisadores, principalmente na Embrapa, empenhados em verificar como se pode aumentar a produtividade agrícola de áreas que já estejam desmatadas, para não se avançar em zonas preservadas.
     Ao mesmo tempo, o governo federal, através de concessões públicas para a exploração florestal, tenta legalizar a produção de madeira e outros bens florestais.
     O mesmo modelo está sendo reproduzido no Pará, no Acre e outros Estados.
     Criar uma economia florestal forte é uma saída para conservar as florestas, gerar desenvolvimento regional e contribuir para o controle do aquecimento global.
     A tese foi defendida recentemente, em entrevista ao Valor, pelo pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
     "Nós, a SBPC, a Academia Brasileira de Ciências e vários cientistas estamos propondo verdadeira revolução científica e tecnológica na Amazônia, que desenvolva as bases empresariais, sociais e econômicas de uma economia baseada no valor da biodiversidade", afirmou Nobre.
     O combate ao aquecimento global traz uma boa oportunidade para se aumentar o valor econômico das florestas.
     No xadrez das negociações internacionais da Convenção das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, países desenvolvidos mostram-se razoavelmente dispostos a financiar nações emergentes, como o Brasil, que se disponham a coibir a degradação de regiões preservadas.
     No entanto, a maior dificuldade está em como arquitetar um sistema no qual os países que recebam recursos possam comprovar que estão realmente barrando a degradação. Isso exigiria investimentos em monitoramento e fiscalização.
     "Transparência é peça-chave no combate ao desmatamento", argumenta Mike Packer, diretor da Globe International, organização que promove encontros entre parlamentares do G8 com representantes das economias emergentes, como Brasil, China e Índia.
     A Globe está elaborando propostas para aumentar a governança sobre as atividades florestais nos países em desenvolvimento.
Isso inclui desde a criação de mapas com todas as áreas cobertas com vegetação nativa até estabelecer políticas de acompanhamento das taxas de desflorestamento, algo que já ocorre na Amazônia brasileira, mas está longe de se tornar realidade em países africanos.
     Aumentar o controle e transparência, embora essencial para concretizar um mecanismo internacional de financiamento para a conservação de florestas nativas, ainda gera resistências em boa parte dos diplomatas do governo Lula.
     Nas negociações do novo acordo para o combate às mudanças climáticas, que substituirá o Tratado de Kyoto em 2013, a diplomacia brasileira não quer ver a comunidade internacional determinando quais serão os limites para a degradação em solo nacional.
     Conter o desmatamento, afinal, significa interferir na questão agrícola e fundiária em nível doméstico. Sem metas claras, mesmo que não sejam ambiciosas como o desmatamento zero, será difícil ver dinheiro saindo dos países ricos.
 
Autor: Gustavo Faleiros escreve de Brasília para o "Valor Econômico" - Jornal da Ciência

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