sábado, 29 de setembro de 2007

A Morte - A Dor de uma Perda

Aconteceu numa praça, no Japão. Não se sabe como o pássaro morreu. Ele estava ali no asfalto, inerte, sem vida. Seria um fato corriqueiro, mas o fotógrafo fez a grande diferença.



A Solidariedade
Segundo o relato do fotógrafo, uma outra ave permanecia próxima àquele corpo sem vida e ficara ali durante horas. Chamando pelo companheiro, ela pulava de galho em galho, sem temer os que se aproximavam, inclusive sem temer ao fotógrafo que se colocava bem próximo.


A Solicitação
Ela cantou num tom triste. Ela voou até o corpinho inerte, posou como querendo levantá-lo e alçou vôo até um jardim próximo. O fotógrafo entendeu o que ela pedia e, assim, foi até o meio da rua, retirou a ave morta e a colocou no canteiro indicado. Só então a ave solidária levantou vôo e, atrás dela, todo o bando.



A Despedida.
As fotos traduzem a seqüência dos fatos e a beleza de sentimentos no reino animal.


Uma Questão de Amor e Carinho.
Segundo o relato de testemunhas, dezenas de aves, antes de partirem, sobrevoaram o corpinho do companheiro morto. As fotos mostram quanta verdade existiu naquele momento de dor e respeito.



Um grito de dor e lamento
Aquela ave que fez toda a cerimônia de despedida, quando o bando já ia alto, inesperadamente voltou ao corpo inerte no chão e, num grito de não aceitação da morte, tenta novamente chamar o companheiro à vida. Desesperada, mas com amor e carinho, ela se despede do companheiro, revelando o seu sentimento de dor.


Mas, agora, me respondam: Serão os animais realmente os irracionais?

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Herbicidas podem ser causa de animais bicéfalos

     O nascimento de animais com má formação genética ainda causa espanto nas pessoas pelos impressionantes tipos de deformações. Em localidades mais distantes, acredita-se que o animal possa trazer má sorte à região. Mas para a professora Maria Lúcia Zaidan, que trabalha na área de patologia da Universidade de São Paulo (USP), um dos fatores que podem causar essas anomalias são os herbicidas.
     Zaidan afirma que durante a fase fetal ocorre uma proliferação celular na área em que os tecidos estão se formando. "Em algumas ocasiões, um agente tóxico pode interferir no desenvolvimento do embrião, gerando um animal com má formação genética."
 
Herbicidas podem ser a causa de animais com anomalias, como esta bezerra nascida em uma fazenda americana
 
     "Colocar herbicida no pasto pode intoxicar o alimento que será ingerido pelo animal, e, neste caso, também depende da quantidade de substâncias tóxicas presentes na comida e quanto o animal se alimentou."
     Mas a professora é cautelosa ao elencar as possíveis causas para as anomalias e afirma que outros fatores podem ser os causadores do defeito, além dos herbicidas. "A deformidade no animal também pode ser de natureza hereditária, funcional, metabólica e comportamental", informou.
     Segundo a professora, uma pequena porcentagem de anomalias ocorre por causa de um mau cruzamento antes da reprodução. "Muitas vezes são deficiências hereditárias adquiridas geneticamente, mas a falta de nutrientes saudáveis na alimentação do animal também pode ser um fator determinante", destacou.
     Sobre a possibilidade de o animal sobreviver com a anomalia, ela explicou que depende muito do tipo de má formação, já que existem vários exemplos de problemas genéticos. "Existem defeitos compatíveis e as incompatíveis com a vida. Em algumas delas, o animal pode sobreviver e se adaptar à vida com o seu defeito".
     No caso da criação de gado, Zaidan explicou que geralmente acontece o sacrifício, por "menor que seja" o problema, e "mesmo que o animal seja saudável", para futuramente não trazer problemas à reprodução.
 
Fonte: Terra Notícias

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quinta-feira, 27 de setembro de 2007

China admite risco de desastre ecológico em maior represa do mundo

     A China reconheceu pela primeira vez, após negar reiteradamente as advertências dos ecologistas, que a represa das Três Gargantas, o maior projeto hidrelétrico do mundo, pode provocar uma catástrofe ambiental.
     Segundo a agência estatal Xinhua, especialistas e funcionários chineses concordaram em um fórum que o projeto, iniciado em 1993, supõe um impacto "notavelmente adverso" na área de 600 quilômetros quadrados que cerca a represa, com contaminação e deslizamentos de terra.
 
Capacidade instaladas das maiores represas.
 
     "Se não forem adotas medidas, o projeto pode levar a uma catástrofe", alertaram os participantes do encontro, que durou dois dias e terminou na terça-feira (25) em Wuhan, capital da província central de Hebei.
     O "enorme peso" da água após a construção da represa começou a erodir as margens do rio Yang Tsé em muitas partes, o que, junto com as freqüentes oscilações do nível hídrico, causou vários deslizamentos de terra.
     Essa é a primeira vez que Pequim reconhece os danos causados por um de seus projetos mais importantes, que obrigou a deslocar mais de 1 milhão de pessoas, destruiu relíquias culturais e contribuiu para a diminuição de espécies animais e vegetais.
     "É um bom passo, mas é preciso fazer estudos e investigações muito mais profundos sobre as mudanças que a construção da represa está provocando", afirmou hoje à Efe Wang Yongcheng, da organização governamental chinesa Voluntários Verdes.
 
Represa Três Gargantas
 
     Yongcheng explicou que, nos últimos dois anos, o rio Yang Tsé e seus afluentes alcançaram seus níveis mais baixos, algo que "não pode ser atribuído apenas à mudança climática, mas também aos efeitos da represa".
     "Não podemos de maneira nenhuma baixar a guarda diante dos problemas de segurança ecológica e ambiental causados pelo projeto", afirmou no fórum Wang Xiaofeng, diretor do governamental Comitê do Projeto das Três Gargantas.
     A erosão e os deslizamentos nas colinas ao redor da represa, as divergências sobre os assuntos ligados à terra e à "deterioração ecológica causada pelo desenvolvimento irracional" são, em sua opinião, as principais ameaças do projeto, que tem um orçamento de cerca de US$ 25 bilhões.
     A qualidade de água nos afluentes do Yang Tsé também caiu e os surtos de algas e outras plantas aquáticas tornaram-se mais freqüentes.
Localizada no terceiro rio mais extenso do mundo, a represa das Três Gargantas, que tirou de Itaipu o posto de maior do mundo, já começou a gerar eletricidade e estará totalmente concluída em 2008.
 
Fonte: Folha Online - Jornal

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A solução está no mar

     Em correspondência publicada na edição de hoje (27/9) da revista Nature, o cientista e ambientalista James Lovelock propõe uma ação radical para estimular a capacidade de a Terra curar a si mesma, como um tratamento de emergência para o que chama de "patologia do aquecimento global".
 
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     O texto foi publicado em co-autoria com Chris Rapley, do Museu de Ciência de Londres. Lovelock, da Universidade de Oxford, é o criador da hipótese de Gaia, sugerida para explicar o comportamento sistêmico do planeta Terra, encarado como um grande organismo.
     Os dois propõem que sejam instalados nos oceanos tubos que, com o movimento das ondas, bombeariam para a superfície a água que está entre 100 metros e 200 metros de profundidade. Segundo eles, a mistura de águas ricas em nutrientes sob a termoclina – região onde há um decréscimo brusco de temperatura da água – com a água relativamente estéril da superfície estimularia o crescimento das algas.
     "A água bombeada fertilizaria as algas na superfíce e estimularia seu desenvolvimento. Isso diminuiria o dióxido de carbono e produziria dimetil sulfito, o precursor dos núcleos que formam nuvens refletoras de luz solar", diz o artigo.
     Os canos teriam cerca de 10 metros de diâmetro, com uma válvula unilateral na parte de baixo, permitindo que o movimento das ondas produza o bombeamento.
     De acordo com os cientistas, processos naturais que normalmente serviriam para regular o clima estão sendo levados a acirrar o aquecimento global. "É duvidoso que qualquer técnica, ou esquema social bem intencionado, de redução das emissões de carbono possa restaurar o status quo", sugerem.
     O radicalismo da proposta é justificado pelos cientistas pela emergência da situação. "Precisamos de uma cura fundamental para a patologia do aquecimento global. Esse tratamento de emergência poderia estimular a capacidade que o planeta tem de curar a si mesmo", afirmam.
     "Os oceanos, que cobrem mais de 70% da superfície terrestre, são um lugar promissor para buscar uma influência reguladora", destacam. Os autores admitem que a estratégia pode falhar tanto em termos de engenharia como em termos econômicos. E o impacto na acidificação do oceano precisa ser levado em conta.
     "Mas as apostas são tão altas que colocamos em prática o conceito geral de utilizar a própria energia do sistema terrestre para melhorá-lo. A remoção de 500 bilhões de toneladas de dióxido de carbono do ar por ação humana está além da nossa atual capacidade tecnológica. Se não podemos curar o planeta, talvez possamos ajudá-lo a se curar sozinho", sugerem.
     O artigo Helping the Earth to cure itself via the oceans, de James Lovelock e Chris Rapley, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

Fonte: Agência FAPESP - Portal do Ambiente

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quarta-feira, 26 de setembro de 2007

WWF descobre novas espécies nas selvas do Vietnã

     Cientistas do Fundo Mundial da Vida Animal (WWF, sigla em inglês) anunciaram nesta terça-feira que descobriram 11 novos espécies de plantas e animais em regiões remotas das selvas do Vietnã. Em comunicado divulgado em Washington, o WWF ressaltou que a descoberta mostra a importância dos esforços de conservação nas selvas remotas vietnamitas.
     Na região conhecida como Corredor Verde, na cordilheira Annamitas, os cientistas encontraram uma serpente, cinco orquídeas, duas borboletas e outras três plantas totalmente desconhecidas. Outras espécies de plantas, entre elas quatro orquídeas, ainda estão sob estudo, mas também parecem ser espécies novas.
     Chris Dickinson, diretor do estudo, afirmou que na década de 90, nas mesmas selvas, haviam sido descobertas outras espécies, inclusive de grandes mamíferos. "Estas 11 podem ser só a ponta do iceberg", comentou. Segundo especialistas da organização, as selvas da região se mantiveram sem perturbações humanas durante milhares de ano. Por isso, constituem um habitat único para muitas espécies.
     A nova espécie de serpente apresenta uma mancha branca e amarela ao longo de todo o corpo. Ela vive principalmente junto aos riachos, se alimenta de rãs e outros pequenos animais e pode medir quase um metro de comprimento. Três das novas orquídeas não têm folhas, clorofila nem pigmentação verde. Outra espécie é uma planta com uma flor quase totalmente negra.
     Segundo o WWF, todas as novas espécies correm o perigo de extinção devido à poda ilegal, à caça e à extração sem controle de recursos naturais.

Fonte: EFE  - Terra Notícias

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Contaminação agrícola faz surgir rãs de seis patas

     Rãs com seis patas ou com quadris adicionais podem ter suas deformidades atribuídas aos resíduos ricos em nutrientes gerados por fazendas e ranchos americanos, de acordo com um estudo conduzido pela Universidade do Colorado.
     Os biólogos sabem há diversos anos que parasitas conhecidos como tremátodes podem infectar as rãs jovens e causar severas deformidades, mas ninguém havia descoberto até agora por que a incidência desses parasitas está em alta.
     Pieter Johnson, biólogo da universidade, e seus colegas descobriram que a poluição por nutrientes - resíduos da agricultura ricos em nitrogênio e fósforo - pode deflagrar uma reação em cadeia biológica nos lagos e corpos aquáticos, que começa com larvas e termina em rãs que não são capazes de saltar.
     O trabalho dos pesquisadores do Colorado foi publicado na mais recente edição da revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
     "Trata-se do primeiro estudo a demonstrar que o enriquecimento dos nutrientes gera a abundância desses parasitas e as deformações", afirmou Johnson.

 
Rãs com seis pernas são anomalias cada vez mais comuns no Colorado, onde pesquisa culpa as fazendas pelo fenômeno.
Pieter Johnson/Universidade do Colorado/Divulgação

     O estudo de Johnson também oferece uma lição sobre como as alterações ambientais causadas por seres humanos podem tornar a vida mais fácil para os parasitas nocivos, disse o biólogo.
     A poluição por nutrientes em algumas vias aquáticas de Belize favorece as espécies de mosquitos portadoras de malária, disse Johnson, e as águas ricas em nutrientes em todo o mundo favorecem os organismos que causam cólera, infestação por algas e alergias comuns a nadadores.
     Depois que alunos de uma escola de Minnesota descobriram um pequeno lago povoado apenas por rãs imensamente deformada, em 1995, o número de incidentes semelhantes começou a crescer cada vez mais no território dos Estados Unidos - especialmente no Meio-Oeste e na região noroeste da costa do Pacífico.
     Para determinar se a presença de nutrientes era capaz de explicar ao menos em parte essa questão, Johnson e seus colegas criaram 36 falsos lagos no centro do Wisconsin e os abasteceram com números controlados de caramujos e girinos verdes.
     Os tremátodes que causam deformidades em rãs são pequenos vermes que dependem de uma série de hospedeiros para obter pleno desenvolvimento, passando dos caramujos às rãs e pássaros.
     Os pesquisadores acrescentaram nutrientes a alguns dos lagos experimentais, e os cientistas fizeram o papel de pássaros, adicionando ovos de parasitas aos tanques.
     Os pássaros executam essa tarefa, em ambientes naturais, comendo rãs infectadas e excretando parasitas.
     Nos lagos contendo nutrientes, as algas floresceram, os caramujos que as consomem se tornaram maiores e mais prolíficos e os parasitas que os caramujos portam produziram oito vezes mais ovos, segundo Johnson e seus colegas.
     As rãs dos lagos ricos em nutrientes sofreram de duas a cinco vezes mais infecção por tremátodes, e têm menor probabilidade de sobreviver do que os animais que vivam em água comum de lago, eles constataram.
     A pesquisa é importante porque os anfíbios estão desaparecendo em todo o mundo, disse Cynthia Carey, fisiologista e especialista em anfíbios na Universidade do Colorado em Boulder, que não participou da pesquisa.
     "Os anfíbios deveriam servir como poderoso alerta de que as mudanças ambientais estão acontecendo em ritmo tão acelerado que deveríamos estar no perguntando o que acontecerá em seguida, e onde estaremos em seguida", disse Carey.

Autora: Katy Human (The Denver Post)
Tradução: Paulo Eduardo Migliacci
Fonte: The New York Times - Terra Notícias

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Brasil: 76% querem urgência contra aquecimento

     Uma pesquisa encomendada pelo Serviço Mundial da BBC indicou que 76% dos brasileiros acham que é necessário adotar medidas urgentes para combater o aquecimento global. Ainda segundo o estudo, 63% dos brasileiros entrevistados disseram ser a favor de limitar as emissões nos países em desenvolvimento.
     A pesquisa, realizada pela empresa Globescan, entrevistou mais de 22 mil pessoas em 21 países. A enquete também concluiu que oito em cada dez pessoas ao redor do mundo acreditam que a atividade humana está provocando mudanças climáticas.
     Entre os entrevistados, 79% concordaram que "a atividade humana, incluindo indústrias e transportes, é uma causa significativa das mudanças climáticas".

     Acordo global
     Nove em cada dez participantes disseram que é necessário agir, e dois terços foram além, afirmando que "é necessário tomar medidas importantes e começar logo".
     Segundo a pesquisa, 73% das pessoas manifestaram apoio a um acordo global em que cada país limite suas emissões de gases que causam o efeito estufa e que incluiria os países em desenvolvimento.
     Em troca, os países em desenvolvimento receberiam apoio financeiro e tecnológico das nações ricas. Somente em três dos países pesquisados (Egito, Nigéria e Itália) a maioria dos entrevistados disse que as nações em desenvolvimento não deveriam limitar suas emissões.

     Encontro de líderes
     Os resultados da pesquisa foram divulgados um dia depois de um encontro de líderes e delegados de 150 países, incluindo 80 chefes de Estado, realizado nesta segunda-feira, na sede da ONU em Nova York, para discutir como combater o aquecimento global.
     Segundo o presidente da empresa de pesquisas Globescan, Doug Miller, o impacto das mudanças climáticas pode ser sentido pelas pessoas em seus países, em suas propriedades. "É real para pessoas ao redor do mundo", disse.
     "A força dos resultados (da pesquisa) torna difícil imaginar um momento mais favorável da opinião pública para que os líderes se comprometam em agir (contra as mudanças climáticas)", afirmou Miller.
     Em seu discurso no encontro desta segunda-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que a forma como os governos lidam hoje com as mudanças climáticas definirá o legado que deixarão para as futuras gerações e que a ONU é o melhor fórum para discutir quais ações devem ser tomadas.

     Avanço real
     "Hoje, o tempo das dúvidas acabou. O painel intergovernamental da ONU sobre mudanças climáticas confirmou de forma inequívoca o aquecimento do nosso sistema climático e o associou diretamente a atividades humanas", disse o secretário-geral da ONU.
     "Nosso objetivo não deve ser nada menos do que um real avanço em Bali", salientou, referindo-se ao encontro anual sobre o Tratado do Clima na ilha indonésia, que será realizado em dezembro.
     O presidente americano, George W. Bush, não participou do evento desta segunda-feira. Bush vai realizar seu próprio encontro sobre o tema nas próximas quinta e sexta-feira, quando receberá na Casa Branca representantes de 16 grandes emissores de gases poluentes associados ao aquecimento da Terra.

Fonte: BBC Brasil - Terra Notícias

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segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Estudo comprova que Pai Querê amplificará impacto ao Corredor Ecológico do Rio Uruguai

     O título é esperançoso, mas o conteúdo é assustador e preocupante. Leva a uma profunda reflexão sobre o modelo de licenciamento ambiental e, antes, sobre a estrutura subjacente à prática de Estudos de Impacto Ambiental que se proliferou no Brasil, pautada pela relação de subordinação entre elaboradores e proponentes de projetos. Assim é o documento "Hidrelétrica de Pai Querê: ainda há tempo para impedir mais uma grande tragédia sobre a biodiversidade da Bacia do Uruguai", que ecologistas e pesquisadores do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais, da Fundação Gaia e do Núcleo Amigos da Terra encaminharam ao Ministério do Meio Ambiente na semana passada.
     Fruto de um projeto com raízes na ditadura militar, com o intuito de produzir o máximo de energia sem a devida cautela de preservação ambiental, o projeto da usina está previsto para o Rio Pelotas, num aproveitamento de um desnível de 150 metros do rio, em 80 quilômetros de extensão. Vai contribuir para pôr sob água 6,12 mil hectares da Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Patrimônio Mundial classificado pela Unesco, agência das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura. Florestas e campos de araucárias da região – entre os municípios de Bom Jesus (RS) e Lages – estão ameaçados também fora do vale do Rio Pelotas. Conforme o documento, 75% dessa vegetação nativa podem desaparecer não apenas devido à usina em si, mas ao avanço das madeireiras e ao corte raso que dá espaço ao monocultivo extensivo de soja. Os campos de cima da Serra, aos poucos, vão sendo invadidos pelo pinus, e a diversidade do verde dá lugar à homogeneidade e à pobreza ecológica.
     Imagens de satélites disponibilizadas pelo Google Earth, mostradas no estudo, permitem visualizar os últimos remanescentes primários da floresta ombrófila mista, também conhecida por mata de araucária, da qual restam menos de 5 % da sua extensão original. A maior parte destas extensões são consideradas áreas de preservação permanente pelo Código Florestal Federal (Lei 4.771/1965).

     Rio ou seqüência de lagos?
     A persistir o processo de construção de novas usinas na região, seguindo o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), a tendência, de acordo com os ecologistas e pesquisadores, é o desaparecimento do Rio Pelotas, o qual se transformaria em uma escada de lagos artificiais, "praticamente colando o muro de uma hidrelétrica na 'rabeira' da inundação da barragem subseqüente". Nos últimos cinco anos, entraram em operação Machadinho, Campos Novos, Foz do Chapecó e Barra Grande, o que trouxe grande impacto à biodiversidade do Corredor Ecológico do Rio Uruguai.
     E a Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) do Ministério das Minas e Energia prevê ainda mais nove unidades entre usinas e aproveitamentos hidrelétricos para a bacia do Uruguai até 2015. Com a mudança rápida da paisagem, os registros fotográficos da região, de agora, poderão vir a ser apenas memória em menos de uma década.

     Adeus, bromélias e mamíferos
     Somente em memórias estarão também bromélias e mamíferos típicos daquela área. De acordo com cientistas que estudam a flora da região, "a vazão do rio Uruguai alterou-se de tal forma que a jusante dos barramentos desapareceram as populações de Dyckia brevifolia (bromélia-do-rio), espécie reófita assinalada como ameaçada na Portaria do Ibama nº. 37 de 1992, que ocorria no Parque Estadual do Turvo, em Derrubadas (Brack et al. 1985). O desaparecimento deve-se, ao que tudo indica, pelas cheias mais duradouras quando da abertura das comportas de vertedouros das barragens. A informação da ausência desta planta foi fornecida pelos Drs. João André Jarenkow (UFRGS), Ademir Reis (UFSC) e o falecido Bruno Irgang (UFRGS), sendo tal fato confirmado em 2006", atesta o relatório.
     Com a construção de Pai Querê, vão desparecer espécies como o queixada ou Tayassu pecari, mamífero já desaparecido no restante do Estado. Estarão ameaçados a jaguatirica (Felis pardalis), o puma (Felis concolor), o gato-mourisco (Felis yagouaroundi), os veados (Mazama spp., Ozotocerus beozoarticus), entre outras espécies apontadas por pesquisadores do Departamento de da Zoologia da UFRGS. Entre 228 espécies de avifauna, 27 estão ameaçadas de extinção, entre elas o gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus) e papagaio-charão (Amazona pretrei), segundo pesquisadores do Laboratório de Ornitologia da PUC-RS. Ainda na região, cientistas do Laboratório de Ictiologia do Departamento de Zoologia da UFRGS detectaram a presença de 13 espécies de peixes consideradas novas para a Ciência, as quais, com o empreendimento, estão igualmente em risco.
 
     Falhas no EIA e no RIMA
     Sem esquecer que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) de Pai Querê foram elaborados pela mesma consultoria que "omitiu" 5,7 mil hectares de florestas no EIA e no RIMA de Barra Grande, a avaliação de impacto ambiental realizada para Pai Querê, pela Engevix, tem diversas falhas, denunciam os pesquisadores da UFRGS. "O EIA-RIMA de Pai Querê, submetido ao Ibama, é tecnicamente superficial, inconsistente e contraditório", apontam.
     O estudo da Engevix deixou de fora o urubu-rei (Sarcoramphus papa), "espécie ameaçada, registrada em duas ocasiões em que professores, estudantes da UFRGS e voluntários de ONGs ambientalistas estiveram na área de influência direta do empreendimento", explicam os ecologistas. Além disto, no EIA e no RIMA oficiais, a consultoria apontou a presença de 140 espécies de flora, enquanto que a equipe da UFRGS detectou 250, em apenas cinco dias de trabalhos de campo, e ainda "17 espécies de orquídeas nas matas sujeitas ao alagamento, contra nenhuma citação de espécies de Orquidáceas no EIA da Engevix.
     E mais: "O estudo da empresa não fez referência a várias espécies que constam em listas oficiais de espécies ameaçadas (IUCN, Ibama, Decreto Estadual do RS, n. 42.099/2002). O estudo fitossociológico aponta apenas 22 espécies de árvores, o que é absolutamente inverossímil para os padrões da Floresta Ombrófila Mista, sendo 16 delas identificadas de modo falho: cinco espécies não são identificadas e 11 são identificadas apenas pelo gênero. Ou seja, 70% do levantamento fitossociológico não tem valor técnico", destaca o trabalho da UFRGS.
 
     Tamanho do impacto x licença
     Qual a validade científica dos EIA? Qual a fidedignidade e o compromisso desses estudos com a sustentabilidade ambiental? Estas são também questões colocadas pelos ecologistas e cientistas que analisaram casos como "Barra Grande" e, agora, Pai Querê. Segundo eles, em 2001, a Engevix publicou um documento chamado "Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental" da UHE Pai Querê, no qual considerou como de "pequena magnitude" a "fragmentação e perda dos ecossistemas aquáticos". "A empresa considerou pequeno o impacto sobre o meio aquático, sem nenhum embasamento técnico", denunciam os pesquisadores. Isto acontece porque "as consultoras são contratadas e pagas diretamente pelos empreendedores, a parte mais interessada na emissão das licenças".
 
     Rios escravos
     Os rios brasileiros estão virando patrimônio privado e deles se busca retirar o máximo em energia, sem considerar sua vitalidade inerente, sua condição de sistemas dinâmicos dos quais depende todo um conjunto de fauna e flora. A escravidão, por assim dizer, vem se aplicando também dos rios como suportes da vida.
     "Por que não considerarmos a importância da permanência de 'Reservas Legais' para os rios brasileiros? Com que base equipes consultoras e órgãos governamentais de produção energética podem definir que os rios sejam utilizados em 100% de seu curso? Esses estudos de licenciamento, para que pudessem ser incluídos em um rol de critérios de sustentabilidade, deveriam basear-se em avaliações sérias, não viciadas, dando a possibilidade de licenças para empreendimentos de menor impacto. Aqueles que tivessem grande impacto, como no caso de Pai Querê, deveriam ser impedidos ou ter seus projetos refeitos. Porém, no Brasil os setores energético e econômico não estão acostumados a reavaliações e a impedimentos aos tradicionais pleitos imediatistas de crescimento econômico, muitas vezes a qualquer custo. Neste país, é costume primeiro se fazer o projeto do ponto de vista econômico para muito depois avaliar os seus possíveis prejuízos socioambientais", atesta o documento assinado por ecologistas e cientistas da UFRGS – Paulo Brack , professor do Departamento de Botânica da UFRGS, doutor em Ecologia; Adriano Nygaard Becker, jornalista e fotógrafo, conselheiro do Núcleo Amigos da Terra/Brasil; Cristiano Eidt Rovedder, mestre em Zoologia do Laboratório de Ornitologia da PUC-RS; Eduardo Forneck, doutor em Ecologia; Lucia Schield Ortiz, geóloga, coordenadora do Núcleo Amigos da Terra – Brasil; Renzo Bassanetti, geógrafo e ex-diretor do Parque Nacional dos Aparados da Serra (2003-2006); Vicente Medaglia, filósofo e especialista em Diversidade da Fauna.
 
Fonte: Ambiente JÁ (Cláudia Viegas) - Portal do Meio Ambiente

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