terça-feira, 17 de julho de 2007

Morte de abelhas: crise ou apenas uma fase?

Durante o último ano, mortes de grandes colônias de abelhas comerciais por causas desconhecidas levantaram preocupações de uma crise agrícola iminente. Hoje, entretanto, alguns especialistas em biologia de insetos e apicultura questionam a raridade destas mortes, dizendo que a apicultura comercial há tempos possui um padrão de epidemias, e sem melhor monitoramento, não há informações suficientes para saber se algo novo ou calamitoso está para acontecer.
 
     Se o problema está pior do que antes, dizem, é porque cada vez mais colônias de abelhas estão sendo acomodadas e transportadas por menos apicultores, aumentando as chances de propagação de infestações ou infecções.
     O consenso oficial, sustentado por muitos cientistas e criadores de abelhas, é que uma nova síndrome, chamada desordem de colapso de colônias, ou CCD, está em ação e apresenta um risco significativo às colheitas de frutas, nozes e vegetais americanos.
     Um plano de ação lançado na sexta-feira pelo Departamento de Agricultura usou a frase "crise de CCD" para descrever as recentes epidemiais, mesmo tendo dito ser "incerto saber se o CCD é um fenômeno recente" e ter descrito epidemias similares em 1898.
     Ninguém da área duvida que apicultores comerciais em mais de 20 estados tenham observado grandes declínios nas populações de abelhas no último ano - mais de 70% em alguns casos - e que a agricultura esteja enfrentando problemas na polinização de algumas safras.
     Também está claro que abelhas nas Américas, tanto espécies selvagens quanto as comerciais produtoras de mel, importadas há muito tempo e padrão hoje em dia, foram bastante afetadas em décadas recentes por parasitas e agentes epidêmicos. 
      O que alguns cientistas dizem estar faltando no debate é o contexto histórico. 
     "Toda vez que acontecem estas baixas, as doenças do momento tendem a ser responsabilizadas", disse May Berenbaum, que chefia o departamento de entomologia na Universidade de Illinois Urbana-Champaign e liderou uma avaliação da Academia de Ciências sobre o estado das abelhas norte-americanas e outros polinizadores, publicada no ano passado. "Nos anos 60, eram os inseticidas orgânicos sintéticos", disse Berenbaum. "Nos anos 70, eram os genes africanizados. No século 19, houve um maravilhoso estudo sobre isto resultando de uma falta de fibra moral. Personalidade fraca era a razão pela qual não voltavam às colméias".
     Uma coisa com a qual quase todo mundo parece concordar é sobre a necessidade de pesquisas consistentes e freqüentes sobre as populações de abelhas do país, porém a verba para este tipo de monitoramento não aumentou, dizem especialistas.
     Eric Mussen, especialista em abelhas da Universidade da Califórnia, disse não entender as conversas sobre catástrofe, notando que mesmo após a perda de colônias, apicultores podem rapidamente substituí-las.
Michael Burgett, professor emérito de entomologia na Oregon State University, disse que as grandes baixas em abelhas em algumas regiões poderiam simplesmente refletir picos superiores ao nível normal de mortalidade de mais de 20% em décadas recentes.
     "No final dos anos 70 tivemos outro susto similar a este", disse Burgett.     "Chamaram de 'doença de desaparecimento' na época. Mas nunca encontramos uma causa específica para o fenômeno, apenas continuamos a melhorar nossos programas de apicultura e a 'doença de desaparecimento' desapareceu".
 
Autor: Andrew C. Revkin - Scientific American Brasil


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