sábado, 7 de julho de 2007

Por que os humanos são os únicos primatas “pelados”?

Três teorias tentam explicar como perdemos nosso casaco de pele natural 
  
     Nós humanos somos os únicos "pelados" entre as mais de cinco mil espécies de mamíferos. Imagine como seu cachorro ou gato de estimação (ou mesmo um urso polar) seria, ou se sentiria, sem seus "casacos de pele".
     Os cientistas já sugeriram três explicações principais para a falta de pêlo nos humanos. Todas giram em torno da premissa de que seria vantajoso para nossa linhagem em evolução ficar cada vez menos peluda, seis milhões de anos desde que compartilhamos um ancestral com nosso parente vivo mais próximo, o chimpanzé.
A ausência de pêlos pode ter se tornado uma característica atraente para o sexo oposto durante nosso processo evolutivo
     A hipótese do símio aquático sugere que entre seis milhões e oito milhões de anos atrás, ancestrais dos humanos modernos, com características de macacos, tinham um estilo de vida semi-aquático, já que buscavam alimento em águas mais rasas. Um casaco de pele natural não é um isolante eficiente na água, e por isso a teoria afirma que evoluímos para perder os pêlos e substituí-los, assim como fizeram outros mamíferos aquáticos, por níveis relativamente altos de gordura corporal. Por mais criativa que seja essa explicação – e útil ao nos dar uma desculpa para estarmos acima do peso –, evidências paleontológicas de uma fase aquática na existência humana têm se provado enganosas.
     A segunda teoria afirma que perdemos os pêlos para controlar nossa temperatura corporal ao nos adaptarmos à vida na savana, de clima quente. Nossos ancestrais símios passavam a maior parte do tempo em florestas com temperaturas amenas, mas um hominídeo peludo caminhando sob o Sol não seria a melhor das opções. A idéia do resfriamento do corpo parece razoável, mas mesmo que a falta de pêlo tenha facilitado a perda de calor durante o dia, também perderíamos mais calor durante a noite, quando na verdade precisaríamos retê-lo.
     Recentemente, um colega e eu sugerimos que os ancestrais dos humanos modernos ficaram pelados como uma maneira de reduzir a prevalência de parasitas externos, que geralmente infestam os pêlos. Um casaco peludo é um refúgio atraente e seguro para insetos como carrapatos, piolhos e
outros "ectoparasitas". Essas criaturas não apenas causam irritação, como também carregam doenças causadas por vírus, bactérias e protozoários como malária, doença do sono, a doença ou borreliose de Lyme e a doença do vírus do Nilo Ocidental. Todas podem causar problemas médicos crônicos e, em alguns casos, até mesmo a morte.
     Os humanos, graças à habilidade de saber fazer fogueiras, construir abrigos e fabricar roupas, teriam sido capazes de perder seus pêlos e reduzir o número de parasitas, sem sofrer com o frio à noite ou em climas mais amenos.
     Nos humanos, os piolhos ficam confinados às áreas peludas do corpo, o que parece corroborar a hipótese. Ratos-toupeiras pelados – animais que mais parecem lingüiças dentuças – também parecem apoiar a teoria. Eles vivem em grandes colônias subterrâneas, nas quais os parasitas seriam prontamente transmitidos. No entanto, o calor de seus corpos e o espaço confinado subterrâneo combinados provavelmente permitem que eles não percam calor para o ar frio, se mantendo aquecidos e, portanto, que sejam pelados.
     Uma vez que a ausência de pêlos evoluiu assim, pode ter sido sujeita à seleção sexual, como uma característica atraente para o sexo oposto. Uma pele limpa e lisinha pode ter se tornado um sinal de saúde, como a cauda de um pavão, e poderia explicar por que as mulheres são naturalmente menos peludas que os homens – e também por que se esforçam mais para remover os pêlos indesejados. Apesar de nos expor aos piolhos, os humanos provavelmente conservaram os cabelos para nos proteger contra o Sol e nos aquecer no frio. Os pêlos púbicos podem ter sido preservados para intensificar os feromônios ou odores da atração sexual no ar.
 
Autor: Mark Pagel (Scientific American Brasil) é chefe do grupo de biologia evolucionária da University of Reading, na Inglaterra, e editor da série de livros The Encyclopedia of Evolution.


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