A floresta amazônica é um dos maiores focos do mundo de emissão do gás metano (CH 4 ), um dos principais causadores do efeito estufa. A surpreendente descoberta, conseqüência de uma série de estudos realizados em conjunto por cientistas brasileiros e norte-americanos, mostra que a Amazônia contribui, por ano, com cerca de 23% das emissões mundiais do gás. Os cientistas ainda não sabem ao certo o porquê dessas elevadas taxas, que reforçam a necessidade de redução das emissões pelo homem.
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A pesquisa, iniciada em 2003 e publicada recentemente na revista Geophysical Research Letters , é fruto de uma parceria entre o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e o órgão norte-americano National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). Os cientistas usaram um avião de pequeno porte para recolher amostras do ar da Amazônia em uma faixa vertical, da altura de quatro quilômetros que apresenta um grau mínimo de concentração de gases poluentes até bem perto do solo onde a presença dos gases se mostrou maior.
As amostras de ar foram, então, comparadas com os dados da concentração de gases na atmosfera fornecidos por duas estações globais de monitoramento: na ilha de Ascension, entre o Brasil e a África do Sul, no Oceano Atlântico sul, e em Barbados, na América Central, região que apresenta concentração de gases de efeito estufa mais elevada. Como as correntes de ar desses locais se dirigem à Amazônia, foi possível medir a concentração de gases dos ventos antes de chegarem à região amazônica e após receberem as emissões da floresta. Para garantir que as massas de ar analisadas nesses dois momentos fossem as mesmas, os pesquisadores usaram como parâmetro as taxas de um gás sintético liberado por indústrias, o hexafluoreto de enxofre (SF 6 ), que não é produzido nem consumido pelo ambiente. Com a comparação, os cientistas puderam perceber uma taxa de metano muito maior do que a esperada na Amazônia: 34 ppb (partes por bilhão) por ano.
"Em época de cheias, é normal que haja um aumento na emissão de CH4 para o ar, já que o gás é naturalmente produzido em ambientes com pouca oxigenação, como em regiões alagadas", explica a coordenadora brasileira do estudo, a química Luciana Vanni Gatti, do Ipen. "Como 20% da Amazônia ficam alagados nesse período, o aumento dessa taxa poderia ser explicado. Mas nós descobrimos que essa variação não poderia ser toda proveniente das áreas alagadas, o que gera incerteza sobre sua origem."
Segundo Gatti, um estudo publicado no ano passado indica que as plantas podem emitir metano diretamente. Essa poderia ser uma das explicações para o valor de emissões maior do que o esperado. "Saber de onde vem o gás é importante para que seja possível controlar as emissões", diz. E acrescenta: "Mas não se pode esquecer que as emissões naturais sempre existiram. Não são elas as causadoras do aumento do efeito estufa, e sim a emissão decorrente de atividades humanas. O que deve haver é uma conscientização da sociedade para que a contribuição humana nessas taxas seja diminuída."
A pesquisa, que ainda está em andamento, faz parte do Experimento Biosfera-Atmosfera de Larga Escala na Amazônia (LBA, na sigla em inglês), projeto coordenado pelo Brasil e que reúne dezenas de países. O LBA também desenvolve, no momento, pesquisas envolvendo os outros gases de efeito estufa. O próximo relatório a ser divulgado será sobre o dióxido de carbono (CO 2 ).
Autor: João Gabriel Rodrigues - Ciência Hoje On-line
Disponível em: http://cienciahoje.uol.com.br/95565
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