sábado, 30 de junho de 2007

Monocultura de eucalipto: Uma zona

     Ameaça ao Bioma Pampa, destruição da área agricultável pela arenização dos solos férteis, escassez de água, aumento de pragas, perda da biodiversidade, extinção de plantas e animais. Cada item desta lista é o resultado do plantio extensivo de árvores exóticas em território riograndense
 
     O jornal gaúcho "Adverso" informa:
     Desde que o governo gaúcho afrouxou as diretrizes do Zoneamento Ambiental da Silvicultura, plantações de eucalipto em larga escala começaram a mudar a paisagem do pampa.
     Por trás do deserto verde em expansão, estão os interesses de grandes empresas privadas e sua estreita relação com o modelo econômico encampado pelo governo de Yeda Crusius.
     Foi o próprio governador Germano Rigotto, então em início de mandato, que anunciou a decisão da Votorantin e da Stora Enso de investir na metade sul do Estado.
     Nesta época, a Aracruz (ex-Riocell), transnacional do setor de celulose, já vinha atuando na região. Com a intensificação do plantio de eucalipto, matéria-prima da indústria de papel, tornou-se urgente a necessidade de um estudo sobre os impactos ambientas do cultivo de plantas exóticas e definição das áreas próprias para esta finalidade.
     Com a escassez de recursos humanos e materiais, e atropelada pela ação das empresas, a Fepam iniciou estudos que, ao final, limitam o plantio em locais que incluiam terras adquiridas pelas empresas e onde o plantio já havia sido feito. O relatório da Fepam desagradou a governadora e provocou o protesto das empresas. Alegando que as restrições inviabilizavam a produção, elas ameaçaram abandonar o Estado.
     "A alegação de que o zoneamento proposto pela Fepam é restrito não se sustenta. O projeto permite a utilização de nove milhões de hectares com atividades de silvicultura. Uma disponibilidade de área nesta dimensão, de maneira alguma, pode ser considerada restritiva", argumentou o deputado Elvino Bohn Gass, presidente da Comissão de Agricultura da Assembléia Legislativa.
     Para o grupo Defesa da Vida Gaúcha (http://www.defesabiogaucha.org), os impactos sobre o ambiente podem ser irreversíveis.
     No Espírito Santo, por exemplo, 3% das terras foram destinadas às monoculturas de árvores exóticas, o que representa entre 20% e 25% das terras produtivas.
     No Rio Grande do Sul, a estimativa é que em pouco mais de uma década um milhão de hectares estejam ocupados por árvores exóticas.
     De acordo com o engenheiro agrônomo Sebastião Pinheiro, "no Espírito Santo, mais de 200 arroios e rios desapareceram nos últimos 20 anos".
Integrante do Núcleo de Economia Alternativa da Ufrgs, Pinheiro adverte que este modelo diminuirá ainda mais a altura do nosso lençol freático e trará graves conseqüências para todo o Brasil.
     "O eucalipto é uma planta de vida curta, derrubada a cada sete ou oito anos e transformada em celulose, não é para ser observada como uma árvore, porque não tem uma infância, uma adolescência, uma maturidade e uma velhice. O eucalipto é um investimento financeiro, que não tem nada a ver com árvores", afirma.
     O comprometimento dos recursos hídricos é mais um problema para as futuras gerações. Em 2004, 85% dos municípios declararam estado de calamidade pela falta de água. Situações assim vêm ocorrendo cada vez com mais freqüência.
     Dados do grupo Defesa da Vida Gaúcha revelam que uma árvore de eucalipto consome 36,5 mil litros de água por ano. Multiplicado por 28 milhões de árvores plantadas em solo gaúcho, o consumo é maior do que o índice médio de chuvas em todo estado.
     Outro dado para refletir diz respeito ao papel que vem sendo desempenhado pela Universidade Pública.
     Segundo o jornalista Marco Aurélio Weissheimer, em matéria da Agência Carta Maior, a escassez de recursos abre espaço para que as empresas de celulose se tornem financiadoras de pesquisas.
     Em Rio Grande, o Movimento Universitário Unificado promoveu o 1º Acampamento de Alerta ao Papel da Universidade Pública, na Fundação Universidade Federal de Rio Grande (Furg), organizado para desmentir professores que têm utilizado o nome da universidade para defender empresas de celulose. O alerta está relacionado à expansão dos desertos verdes e à instalação de um pólo de celulose na região.
     Em Porto Alegre, mulheres da Via Campesina e estudantes conseguiram a suspensão de um protocolo de cooperação entre a Ufrgs e a Aracruz Celulose.
Em audiência com o reitor José Carlos Hennemann e o vice-reitor Pedro Fonseca, os manifestantes argumentaram que estabelecer parceria com a Aracruz significa concordar com a destruição ambiental e social provocada pelas multinacionais do eucalipto.
     Os estudantes também lembraram "as práticas de violações aos direitos humanos que marcam a trajetória da Aracruz Celulose em todos os estados, em especial contra indígenas e quilombolas no Espírito Santo".
     Destacando o compromisso da Universidade com as questões ambientais, o reitor José Carlos Hennemann garantiu que a Ufrgs não assinará "nenhum protocolo ou convênio para pesquisas que sejam prejudiciais à sociedade".
Leia a entrevista feita por Clarissa Pont, do jornal "Adverso", com Ludwig Buckup, professor do Depto. de Zoologia do Instituto de Biociências da Ufrgs:
"Em 14 anos, 3,4 mil tocos de eucalipto no chão..."
     "...aí essas empresas vão embora e nós ficamos aqui com uma miséria representada por 1 milhão de hectares de toco de eucalipto". As palavras do professor Ludwig Buckup criam uma imagem amedrontadora, resultado da monocultura de árvores exóticas para produção de celulose no Estado.
     A entrevista do professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Ufrgs à Adverso aconteceu em um dia que ficará marcado na História do Rio Grande do Sul pelo descaso governamental com o meio ambiente.
     No dia 3 de maio, depois de uma semana de tensas negociações que culminaram na demissão da secretária do Meio Ambiente e do presidente da Fepam, a governadora Yeda Crusius resolveu passar uma borracha no zoneamento ambiental, desconsiderando o trabalho realizado pela Fepam.
Buckup anunciou que a ONG Igré, da qual faz parte, ingressará com uma ação civil pública, apoiada por outras organizações, garantindo que o zoneamento seja encaminhado ao Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), como deveria ter acontecido.
     Professor titular da pós-graduação em Biologia e doutor em Ciências Naturais pela Universidade de Tübinger (Alemanha), Buckup está convencido de que o importante é "procurar alternativas tecnológicas que preservem o ambiente e favoreçam atividades na indústria, na agricultura e na administração pública. Isso é ciência e este é o papel da Universidade".
 
     O Espírito Santo é um exemplo inquietante das conseqüências da monocultura de eucalipto: aumento de pragas, comprometimento dos recursos hídricos, desrespeito por áreas indígenas e quilombolas. É este o destino do Rio Grande do Sul?
Buckup – Se as empresas tiverem liberdade para agir como elas têm agido no resto do Brasil, sim. Diante de exemplos anteriores, esperava-se que os órgãos ambientais do Governo exercessem uma fiscalização sobre estas propostas de lavoura arbórea. Lamentavelmente, o governo tem mostrado que não está a fim de fazer isso, liberando plantios em qualquer lugar e de qualquer maneira. É uma ameaça muito grande para o nosso espaço natural. No Espírito Santo, o retrato desse descalabro está nos out doors da Aracruz espalhados pelas estradas: "Nós trazemos o progresso. A Funai, os índios". Isso é um desaforo. O Brasil deveria mandar essa gente embora, urgentemente.
 
Qual a importância do zoneamento da silvicultura para evitar tais problemas?
Buckup – Antes de mais nada, o zoneamento é uma exigência da lei, o Código Estadual de Meio Ambiente determina que ninguém pode promover uma atividade agrícola, que implica em profundas modificações ambientais, sem licenciamento. E não pode haver licenciamento sem um trabalho que identifique as zonas do Estado mais ou menos aptas para receber investimentos de natureza silvicultural. O zoneamento é um excelente documento, foi feito por pessoas qualificadíssimas, baseado em informações altamente confiáveis e referenciais bibliográficos incontestáveis. E em alguns lugares não se deve plantar nada, em uma vasta área disponível pode-se plantar moderadamente. O zoneamento mostra que o Estado possui nove milhões de hectares disponíveis para plantar eucalipto. Acontece que, durante o Governo anterior, aceitaram a vinda das empresas sem que fosse dito: "olha gente, aqui não é terra de ninguém". É como se tivessem dito: "plantem que a gente garante". Só que fizeram o zoneamento porque a lei manda. Só aí viram que não era bem assim. Parte importante das terras já compradas está em locais não apropriados e as empresas estão em cima do Governo. Quem criou este problema foi o Governo do Rio Grande do Sul. Como permitem que essas empresas iniciem suas atividades, comprem terras e comecem a plantar através de documentos de alta questionabilidade jurídica, como o tal de TAC? Como permitem isso sem o zoneamento feito? Sequer aparelharam a Fepam de maneira adequada, com mais gente, recursos, combustível, técnicos. A Fepam, com todas conhecidas dificuldades, teve que arcar com uma tarefa gigantesca, finalizada com total dedicação e qualidade.
 
É possível um manejo adequado ao ecossistema, o solo agüentaria o cultivo de outras espécies entre as fileiras de eucalipto?
Buckup – Em alguns lugares do mundo, existe uma proposta que se chama de unidade agrosilvopastoril, ou seja, para não abandonar por inteiro as atividades tradicionais de campo, a proposta é que elas estejam juntas no espaço rural. A idéia foi desenvolvida por pesquisadores aqui no Rio Grande do Sul. O eucalipto seria plantado em fileiras duplas, no máximo triplas, e haveria um espaço livre de cerca de dez metros até a próxima fileira. Nesses corredores, milho, trigo, soja, sorgo, girassol seriam plantados enquanto o eucalipto é pequeno. Além disso, plantas forrageiras para atividade pecuária. Lógico que isso só é possível enquanto o eucalipto é pequeno. Mas as empresas não querem fazer isso. Os diretores da Stora Enso disseram publicamente a seguinte frase: nós viemos para plantar eucalipto e colher madeira. Ou seja, qualquer atividade desse gênero, que é interessante, não será adotada pelas empresas. Até porque plantar poucos eucaliptos é completamente antieconômico para eles.
 
O governo de Yeda Crusius anulou o parecer técnico da Fepam sobre o zoneamento para silvicultura. O que leva um governo a deslegitimar a opinião de técnicos de um órgão com a estatura da Fepam? É exagero dizer que, neste caso, o Estado não está sendo agente dos interesses públicos, mas sim dos interesses privados?
Buckup – Não é exagero, é exatamente isso. A obrigação do Governo é priorizar, ao lado do desenvolvimento econômico, a preservação ambiental. O Brasil, na Eco 92, assinou inúmeros compromissos internacionais, inclusive perante a Organização dos Estados Americanos (OEA), de só admitir desenvolvimento sustentável. Sustentabilidade é um termo que surgiu na área ambiental e significa que você pode crescer, pode gerar desenvolvimento econômico e pode usar recursos naturais, mas de tal maneira que sobre o suficiente para as gerações subseqüentes. O que está acontecendo no Rio Grande do Sul não é sustentabilidade, é a repetição de uma mesma história de exaustão dos recursos até as últimas reservas. O eucalipto pode trazer renda, mas é essencialmente para o dono da empresa e existem custos ambientais elevados nesta atividade agrícola. Para começar, é preciso varrer por definitivo desta discussão o nome florestamento ou reflorestamento. Na região reservada para o plantio dos eucaliptos, nós temos o pampa há doze mil anos, nunca teve floresta ali. Não se pode falar em reflorestamento porque plantar árvores significa uma profunda modificação da paisagem, com reflexos fortes que o ambiente não será capaz de suportar. A natureza sabe que, em função dos nutrientes disponíveis, do solo e da quantidade de água, a paisagem deve ser de campo. O eucalipto tem uma enorme taxa evapotranspiratória, ou seja, chupa muita água. Ele vai buscar água no solo e nos arroios, rios e lagos. A secagem completa de fontes de água já foi descrita com detalhes em publicações científicas importantes e aconteceu em lugares como o sul da África, na Península Ibérica e em um lugar próximo daqui, o pampa argentino. Aliás, nem é preciso apelar para a ciência, qualquer habitante do interior sabe que plantar eucalipto é ótimo para secar banhado.
 
Quais as conseqüências destas alterações?
Buckup – São alterações profundas e, naturalmente, quando existe degradação ambiental, junto acontece a piora da qualidade de vida das pessoas. Existe uma propaganda das empresas de que surgiria grande quantidade de emprego, cerca de 30 mil, mas isso é uma falácia. A silvicultura não oferece tantos postos de trabalho porque ninguém mais planta eucalipto com as mãos, tão pouco abate, porque o processo é totalmente mecanizado. De resto, já se observou e eu tenho visto pessoalmente, que os maiores bolsões de pobreza do Brasil rural estão junto aos grandes empreendimentos florestais. Porque depois que a terra das pessoas está cheia de eucalipto, não tem mais serviço. Vai fazer o que durante oito anos até o abate? Ele vai ter que sair do campo. Depois da assim chamada Revolução Verde, vai acontecer um novo momento de êxodo rural para engrossar os cinturões de exclusão social e pobreza na periferia das cidades.
 
O senhor se arriscaria dizer como seria um projeto alternativo de desenvolvimento econômico, especialmente para a metade sul?
Buckup – São inúmeras atividades para o pampa. Vamos começar com o homem do campo. Quem vive naquela região está inteiramente ajustado às tradições sócio-ambientais do espaço. Qual é a verdadeira vocação do pampa? Uma atividade de pecuária semi-extensiva, atividades agrícolas e outras vocações ainda nem totalmente exploradas como a fruticultura, por exemplo. A olericultura e as culturas tradicionais de arroz, soja, trigo. Um colega nosso, o professor Carlos Nabinger, da Faculdade de Agronomia e um estudioso da produtividade dos nossos campos, tem afirmado publicamente que não existe essa pobreza da metade sul. Existe falta de atenção para as pessoas que lá vivem. Não são levados recursos técnicos, propostas alternativas de atividade econômica, nem apoio financeiro de fomento. O professor Nabinger afirma que, com um pouco de apoio, a produtividade no pampa poderia crescer 200%.
 
Enquanto isso, a Caixa RS cria o Programa de Financiamento Florestal
Gaúcho para financiar o plantio de eucalipto...
Buckup – Então, existe aí a insistência de que a metade sul está tão pobre e que precisa de qualquer solução, o que interessa as multinacionais. Veja bem que ninguém vai produzir alimento, não se come eucalipto. O objetivo é produzir celulose, 95% para exportação. O brabo é que vamos exportar celulose pura e vamos ter que comprar o papel do exterior. Uma tora de eucalipto não é só madeira, são sais e nutrientes do solo, água. E tudo isso vai embora. Outra falácia é o investimento grandioso de bilhões. Na verdade, eles estão contabilizando o que vão investir para ganhar dinheiro, ou seja, as árvores, as sementes. Não é enriquecimento do Estado. Não vão construir infraestrutura, estradas para escoar a produção, escolas, nada disso. O que existe é uma preocupação imediatista e eleitoreira do governo. Aquela velha história: "eu vou ganhar dinheiro hoje e as gerações subseqüentes que se danem". Mas isso nós não podemos aceitar, afinal estamos vinculados à ecologia na pesquisa e as outras gerações têm que sobreviver.
 
Recentemente, a Ufrgs suspendeu um protocolo de cooperação entre a Universidade e a Aracruz Celulose...
Buckup – Suspendeu a tramitação, não está rejeitado, mas suspenso porque o Reitor determinou que, antes de discutir amplamente o tema, dentro da Universidade não se assina convênio nenhum.
 
Como a Universidade pode participar deste debate e quais critérios ela deve usar antes de envolver empresas privadas na pesquisa acadêmica?
Buckup – As empresas estão buscando apoio científico nas universidades. É muito mais fácil e barato uma empresa alcançar um recurso a um pesquisador, que fica feliz com o dinheiro que recebe. Porque se a empresa for contratar o indivíduo, terá que pagar salário, décimo terceiro, férias, previdência, montar laboratório. É mais fácil dar um dinheirinho para comprar um microscópio, uma estufa ou um tubo de ensaio. Aí entra uma questão que tem que ser examinada com cuidado: a Universidade não pode competir com seu próprio graduado, mas sim formar gente que seja contratada pelo empresariado. Sem falar na necessidade de reavaliar o papel da Universidade. Temos um quadro qualificado de pessoas para instrumentar as decisões políticas e públicas que interessem à região ou ao País. Mas se eu começo a trabalhar para as empresas, eu renuncio a este papel e passo a ser uma cópia da sociedade externa. Vou dar um exemplo: a universidade se concentra em prestar consultorias sobre alternativas de produção de concreto protendido em construções de pontes internacionais. Tem um monte de dinheiro para fazer isso, mas será que é prioridade nacional? Ou nós deveríamos pesquisar sobre materiais de construção baratos e acessíveis para a população de baixa renda fazer sua casa? Isso ninguém pesquisa porque não recebe dinheiro. Quando professores servem a Votorantin, estão usando a infraestrutura e os salários que nós estamos pagando. Eles têm que pesquisar para instrumentar o poder público a controlar as atividades das empresas e não estimulá-las a fazer o que estão fazendo. Devemos procurar alternativas tecnológicas que preservem o ambiente e favoreçam atividades na indústria, na agricultura e na administração pública. Isso é ciência e este é o papel da Universidade.
 
A iniciativa do Governo de cancelar o zoneamento tem volta?
Bukup – Administrativamente, não acredito. Na Justiça, sem dúvida. As ONGs estão articuladas e o Governo será acionado. O zoneamento ainda não é um documento acabado, teria que ser aprovado no Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema), mas é uma diretriz, um ordenamento. Sem este controle, vão plantar eucalipto como doidos. Depois de dois anos, quando o zoneamento for aprovado, o texto vai ser um documento fictício. Aí a coisa fica irreversível. Ou você acha que uma empresa vai derrubar as árvores por causa de um documento da Fepam? Vão dar um jeito, através até de medidas judiciais. Por isso é preciso sustar este processo. O diretor do Consema declarou em uma entrevista que o exame do zoneamento é longo porque tem que passar pelas três câmaras setoriais (Biodiversidade, Agronegócio e Recursos Hídricos) e fica 90 dias em cada uma. As audiências públicas só acontecem em junho. Aí já vai um ano, antes de março de 2008 não tem zoneamento. As ONGs querem sustar este processo, aí há a possibilidade de criar um prazo para a aprovação. Vai ser uma queda de braço. O Governo deveria ser mais maiúsculo e não aceitar chantagens das empresas que afirmam deixar o Estado. Deveriam dizer "até logo" e elas não iriam embora porque nenhum outro país as aceita, nem o país de origem. E mentem que chega a dar pena. Dizem que apenas 3% da área do Estado será coberta por eucalipto. O Rio Grande do Sul tem 28 milhões de hectares; a metade sul, 14 milhões. Destes 14 milhões, tire a Lagoa dos Patos, a Mirim, toda faixa arenosa onde não se planta nada e as áreas já utilizadas pela agricultura que somam quatro milhões de hectares. No final, 24% da metade sul do Estado ficará coberta de eucalipto, o que é muita coisa. O impacto sobre recursos hídricos e as demais influências que uma monocultura arbórea geram serão imensos. Não há como plantar eucalipto sem grande quantidade de inseticida e isso vai para o lençol freático. Eu estive na Austrália para estudar o eucalipto no seu ambiente natural. Lá, o eucalipto vive em forma de mata de savana, uma paisagem de campo com arbustos e árvores esparsas que nem sempre tocam suas copas. Na média, são 60 eucaliptos por hectare. Aqui vão plantar 1,7 mil por hectare. Imagina o impacto. Outro exemplo: eles dizem que é possível colher a madeira depois de sete, oito anos. O abate é feito por máquinas que cortam a árvore rente 30 centímetros do solo e fica um toco no chão. Você imagina 1,7 mil tocos de eucalipto no meio do campo? O toco começa a se decompor depois de dez anos. Para arrancar, só com correntes e tratores. E quem paga isso? A Stora Enso não vai pagar e o proprietário da terra não terá dinheiro. No plantio de eucalipto, não se faz o destocamento, planta-se outras mudas entre os tocos. Ou seja, em 14 anos, são 3,4 mil tocos de eucalipto no chão. Aí essas empresas vão embora e nós ficamos aqui com uma miséria representada por 1 milhão de hectares de toco de eucalipto. Nosso solo, sem nutrientes ou água e cheio de veneno. É isso que a Yeda Crusius quer nos dar de presente? Eu não quero, muito obrigado, nem meus filhos, nem meus netos. A última coisa que deveria ser investigada pelos órgãos públicos, até pelo Conselho de Segurança Nacional, é que estas empresas estão comprando terras exatamente sobre o Aqüífero Guarani. Em dez anos, água será mais importante que celulose. Será que queremos comprar água potável destas empresas? Como se pode ver, são muitas lâmpadas vermelhas acesas no painel do cuidado ambiental.
 
Autor: Jornal da Ciência (26 de Junho de 2007)
Disponível em: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=48191


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