Não foi apenas um possível episódio de heat burst que impressionou a população do noroeste do Rio Grande do Sul. Uma fuligem que apareceu sobre automóveis e a vegetação também assustou os moradores de cidades da região. A aparência era de carvão sobre as superfícies, como mostram as fotos de Olavo Ciotti do jornal A Gazeta do Povo de Cândido Godói.
O que poderia ter provocado o acúmulo da fuligem escura sobre carros e vegetação no noroeste do Rio Grande do Sul ? Os meteorologistas da empresa MetSul Meteorologia examinaram uma série de hipóteses e foram eliminando uma a uma. Inicialmente, o Rio Grande do Sul tem precedente de precipitação de cinzas de natureza vulcânica. Em 21 de abril de 1993, diversas cidades do estado registraram a queda de cinzas oriundas do vulcão Lascar no Chile e que foram levadas pelo vento para a Argentina, o Uruguai e o Sul do Brasil. Ocorre que desta vez a equipe da MetSul Meteorologia não localizou notícia alguma de erupção nos Andes nem tampouco as fotos da fuligem encontrada no noroeste do Rio Grande do Sul são semelhantes às cinzas vulcânicas. Uma segunda hipótese seria que a chuva que caiu na região estivesse contaminada por poluição industrial, entretanto a região é agrícola e não existem grandes plantas industriais ou químicas no noroeste gaúcho ou áreas vizinhas que pudessem gerar a fuligem registrada. A hipótese mais plausível encontrada pelos meteorologistas da MetSul foi mesmo a fumaça das queimadas. O número de focos de incêndio bate recordes na América do Sul neste ano, especialmente nos últimos dois meses, a ponto de áreas da Bolívia e do Paraguai terem sido declaradas zonas de desastre. Veja no mapa da NASA a enorme concentração de focos de incêndio na região na semana anterior ao evento no noroeste do Rio Grande do Sul.
A quantidade de fumaça que vem chegando ao Rio Grande do Sul é tão grande que em alguns dias foi possível sentir o odor de queimado no ar com redução da visibilidade. Imagem de satélite de alta resolução do começo de setembro mostrava a fumaça das queimadas na Argentina, Paraguai, Bolívia e o Centro-Oeste do Brasil ingressando pelo Rio Grande do Sul a partir justamente do oeste e do noroeste do estado (clique para ampliar).
De acordo com o meteorologista Luiz Fernando Nachtigall, o noroeste do Rio Grande do Sul esteve nos últimos dias sob influência direta de correntes de vento do quadrante norte que transportam o ar mais quente de origem tropical para o estado. O ar mais quente que chega ao Rio Grande do Sul passa justamente pelas áreas mais afetadas por queimadas como o norte da Argentina, Paraguai, Bolívia e o Centro-Oeste do Brasil. A MetSul Meteorologia, assim, não afasta a possibilidade de que a enorme concentração de partículas associadas à fumaça densa na região possa ter interagido com as nuvens que se desenvolveram na região, dando origem à precipitação de chuva com fuligem. Nesse sentido, não houve relatos pela população local de precipitação exceto de chuva. Logo, é provável que as partículas tenham se precipitado juntamente com as gotículas de chuva e que a fuligem tenha somente se tornado mais visível quando a água secou e a "sujeira" permaneceu sobre as superfícies. A MetSul, entretanto, pondera a importância de análises químicas da fuligem semelhante a carvão que foi encontrada na região para se precisar com exatidão o que realmente ocorreu. Meteorologistas do SIPAM, em Porto Velho, Rondônia, consultados pela MetSul, disseram que não há precedentes na região - uma das mais afetadas pelas queimadas no continente - de precipitação com fuligem. Segundo os especialistas do centro de referência meteorológica da região amazônica, em alguns casos o vento transporta restos da vegetação da queimada, mas não há relatos de chuva com resíduos das queimadas. O que torna ainda mais intrigante o episódio no noroeste gaúcho.
Autor: Alexandre Amaral de Aguiar - Metsul
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