sábado, 29 de novembro de 2008

Águia símbolo dos EUA sofre contaminação por mercúrio

Menos de dois anos após a águia-careca ter sido removida da lista do governo federal de espécies em risco, uma organização ambiental em Maine encontrou um acúmulo de mercúrio alarmante no sangue e penas de filhotes de águia-careca na região do parque Catskill de Nova York.
 
     Os níveis se aproximam dos associados a problemas reprodutivos em mobelhas comuns e águias-carecas em outras partes do nordeste americano, embora as populações de águias-carecas de Nova York e do país tenham crescido fortemente nos anos recentes.
     O estudo foi divulgado na terça-feira pelo Instituto de Pesquisa BioDiversity, uma organização ecológica sem fins lucrativos de Gorham, Maine. O nível médio de mercúrio nos filhotes que residem dentro dos limites do parque era de 0,64 partes para um milhão.
     O mesmo estudo mostrou que cerca de um quarto das penas das aves adultas também tinha níveis elevados de mercúrio, sugerindo que as toxinas se acumulam em aves de rapina com maior rapidez do que sua capacidade de eliminação.
 

A águia-careca é um dos o símbolos dos Estados Unidos (foto: Getty Images)

 
     David C. Evers, diretor do instituto e co-autor do estudo com Chris DeSorbo, disse que não haviam sido conduzidas pesquisas suficientes para dizer com certeza qual efeito os níveis elevados de mercúrio poderiam ter em águias.
     Ele reconheceu que o enorme crescimento no número de águias-carecas desde a proibição do DDT em 1972 sugeria que o mercúrio não estava prejudicando as taxas de reprodução. Mas ele disse que os números populacionais gerais poderiam estar mascarando um crescimento mais lento em regiões onde a contaminação de mercúrio é mais alta.
     Peter E. Nye, que há três décadas administra o programa de restauração da águia-careca do departamento de conservação ambiental do Estado de Nova York, trabalhou com Evers no estudo de mercúrio.
     Ele disse que a contaminação de mercúrio era uma preocupação, mas que ele "não estava pronto para ligar a sirene e uivar."
     Na verdade, ele disse, os 145 casais de águias residentes no Estado produziram 188 filhotes no ano passado, um aumento de 23% em relação ao ano anterior.
 

Menos de dois anos após a águia-careca ter sido removida da lista de espécies em risco, uma organização ambiental encontrou um acúmulo de mercúrio alarmante no sangue e penas de filhotes (foto: The New York Times)

 
     Nova York testemunhou o crescimento da população de águias, que subiu de um casal nos anos 1970 para 145 casais neste ano. Mas a ave ainda está na lista de risco do Estado.
     Evers disse que embora a ameaça de mercúrio certamente não fosse nenhum desastre, havia motivo para preocupação. "Se o mercúrio reduzir mesmo as habilidades reprodutivas das águias-carecas," ele disse, "isso provavelmente reduzirá sua sobrevivência com o passar do tempo."
     Ainda pode haver outra razão para preocupação. Lynda White, coordenadora da observação de águias do Centro Audubon para Aves de Rapina de Mailand, Flórida, que monitora ninhos ativos de águias, disse que devido à grande sensibilidade das águias à contaminação - que se evidencia pela sua ligação trágica ao DDT - elas são bons indicadores da saúde ambiental.
     "Se o mercúrio as afeta, ele poderá no futuro nos afetar também," White disse.
Filhotes de águia em outros locais de Nova York também tiveram seus níveis de mercúrio testados. Mas eles não estavam tão altos quanto os das aves nas montanhas Catskill, que abriga diversos reservatórios imensos de água potável da cidade de Nova York - a 77 km de distância.
 

O nível médio de mercúrio nos filhotes que residem dentro dos limites do parque era de 0,64 partes para um milhão (foto: The New York Times)
 
     A água da cidade é testada regularmente e até agora o mercúrio não apresenta nenhuma ameaça conhecida às pessoas que consomem a água, segundo oficiais da cidade.
     No entanto, o mercúrio penetra em minhocas e organismos comidos por peixes que vivem nos riachos, lagos e reservatórios, e estes são consumidos pelas águias (e às vezes por pessoas, embora Nova York tenha lançado alertas limitando a quantidade de peixe dos lagos e rios estaduais que podem ser consumidos com segurança).
     A região de Catskill recebe uma das mais severas contaminações de mercúrio dos EUA, em grande parte por causa dos padrões de ventos permanentes que regularmente carregam emissões de chaminés do Meio-Oeste.
     O Nature Conservancy, que já atuou nas montanhas Catskill, financiou esse estudo bem como trabalhos anteriores sobre contaminação de mercúrio na região.
     O mercúrio vem de diversas fontes, mas primariamente da queima de carvão em usinas. O mercúrio ocorre naturalmente em carvão e sobe pelas chaminés no momento da queima.
 

Segundo pesquisadores, por terem grande sensibilidade à contaminação, às águias são bons indicadores da saúde ambiental  (foto: The New York Times)

 
     Correntes de vento sopram o mercúrio em direção ao leste, onde ele acaba caindo em lagos, rios e riachos, formando o metil-mercúrio, que pode causar distúrbios neurológicos em animais e humanos.
     Na maior parte do ano, as águias-carecas se alimentam de trutas e outros peixes locais de água doce, que podem ser contaminados com o metil-mercúrio. Águias adultas alimentam suas crias com peixe.
     Estudos de mobelhas normais mostraram como o mercúrio afeta seu comportamento. As mobelhas se tornam letárgicas, o que pode afetar sua habilidade de reunir alimento ou permanecer no ninho tempo suficiente para chocar os ovos. As taxas de reprodução nas mobelhas contaminadas com mercúrio podem cair até 40%, segundo Evers.
     Um estudo de 2007 do Instituto de Pesquisa BioDiversity sobre níveis de mercúrio nas águias-carecas de Maine mostrou que havia uma correlação "significativamente negativa" entre as taxas de reprodução e os níveis de mercúrio no sangue, embora a porcentagem exata da diminuição ainda não tenha sido determinada.
     Outros cientistas encontraram mercúrio em populações de águias-carecas da Carolina do Sul, Flórida e Michigan, embora nem todos os níveis tenham sido considerados de risco. Esforços federais para controlar as emissões de mercúrio foram criticados por não serem rigorosos o suficiente para remediar o problema de contaminação local.
     Nye, do departamento de conservação de Nova York, disse que o estudo poderia se mostrar útil no futuro. "Embora o estudo atual não aponte qualquer preocupação imediata ou crítica, ele fornece informações de partida excelentes sobre a contaminação de mercúrio para referência futura, caso constatemos o aparecimento de problemas reprodutivos em qualquer uma de nossas águias."
 

Cerca de um quarto das penas das aves adultas tem níveis elevados de mercúrio (foto: The New York Times)

 
Autor: Anthony DePalma (tradução: Amy Traduções) The New York Times - Terra Notícias
Postado por Wilson Junior Weschenfelder


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