terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Às vésperas do Apocalipse?

     Armagedon, segundo o Livro do Apocalipse, é o mítico vale no qual acontecerá o enfrentamento final entre Deus e os espíritos malignos. Estamos caminhando para o Armagedon? Os sombrios cenários atuais fazem com que biólogos, bioantropólogos e astrofísicos avaliem a possibilidade de extinção da espécie homo sapiens demens, ainda neste século. Apresentam argumentos que merecem ser ponderados. O mais forte parece ser o da superpopulação, articulada com a dificuldade de adaptação às mudanças climáticas.
     Na escala biológica verifica-se um crescimento exponencial. A humanidade precisou de um milhão de anos para atingir, em 1850, uma população de um bilhão de pessoas. Os espaços temporais entre os índices do crescimento populacional diminuem cada vez mais, e se prevê que até 2050 haverá dez milhões de humanos. É um triunfo da espécie ou um prejuízo para toda a humanidade? A bióloga Lynn Margulis e seu filho, o escritor científico Dorion Sagan, afirmam em seu livro Microcosmos que um dos sinais do colapso que afetará a espécie é sua rápida superpopulação, com base em dados dos registros fósseis e da própria biologia evolutiva.
 
Microcosmos da bióloga Lynn Margulis e do seu filho Dorion Sagan
 
     Isto pode ser comprovado colocando-se colônias de bactérias e nutrientes na cápsula de Petri. Pouco antes de chegarem à beirada da placa cilíndrica, e antes de esgotarem os nutrientes, os microorganismos se multiplicam de maneira exponencial. E, repentinamente, morrem. Para a humanidade – comentam os autores – a Terra pode assemelhar-se a uma cápsula de Petri. De fato, ocupamos quase toda a superfície terrestre e deixamos livres apenas 17%: desertos, floresta amazônica e regiões polares. Estamos chegando à borda física do planeta. É um sinal precursor de nossa próxima extinção?
     O prêmio Nobel de Medicina em 1974, Christian de Duve, afirma em seu livro Vital Dust que estão sendo verificados sintomas que no passado precederam grandes extermínios. A cada ano desaparecem 300 espécies vivas porque chegam ao seu clímax evolutivo. Devido à pressão industrial global sobre a biosfera, o total de desaparecimento de espécies está chegando a 3,5 mil por ano. Esta destruição progressiva não ameaça também a nossa espécie? O falecido astrônomo Carl Sagan via, na tentativa humana de explorar a Lua e enviar sondas espaciais para fora do sistema solar, uma manifestação do inconsciente coletivo que pressente o risco de uma extinção próxima.
     A vontade de viver nos induz a imaginar formas de sobrevivência além da Terra. O astrofísico Stephen Hawking concebe a possibilidade de uma colonização extra-solar com uma espécie de veleiros espaciais impulsionados por raios laser. Contudo, para chegar a outros sistemas planetários, teríamos de percorrer bilhões e bilhões de quilômetros, faltariam séculos. O que pensa a teologia cristã deste eventual desaparecimento da espécie humana? Se o ser humano frustrar sua aventura planetária, significará, sem dúvida alguma, uma tragédia inominável.
      No entanto, não seria uma tragédia absoluta. Quando o Filho de Deus assumiu nossa humanidade, foi ameaçado de morte por Herodes. Durante sua vida foi rechaçado, preso, torturado e, finalmente, assassinado na cruz. Somente então se formalizou o pecado original, que é um processo histórico de negação da vida. Maior perversidade do que matar uma criatura, tirar-lhe a vida, é matar o Autor da vida, o Deus encarnado. Porém, os cristãos testemunham que a última palavra não é a morte, mas a resolução, que não é a reanimação de um cadáver. É a plena realização das potencialidades do ser humano, uma verdadeira revolução dentro da evolução.
     Talvez aconteça um salto na direção anunciada por Pierre Teillhard de Cardin, em 1933: uma irrupção da noosfera, isto é, daquele estado de consciência e de relação com a natureza que inaugurará uma nova convergência de mentes e corações e daí a uma nova era da condição humana. Nesta perspectiva, o cenário atual não seria de tragédia, mas de crise. A crise é purificação e maturidade. Prenuncia um novo início, a dor de um parto promissor e não as penas do naufrágio da aventura humana. O que pode acabar não é a vida humana, mas esta vida humana insensata que ama a guerra e a destruição em massa.
     Temos que inaugurar um mundo humano que respeite a vida, dessacralize a violência, que seja pródigo em amor e cuidado a todos os seres, que pratique a justiça verdadeira, que venere o mistério do mundo ao qual chamamos fonte originária ou Deus. Ou, simplesmente, que aprendamos a tratar humanamente todos os seres humanos e com compaixão e respeito toda a criação. Tudo o que existe merece existir. Tudo o que vive merece viver. Especialmente o ser humano.
 
Autor: Leonardo Boff - Portal do Meio Ambiente


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