sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Construções que separam matas de rios podem explicar sumiço de sapos

Pesquisadores brasileiros tentam entender declínio mundial da espécie.
Segundo eles, filhotes podem morrer porque não encontram a floresta.

 
     O mistério do desaparecimento mundial das espécies de sapos pode ser explicado pela pura falta de bom senso humano. Pesquisadores brasileiros afirmam que a separação de florestas e rios pela infraestrutura humana está por trás do declínio desses anfíbios. Os resultados foram apresentados nesta semana na revista "Science".
     Não importa a quantidade de mata nativa preservada em uma propriedade, sempre que alguém constrói alguma coisa -- seja uma casa, um pasto ou uma cidade -- na beira de um rio, afeta diretamente a sobrevivência dos sapos, que vivem tanto na terra quanto na água.
     Esse tipo de divisão do ambiente onde vive uma espécie foi batizada pelos pesquisadores de "desconexão de habitat" e pode explicar algo investigado pela ciência há muito tempo: por que os anfíbios estão desaparecendo.
Segundo o pesquisador Carlos Roberto Fonseca, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul, a desconexão de habitat é prática comum. "Mesmo o proprietário que cumpre a lei e deixa uma porcentagem da mata preservada em suas terras, em muitos casos, ele deixa a floresta em áreas isoladas, como topos de morros. E vai colocar sua casa, o pasto, tudo em volta de um riozinho", afirmou ele ao G1.
 
Foto
Sapos de floresta precisam dos rios para se reproduzirem (Foto: Divulgação)
 
     Os sapos vivem bem na floresta, mas se reproduzem na água. Quando seu habitat é dividido, portanto, eles precisam atravessar toda uma série de obstáculos, às vezes, até estradas de grande porte. A situação é pior quando o caminho é inverso e os filhotes, recém saídos da fase de girino, precisam encontrar sozinhos o caminho de casa.
 
Foto
Sapos do mundo estão desaparecendo (Foto: Divulgação )
 
     "Eles precisam achar a floresta, mas nunca viram uma floresta antes. O seu 'manual de instruções' genético diz 'então, você sai da água e vive, come, dorme na floresta'. Mas onde ela está?", explica Fonseca. Na busca pelo local onde vão viver, os sapinhos geralmente acabam morrendo, por acidentes, por predadores, por exposição excessiva ao sol ou pura e simplesmente por fome.
Pelo Código Florestal Brasileiro, uma faixa em torno dos rios precisa ser preservada –- o quanto depende do tamanho do rio. Mas não são todos que cumprem a legislação. Os cientistas pedem que a lei seja respeitada e que novas unidades de conservação levem em conta a preservação da espécie e não separem mata e rio.
     Com isso, Fonseca explica, os benefícios devem ir muito além da preservação dos sapos. "Mata nativa ao redor do rio o deixa limpo. Rio limpo é água limpa, boa para o consumo."
     O trabalho envolveu pesquisadores de quatro universidades brasileiras -- além da Unisinos, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade de São Paulo (USP) -– e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas.
Autora: Marília Juste do G1 São Paulo


Abra sua conta no Yahoo! Mail, o único sem limite de espaço para armazenamento!

Nenhum comentário: