Cientistas no Pólo Norte pousaram de avião em um enorme iceberg do tamanho da ilha de Manhattan para realizar uma série de análises relacionadas a estudos sobre o efeito do aquecimento global na região do Ártico.
O bloco de gelo tem 16 km de comprimento, cinco quilômetros de largura e chama-se Ilha de Gelo Ayles.
Os pesquisadores chegaram à ilha flutuante com uma equipe da BBC e fincaram uma baliza de rastreamento em sua superfície. Segundo os cientistas, essa é a primeira expedição desse tipo.
Isto vai permitir o monitoramento da ilha enquanto as correntes marítimas empurram o bloco pelo Oceano Ártico. A ilha de gelo se soltou da costa ártica do Canadá em 2005, mas foi identificada apenas recentemente.
Durante 3 mil anos este bloco de gelo colossal estava seguro, fixo na costa norte canadense como parte da Plataforma de Gelo Ayles - mas agora o bloco se soltou.
Atualmente o bloco está a cerca de 600 km do Pólo Norte, uma das regiões cuja temperatura sobe mais rapidamente na Terra. A equipe de pesquisadores, junto com a equipe da BBC, se aproximou da ilha de gelo em um pequeno avião.
Derek Mueller, da Universidade Fairbanks do Alasca, escavou uma camada de neve da superfície para alcançar a camada de gelo logo abaixo. Mueller e Luke Copland, da Universidade de Ottawa, mediram o bloco, usando um radar capaz de penetrar no chão.
Eles descobriram que a média de espessura do gelo variava entre 42 m e 45 m, o equivalente a um prédio de dez andares e um pouco mais espesso do que o esperado.
Uma implicação pode ser que a ilha seja mais duradoura do que o esperado - estima-se que o peso total do gelo chegue a 2 bilhões de toneladas e isto levaria mais tempo para derreter do que o estimado inicialmente.
Mas, segundo Copland, o fato de que um bloco de gelo tão espesso possa ter se soltado da costa em menos de uma hora - como aconteceu em agosto de 2005 - ilustra um problema alarmante. "Isto mostra como a mudança climática pode desencadear mudanças repentinas mesmo em grande escala - quando o bloco de gelo se soltou, a força da ruptura registrada foi a de um pequeno terremoto", disse.
Os registros mostram que esta região do Pólo Norte - a costa norte da Ilha Ellesmere - perdeu 90% de suas plataformas de gelo no último século.
A maioria destas perdas ocorreu no período mais quente da década de 40. Nos períodos mais frios das décadas seguintes parte das plataformas de gelo mostrou sinal de estar se reformando.
"A diferença agora é que com a atual taxa de aumento de temperatura, estas plataformas de gelo provavelmente nunca serão reconstituídas", disse Mueller.
Cientistas especialistas em clima prevêem que o Pólo Norte vai continuar esquentando - e a expectativa é de que as cinco plataformas de gelo restantes também se soltem.
Antes de deixar a ilha de gelo, os cientistas instalaram um dispositivo de localização via satélite, pois o bloco continua se deslocando para oeste e pode ameaçar plataformas de petróleo e usinas de gás na costa do Alasca.
David Shukman - BBC Brasil
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